Covid-19: sem eventos, músicos da região buscam alternativas para ampliar renda
Setor artístico é um dos mais impactados pela pandemia
Setor artístico é um dos mais impactados pela pandemia
Um dos setores mais impactados pela pandemia da Covid-19 é o do entretenimento. Desde o dia 18 de março, eventos como shows, peças de teatro e todo tipo de apresentações estão proibidas no estado.
Com isso, toda a classe artística ficou sem fonte de renda e enfrenta dificuldades, já que quase seis meses depois, ainda não há uma perspectiva para o retorno às atividades.
O problema, entretanto, não é exclusivo dos músicos, atores e atrizes. Aqueles que trabalham nos bastidores dos shows, das peças teatrais, como técnicos de som, produtores, entre outros, também foram diretamente impactados pela pandemia.
Durante estes meses parados, a classe artística precisou se reinventar. Alguns montaram cursos online e outros se apresentaram em lives para se manterem na ativa e ter alguma fonte de renda durante este momento difícil.
Alex Sandro Cezar, 33 anos, conheceu a música em 1999 na banda marcial do Colégio São Luiz. Desde então, fez disso sua profissão. Formado no Conservatório de Música de Itajaí, tem no currículo passagens por orquestras, bandas sinfônicas e marciais e também em bandas de baile, como a Hipnose e Celebration. Atualmente, faz parte da banda Sunset e há nove anos tem uma escola de música em Guabiruba.
Toda sua renda vem da música e com a pandemia, foi preciso buscar outras alternativas. “Não está sendo fácil. Tive que me adaptar, buscar outros recursos”, diz.
As aulas na escola de música foram suspensas e Alex partiu para as aulas particulares, porém, nem todos os alunos conseguiram manter as aulas. Com o faturamento da escola bem abaixo do normal e sem a renda dos shows com as bandas, Alex buscou outra saída.
“Encontrei uma fonte de renda com uma amiga minha. Ela faz entregas e eu consegui fazer algumas entregas na região para poder substituir essa renda que eu não tinha mais. Eu tinha uma renda muito boa com a música. Atualmente, toco em três bandas: Sunset, Debrassi e Scala e isso tudo foi caindo”.
Antes da pandemia, além do trabalho com as bandas em casas de eventos em Brusque e região, Alex tocava em barzinhos, casamentos e outros tipos de cerimônias. “Tinha a agenda cheia de casamentos. Estou me virando como posso, fazendo vídeos para alunos, vendendo material assim. Minha vida foi construída com o dinheiro da música”.
Apesar das dificuldades, Alex ainda está mantendo a escola de música em Guabiruba, porém, com uma despesa fixa de R$ 2 mil, não tem certeza até quando conseguirá. “Estou com alguns alugueis atrasados. Estou recebendo os R$ 600 do governo como pessoa física e isso tem ajudado também. Vou lutar para conseguir manter a escola em Guabiruba. É um momento bem difícil, mas tenho fé e esperança”.
Gui Cañellas, 33 anos, trabalha com música desde os 16 anos. Antes da pandemia, tinha uma agenda intensa com festas particulares, shows culturais, apresentações em pubs, casas noturnas e outros eventos.
Com os eventos paralisados, viu seu orçamento cair pela metade nos últimos seis meses. A situação não é mais difícil porque além de atuar como cantor, ele trabalha durante o dia em uma loja de instrumentos musicais, o que tem segurado as pontas.
O músico foi contratado para realizar duas lives, o que também ajudou no orçamento.
“A perspectiva é que tudo isso acabe o mais rápido possível, mas enquanto isso, estou dando uma atenção a estratégias para divulgação das minhas músicas autorais, e projetos estão sendo lançados agora como o Camarada Sessions, que foram shows realizados na loja Mohr Musikhaus ano passado envolvendo muitos artistas da cidade e região, mas sem dúvida essa situação assustou bastante por não saber quando tudo vai voltar”.
