Coveiro de São João Batista deixa a profissão após quase 20 anos de dedicação

Abelardo Policarpo da Silva guarda lembranças dos anos em que trabalhou no cemitério municipal

Coveiro de São João Batista deixa a profissão após quase 20 anos de dedicação

Abelardo Policarpo da Silva guarda lembranças dos anos em que trabalhou no cemitério municipal

Após 18 anos, o aposentado Abelardo Policarpo da Silva, 75 anos, deixa de exercer a profissão de coveiro no Cemitério Municipal de São João Batista. Em outubro do ano passado, ele foi afastado do cargo, e em 14 de dezembro sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), obrigando-o a permanecer em casa.

Entretanto, a paixão pela profissão faz com que o vizinho do cemitério observe o local todos os dias da janela de casa. Silva orgulha-se de ter ajudado tantas famílias nos momentos mais dolorosos.

Por dez anos, o coveiro recebeu o auxílio do filho Miramar da Silva, 40. Juntos, pai e filho mantinham o cemitério limpo. Aberlado também permanecia em regime de plantão nos fins de semana, feriados e durante a noite. Os buracos de 1,20 metro de profundidade por 2,30 metros de comprimento eram feitos pelos dois. “Nunca trabalhei por obrigação. Para mim era uma alegria exercer a minha profissão”, conta.

Aberlado lembra de diversas situações em que foi acordado durante a madrugada para ajudar a abrir um túmulo para o sepultamento do dia seguinte. Ou das vezes em que largou o prato de comida na hora do almoço ao ser chamado para um trabalho.

Além de ter a função no cemitério, o coveiro também era chamado para auxiliar nos sepultamentos nas comunidades. “Nesses casos eu saía de casa só depois das 16h, porque se alguém morresse depois desse horário só seria sepultado no dia seguinte”, comenta.

O aposentado conhece cada corredor do cemitério e sabe quantas pessoas têm em cada sepultura. Durante os anos de trabalho no local, o coveiro precisou enterrar os pais, irmãos, parentes e o irmão da esposa.

Porém, o que mais o marcou foi o enterro do grande amigo e ex-prefeito Celso Narciso Cim, falecido em março de 2018. “Ajudei a enterrar muitas pessoas importantes para a cidade, como padres, policiais e autoridades”, lembra.

Miriany Farias

Vandalismo
Por morar ao lado do cemitério, Aberlado presenciou muitas cenas de vandalismo nos túmulos. Ele conta que especialmente nos fins de semana o lugar é frequentado por usuários de drogas.

Para dispersar os frequentadores, o coveiro usava um estilingue. “Às vezes funcionava e eles iam embora. Mas, muitas vezes, no dia seguinte que o prejuízo era contabilizado”, lamenta.

Histórias divertidas
Foi por meio da profissão que Abelardo presenciou diversas histórias das mais tristes às mais engraçadas. Ele lembra de um caso em que um bêbado saiu de um bar da cidade dizendo que iria no cemitério falar com a mãe. Os amigos, para sacanearem, correram na frente, e com um lençol branco, um deles o respondeu quando pediu para ouvir a falecida mãe. “Ele saiu numa disparada de dentro do cemitério”, diz.

Outra situação foi provocada pelo próprio coveiro. Uma moça foi limpar o túmulo depois do horário de trabalho e já escurecia. Aberlado se aproximou e ela pediu uma enxada emprestada. “Eu continuei andando e disse: ‘ah minha filha, seu Abelardo não tem. Quando eu estava vivo até tinha’. E continuei andando entre os túmulos sem olhar para trás”, conta.

A reação da mulher foi sair correndo do local. Ao contar para os familiares, chegaram a procurar por ela para desmentir, mas não a encontraram mais.

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