Covid-19: saiba como é a rotina da fiscalização em Brusque
Reportagem acompanhou trabalho dos fiscais em dois períodos durante a última semana
Reportagem acompanhou trabalho dos fiscais em dois períodos durante a última semana
Todos os dias uma equipe de mais de 40 pessoas é mobilizada para fiscalizar o cumprimento das medidas de combate à Covid-19 nas empresas e estabelecimentos de Brusque. O trabalho é dividido em dois turnos, sendo o primeiro das 8h às 17h e outro das 15h às 0h. Cada turno tem cinco equipes, direcionadas para cinco regiões do município e responsáveis por fiscalizar os estabelecimentos dos bairros. Para entender melhor essa rotina, a reportagem acompanhou o trabalho das equipes em dois turnos distintos.
A rotina dos dois turnos é bastante diferente. Durante o dia algumas equipes ficam em mercados mais movimentados e outras fazem rondas para visitar empresas e atender denúncias repassadas pela central. À noite, o trabalho é voltado para averiguação de denúncias de aglomeração de pessoas e de descumprimento em estabelecimentos.
Patricia Sophiatti, coordenadora da fiscalização, explica que os fiscais sempre tem em mãos o decreto com as permissões e restrições. Toda vez que novas medidas são anunciadas, no dia seguinte antes de iniciar o trabalho é feita uma reunião com as equipes para tirar dúvidas. A missão deles é orientar a população para que as medidas de combate ao coronavírus sejam respeitadas. “É um trabalho de formiguinha”, diz a coordenadora.
Como o trabalho é de porta em porta e exige um contato direto com a população, que muitas vezes não reage bem, Patricia faz um rodízio entre os grupos e as regiões da cidade, para que ninguém fique “marcado”.
Na segunda-feira, 31 de agosto, a reportagem acompanhou uma equipe de quatro fiscais: Tiago Souza, Dienifer Daiana Nascimento, Geovane da Silva e Neuza Stefainski. Naquela tarde, eles foram direcionados para o bairro Steffen, onde estava o ônibus para testagem da Covid-19, para orientar a população no local.
Com o movimento tranquilo, Souza e Silva foram vistoriar empresas no bairro São Pedro. Em uma delas, os responsáveis por acompanhar a fiscalização estavam ocupados e não puderam atender, então uma visita foi agendada para o dia seguinte. Souza afirma que esta foi a primeira vez que isso ocorreu.
Na tentativa seguinte, em outra empresa ainda no mesmo bairro, os fiscais tiveram sucesso. Passado o álcool em gel e medida a temperatura, a vistoria foi iniciada. Um funcionário da empresa acompanha a fiscalização, que passa por diversos setores para averiguar distanciamento, uso de máscara, disponibilização de álcool em gel e outros pontos do decreto. Locais de uso compartilhado, como refeitório e banheiros também são fiscalizados.
Além disso, a equipe pergunta quantos funcionários foram afastados por suspeita ou contaminação. Todas as informações sobre a empresa são anotadas pelos fiscais.
A empresa visitada cumpria todas as normas sanitárias. Mesmo assim os fiscais orientaram e entregaram cartazes com informações sobre o coronavírus. Quando a empresa não segue todas as regras, os fiscais dão um prazo para a regularização. Se não cumprido, a Vigilância Sanitária notifica o estabelecimento.
Nessa rotina, cerca de 12 empresas e estabelecimentos são fiscalizados por dia. O número não é fixo e varia dependendo do dia.
Os quatro fiscais relatam que um dos problemas enfrentados durante o trabalho é a resistência da população em seguir as normas, principalmente ao uso de máscara. É comum as pessoas colocarem a máscara quando os veem e em seguida tirarem novamente. “Parece que a gente é o vírus”, compara Dienifer.
A equipe conta que, quando abordadas, as pessoas dizem “tirei rapidinho”, “abaixei um pouquinho para respirar”, “acabei de tirar”, entre outras. “Sempre tem uma desculpa”, diz Souza. “Estão confiando na própria sorte”, completa Neuza.
A equipe também diz que muitas pessoas abordadas, seja em empresas ou estabelecimentos, alegam que o coronavírus é politicagem, invenção ou que “não é nada” porque conhecem pessoas que se contaminaram e estão bem.
