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Cresce número de empresas da região que compram energia no mercado livre

Número aumentou 1100% desde 2012; economia é a principal razão da migração

O número de empresas que compram energia no mercado livre em Brusque, Guabiruba e Botuverá cresceu 1100% em sete anos. Dados da Celesc mostram que o aumento mais expressivo foi em 2016.

 

Fiesc/Divulgação

De acordo com a Comerc Energia, empresa do ramo energético, esse ano teve boas condições de mercado.

A empresa explica que um dos motivos foi que a energia no mercado cativo ficou mais cara pelos impactos da medida provisória 579, editada em 2012, que alterou regras de renovação das concessões de empresas geradoras e distribuidoras de energia. O mercado reagiu negativamente às mudanças nas regras e as ações das empresas do setor negociadas em bolsa caíram mais de 20%.

Em contrapartida, no Ambiente de Contratação Livre (ACL), os preços estavam atrativos.

O mercado cativo é aquele em que o consumidor contrata energia de forma compulsória, ou seja, somente com a distribuidora do lugar onde está – em Santa Catarina é a Celesc. Nesse caso, são tarifas fixas e não negociáveis.

Já no mercado livre, os consumidores podem escolher seus fornecedores de energia, em um ambiente em que é possível negociar individualmente o preço da tarifa nos contratos, de acordo com a demanda.

O presidente da câmara de assuntos de energia da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Otmar Müller, avalia que o município se enquadra em um movimento nacional. “Intensificou nos últimos anos e foi um movimento gradativo. Tinha que ser porque muda a própria forma de distribuição de energia elétrica”, diz.

O diretor de prestação de serviços da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Fernando José de Oliveira, avalia que a migração atrai as indústrias por causa do preço.

Além disso, Müller explica que existe outra razão que atrai os empresários. “A empresa pode ter um planejamento de longo prazo melhor porque pode comprar para muitos anos pela frente, então já sabe o que vai pagar de energia nos próximos anos”, esclarece o presidente da câmara.

Os números em Brusque e região

Em 2018, o município de Brusque ficou em sexto lugar no ranking estadual de consumo industrial de energia elétrica, segundo dados da Celesc. Foram 317.587 quilowatt-hora (kWh) consumidos pelas empresas brusquenses. Botuverá aparece em 26º lugar, com 94.326 kWh e Guabiruba na 39ª posição, com 59.609 kWh.

Em Brusque, o consumo industrial de energia elétrica no mercado cativo caiu cerca de 63,3% de 2008 a 2018. Em Botuverá o percentual de queda é de 85,7%. Já em Guabiruba, apesar da migração para o mercado livre, o consumo industrial ficou entre 30 e 45 mil mWh neste mesmo período.

Em contrapartida, o consumo industrial no mercado livre, de 2012 a 2019 cresceu 897,9%.

Uma das empresas que atua no mercado livre de energia é a Comerc, de São Paulo. Na região, 18 empresas contratam os serviços da paulista, que podem ser tanto gestão quanto venda de eletricidade.

Em todas elas é prestado o serviço de gestão, por meio da elaboração de estratégias de consumo, compra e venda de energia elétrica e pela representação dos clientes na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Além da gestão, também há a comercialização de energia, com a Comerc Trading. Destas 18 empresas, cinco compram da Comerc.

As causas da migração

Em 2012, apenas quatro unidades de Brusque eram consumidoras livres. Em 2019, já são 50 empresas industriais e comerciais negociando a compra de energia, o que representa um aumento expressivo: 1.150% em sete anos.

Em 2015, a HJ Tinturaria estudava migrar para o mercado livre e em março de 2016 tornou-se consumidora livre. O coordenador de manutenção, Davi Battisti Archer, avalia que a mudança foi bastante positiva.

No primeiro ano, a empresa teve uma economia de 3,59% com relação aos gastos no mercado cativo. Em 2017, a empresa economizou 17,71% e em 2018, 19,58%.

“A importância foi a economia em reais. Esse ano a gente está economizando 24%. Isso representa uma economia bem expressiva”, comenta Archer.