Rívia Borges dos Santos, 28 anos, trabalha como professora de canto desde 2013 e como musicista desde 2015. Para 2020, estava preparada para iniciar uma nova fase na carreira com a banda Hipnose, quando veio a pandemia.
“Descobri que estava grávida no início deste ano, então me planejei financeiramente para um ano bem positivo, pois tinha acabado de entrar na Hipnose, e com isso a minha demanda de shows ia aumentar, eu tinha muitos alunos”, conta.
Com a pandemia, as apresentações com a banda pararam e o número de alunos caiu mais do que a metade. “Dou aula um dia por semana no Colégio São Luiz e é o que está mantendo”, diz.
Rívia destaca que nos últimos seis meses, sua fonte de renda principal foram as aulas no colégio, que é sua única fonte com a carteira assinada.
“Alguns alunos conseguiram manter as aulas particulares, mas a minha filha nasceu em agosto e até o fim do ano vou ficar sem dar aula pra ficar com ela. Vou passar o resto do ano somente com a renda do São Luiz”.
A cantora tinha uma agenda bastante corrida. De segunda a quinta-feira se dedicava às aulas particulares e no colégio e a partir de quinta à noite fazia shows. “Eu tocava muito em bares e tinha vários shows marcados com a Hipnose e a probabilidade de vir mais era grande. Teria uma renda bem legal”.
Neste período, a cantora aproveitou para movimentar seu Instagram e o canal no YouTube, com dicas sobre música. “Me descobri muito fazendo materiais para o Instagram, YouTube, preparando as aulas online também. Atendo pessoas de outras cidades, então consegue expandir o mercado”.
Rívia destaca que este é o momento mais difícil dentro da sua carreira na música.
“Foi um breque grande, principalmente nos planejamentos. Quando comecei, tinha aquele receio de ser bem aceita. Mas agora estava tudo encaminhado, entrei pra uma banda diferente, foi um aprendizado perdido, financeiramente perdido. Eu fiquei muito apavorada, principalmente pela gravidez. Está sendo bem difícil”.
Caio César, 38 anos, iniciou carreira na música em 1996. Além de se apresentar em eventos, bares e casas noturnas, ele tem um estúdio de gravação que desacelerou durante a pandemia.
“Está bem complicado. Não estou tocando e os músicos não têm procurado o estúdio porque não têm dinheiro”, diz.
Neste período, o cantor lançou um curso online para incrementar a renda. “Também foquei nos clientes que não vivem de música, são pessoas que trabalham com outras coisas e investem dinheiro na música. Foi com isso que consegui mais renda para o estúdio”.
O cantor também realizou algumas lives e acompanhou outros músicos em transmissões ao vivo. “Eu consegui ter um equilíbrio melhor, mas vi muitos amigos desesperados. Eu tive tranquilidade para respirar, lancei o curso online, vendi algumas aulas e foquei nos clientes amantes da música para o estúdios. Acredito que é momento mais difícil, até artistas grandes estão sem saber o que fazer”.
O superintendente da Fundação Cultural de Brusque, Igor Balbinot, explica que foi encaminhado nesta semana o Plano Inicial de Trabalho do município ao Ministério do Turismo para poder receber os recursos da Lei Aldir Blanc.
Sancionada em junho, a lei promoverá o repasse de R$ 3 bilhões para estados e municípios investirem em ações emergenciais de apoio e suporte ao setor cultural e artístico.
“Agora eles vão analisar o plano e, se aprovado nos próximos dias, segundo a regulamentação da lei, os recursos devem ser transferidos para o município em até 10 dias”.
A ideia, de acordo com ele, é partir para a execução do plano assim que os recursos entrarem na conta. A estimativa é que Brusque receba R$ 899 mil para este fim. “Desde que a lei foi aprovada, praticamente todos os dias recebemos contato de artistas tirando dúvidas sobre como vai funcionar”.
Balbinot destaca ainda que a Fundação Cultural está aguardando posicionamento do Ministério Público Eleitoral para o lançamento de um site que disponibilizará todos os aspectos da distribuição dos recursos no município.