Dienifer e Neuza relatam que sempre abordam com educação, sem brigar com o abordado. Quando a pessoa se exalta, os fiscais são orientados a recuar.
Outro ponto que surpreende os fiscais é quantidade de crianças e idosos em supermercados. Mesmo com a orientação para que somente uma pessoa vá às compras, o que Dienifer repara é que a família toda vai, como se fosse uma atividade de lazer.
Souza comenta que a fiscalização nos bairros é importante porque muitos estabelecimentos são pegos de surpresa, porque não esperam que eles passem por lá. Em uma confecção no Cedro Alto eles flagraram cerca de sete pessoas trabalhando sem máscara.
O fiscal Rodrigo Alexandre Dutra, que trabalha no segundo período, conta que durante o dia o trabalho é voltado aos estabelecimentos. À noite o foco é mais em bares, clubes e canchas. Ele relata que a resistência também é o principal problema, assim como a desinformação.
Dutra comenta ninguém gosta de ser fiscalizado e até já foi em ocorrências nas quais as pessoas foram agressivas, mas que no geral a equipe é bem recebida, principalmente no comércio.
Apesar das dificuldades, a ação traz bons resultados. “Aqui está sendo feito um trabalho legal”, avalia Silva. Ele diz que muitos proprietários de estabelecimentos agradecem a presença dos fiscais porque os clientes costumam obedecer mais às regras.
Nesta sexta-feira, 4, a reportagem acompanhou uma equipe de fiscalização formada pelo diretor-geral da Secretaria de Saúde, Rodrigo Cesari, a coordenadora da fiscalização, Patricia Sophiatti, o diretor da Defesa Civil, André Archer, e dois guardas de trânsito. A GTB atua com a fiscalização conforme solicitada. Geralmente o apoio é prestado no fim de semana.
O ritmo à noite é bastante diferente. Os fiscais verificam as denúncias conforme elas são repassadas pela central. Durante o período em que a reportagem esteve com a equipe, foram verificadas denúncias em bares, lanchonetes, tabacarias e postos de combustíveis. No entanto, em nenhuma delas, a denúncia procedia.
Cesari explica que muitas vezes ocorre de as pessoas denunciarem por avistarem muitos carros próximos ao estabelecimento, o que nem sempre indica aglomeração.
Durante a ronda, os fiscais ainda passam por praças para verificar se há aglomeração no local e vistoriam locais onde já flagraram situações de descumprimento.
As sextas-feiras costumam ser mais tranquilas, assim como os domingos. Os sábados são mais agitados, há mais denúncias e o trabalho é mais intenso. Durante a semana, à noite, há denúncias de consumo de bebidas alcoólicas em postos de combustíveis e arredores, e até mesmo de aglomerações para assistir jogos de futebol.
Quando a fiscalização chega no local, um dos fiscais pede para falar com o proprietário e orienta sobre as normas sanitárias. À noite, em festas particulares por exemplo, se houver resistência, a Polícia Militar é acionada.
No caso de estabelecimentos, os responsáveis são orientados e no mesmo dia precisam regularizar a situação. Se o proprietário não acatar as recomendações, é notificado. Em últimos casos, o estabelecimento é interditado pela Vigilância Sanitária.
Cesari explica que a equipe atende todas as denúncias feitas por meio do telefone disponibilizado, tanto durante o dia quanto à noite. Nos dois turnos há uma pessoa que trabalha na filtragem das denúncias e é responsável por repassá-las aos fiscais.
Ele avalia que a fiscalização tem um resultado bastante positivo. O serviço foi implantado porque durante o debate sobre as regras de flexibilização surgiu a discussão de que a população não iria cumprir. “É para aprender a conviver com a situação e fazer com que a economia flua, mas evitar a propagação do vírus”.
A coordenadora de fiscalização, Patricia, diz que o trabalho tem sido desafiador porque é um setor totalmente novo, mas que tem sido eficaz. A equipe foi acolhida pela Defesa Civil, que cedeu uma sala para reuniões e monitoramento. Os bons resultados também são atribuídos pela ajuda da Guarda de Trânsito de Brusque (GTB) e da Polícia Militar.
Denúncias sobre aglomerações, festas, estabelecimentos comerciais que não estão cumprindo as regras do decreto municipal e ainda, pessoas com diagnósticos positivos para a Covid-19 que não estão em isolamento podem ser feitas pelo WhatsApp (47) 9 8812 0677.