Covid-19: entidades médicas de Brusque destacam importância de autonomia no uso da cloroquina
Presidentes da ABM e da regional do Simesc ressaltam situação sem precedentes na história recente
Presidentes da ABM e da regional do Simesc ressaltam situação sem precedentes na história recente
Desde a última semana, a cloroquina e a hidroxicloroquina passaram a ser usadas em Brusque no tratamento de pessoas com Covid-19 que estão em grupos de risco, apesar de não haver nenhuma comprovação científica de sua eficácia. Esta foi a alternativa encontrada pelas autoridades de saúde da prefeitura para tentar conter o aumento do número de mortes pela doença.
Presidente da Associação Brusquense de Medicina (ABM), Frederico Guimarães Marchisotti afirma que a AMB segue o posicionamento da Associação Médica Brasileira (AMB) em relação ao uso dessa medicação. Como não existe evidência científica comprovada da eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina, cabe ao médico e ao paciente decidirem sobre o uso desses medicamentos no tratamento.
“Diante dessa situação e tratando-se de uma pandemia, sem precedentes na história mais moderna, a gente considera que fica a critério do médico. Como estamos no momento mais crítico para nossa região, talvez nós estejamos no pico, é uma forma que foi definida para reduzir essa progressão dos casos”.
Por causa deste panorama, Marchisotti afirma que não há como contestar a decisão da Secretaria de Saúde para a mudança do protocolo de tratamento.
“É uma medida que não há de ser contestada, é uma tentativa. O secretário de Saúde também deixou claro que os médicos que não quiserem participar desse protocolo não precisam participar e não serão reprimidos”.
O presidente da regional de Brusque do Sindicato dos Médicos do Estado Santa Catarina (Simesc), Humberto Teruo Eto, entende que a Covid-19 é uma situação especial, mas ressalta a importância da preservação da autonomia do médico.
“Tudo está bem complexo, a pandemia colocou em xeque várias coisas, a saúde, a economia, e isso tem mexido muito com as pessoas. Mas o médico e o paciente têm que ter autonomia, por ser um tratamento off-label, que ainda não tem uma sedimentação na questão dos resultados, tem que ser bem colocado para os pacientes que o tratamento pode não ter o resultado que se espera”.
A possibilidade de realocação de profissionais que não se sentirem seguros para aplicar a cloroquina foi anunciada pelo secretário Humberto Fornari. Teruo Eto afirma que conversou com o secretário após as declarações de Fornari de que o médico poderia “pedir para sair” caso não quisesse colocar o protocolo em prática para que a situação fosse esclarecidas.
“O próprio Fornari esteve nessa situação há 15 dias, então ele voltou com a corda toda, cheio de energia e disposto a acabar com a Covid-19 de qualquer maneira. Então acho que foi isso que aconteceu com ele”, brincou.
“Ele foi um pouco infeliz na maneira que ele colocou a situação, mas a gente conversou e ele me colocou que os pacientes procuravam o protocolo, e alguns médicos não se sentiam bem em utilizar. Então ele colocou que, se os médicos poderiam ter um remanejamento. Mas, sem dúvida nenhuma, acreditamos que o médico não pode ser cerceado em sua autonomia de escolher o melhor tratamento”.
Para o presidente da ABM, a autonomia médica e do paciente será respeitada. Marchisotti acredita que a maioria dos médicos estará disposta a usar a medicação definida pelo novo protocolo.
“A forma como foi colocado não foi muito feliz, mas ele já explicou melhor o que ele quis dizer. Não é “pedir para sair”, é no sentido de que, quem não estiver confortável em usar, é um direito do médico, assim como é do paciente. Eles têm autonomia. Teve um certo mal-estar inicial, mas ele esclareceu. Eu acho, sinceramente, que a grande maioria dos médicos vai querer usar a medicação, então acho que isso não vai ser um problema”.