Na Florisa, a adesão aconteceu em 2013. Com um consumo de cerca de 1,8 mil mWh ao mês, a economia gira de 20 a 30% por mês com relação ao mercado cativo.

Além disso, o preço varia de acordo com as condições. Ademir Fischer, contador da empresa, diz que em 2015 pagaram acima do preço da Celesc porque o valor subiu devido ao baixo nível dos reservatórios de água.

Fischer explica que a empresa também passou a economizar com o investimento em geradores. Como no mercado livre não existe diferença de preço no horário de pico, a Florisa não precisou investir no uso de geradores neste período.

Em Guabiruba, a Kohler & Cia Tinturaria e Estamparia aderiu ao modelo em 2012. O diretor financeiro, Rubens Kohler, explica que a motivação foi reduzir custos.

Desde o ano de migração, a média de economia é de 33% com relação ao que pagavam no mercado cativo. Considerando apenas os números de 2019, a economia mensal gira em torno de 43% ao mês.

Além da comprar energia mais barata, a empresa deixa de utilizar geradores em horário de pico. “Ainda temos geradores, mas não trabalham em horário de ponta. Estão somente para situações de emergência”, ressalta Kohler. Consequentemente, há menos queima de óleo diesel e menos prejuízos ao meio ambiente.

Pequenas Centrais Hidrelétricas

Uma das opções para os consumidores livres são as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). O empresário brusquense Luciano Hang tem PCHs em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Foto: Havan/Divulgação

A primeira delas foi uma sociedade com uma PCH no município de Frederico Westphalen (RS), em 2002, com capacidade de geração de 10 mega-watt (mW). Por volta de 2009 foram feitas mais duas, no município de Rio Fortuna, Sul de Santa Catarina, no leito do rio Braço do Norte, sendo uma com capacidade de 2,5 mW e outra de 7,5 mW.

Atualmente está sendo construído o Complexo de Hidrelétricas Toropi, nas cidades de Quevedos, Júlio de Castilhos e São Martinho da Serra, no estado gaúcho. O complexo terá capacidade de 64 mW, um investimento de aproximadamente R$ 400 milhões.

Outras duas PCHs no Sul de SC estão sendo planejadas, no entanto a licença ambiental ainda não foi concedida. No total, as PCHs devem ter uma capacidade de 100 mW.

Um total de 60 lojas da rede estão ligadas às PCHs, inclusive a de Brusque. Além de gerar energia para a própria empresa, Hang também vende para terceiros.

“Fizemos primeiramente para vender energia e depois nós acoplamos algumas lojas nelas. O investimento é grande, é um investimento de longo prazo, e nós achamos que a energia na hora que retomar a economia vai subir o preço”, explica o empresário.

A energia é colocada na rede de distribuição e pode ser vendida para qualquer consumidor livre do país.

Na visão de Hang, o país precisa de energia, mas a dificuldade para conseguir licenças de liberação para construir hidrelétricas é grande. Como o governo não tem capacidade de investir, falta energia. “Com isso, sobe muito o preço”, afirma Hang.

Barreiras do mercado

Apesar da grande migração, Oliveira diz que existem muitas empresas que tem interesse em aderir ao mercado livre, mas não conseguem por conta da demanda mínima de 500 quilowatt (kW) exigida. “Isso é a grande barreira”, afirma o diretor.

A migração para o mercado livre pode ser feita por empresas com demanda igual ou superior a 500 kW, por unidade consumidora ou então pela soma da demanda das unidades com o mesmo CNPJ.

As unidades com demanda contratada de 500 kW a 2,5 mil kW são consideradas consumidores especiais e podem comprar energia gerada por fontes renováveis, como hidrelétricas de pequeno porte (PCH), fontes eólicas, solares, entre outras.

Podem comprar de qualquer fornecedor de energia elétrica do SIN os consumidores com carga igual ou superior a 2,5 mil kW. A partir de janeiro de 2020 o mínimo passa a ser de 2 mil kW.