Crescer e ser grande
O ser humano contemporâneo, homem e mulher, vive um drama existencial que o acompanha diariamente. Drama que lhe é proposto por uma sociedade do bem-estar e do consumo. Drama que passa pela possiblidade cada vez maior de possuir bens materiais, para suprir as necessidades criadas pela própria sociedade de consumo. O ter mais e sempre […]
O ser humano contemporâneo, homem e mulher, vive um drama existencial que o acompanha diariamente. Drama que lhe é proposto por uma sociedade do bem-estar e do consumo. Drama que passa pela possiblidade cada vez maior de possuir bens materiais, para suprir as necessidades criadas pela própria sociedade de consumo. O ter mais e sempre mais lhe é proposto como condição, sine qua non de crescimento, de grandeza, de poder, de satisfação de vida e de felicidade. Nesta corrida para não ficar em desvantagem com os demais seres humanos, esquece a possibilidade de “ser” mais para privilegiar o “ter” mais. Assim, entra em uma espiral de busca contínua de oportunidades para ter mais.
Essa possibilidade de ter mais, ainda é bastante limitada para muitos. Todavia, não significa que estejam esses imunes às consequências dessa opção de vida. Podem se deixar invadir pelos desejos de inveja, cobiça, insatisfação que envolvem a interioridade, criando uma insaciável sede de ter mais a qualquer custo. Desta forma, tanto o que já amealhou um considerável patrimônio como o que vive abrasado pelo desejo de tê-lo, esquecem, ambos, o verdadeiro caminho da grandeza humana e enveredam pela via do esmagamento de si pelo peso da satisfação efêmera do ter.
O desejo de possuir sempre mais, se não controlado a tempo, torna-se um “ditador” na vida e cada vez mais poderoso vai exigir sempre mais esforços para acumular mais e mais. Não sobrando mais tempo para outros “afazeres”, como a família, para o esposo, para a esposa, para a participação na comunidade, para o cultivo de amizades sadias, para a vida espiritual, para um justo lazer, para a saúde, enfim, tudo isso é visto como tempo perdido, pois preciso ganhar sempre mais.
Ganhar mais para ostentar, competir, “inflar o ego”. Dessa forma, gasta a maior parte da vida para adquirir, acumular bens materiais. Se tem uma bicicleta, fica sonhando com a moto. Uma vez comprada essa, pensa em um carro. Desse para o de último tipo e “top”, modelo moderníssimo. Desfila com ele, está sonhando com outras, outras conquistas materiais. Entra em um redemoinho de desejos e necessidades criadas que vai sugando o ser por dentro, deixando-o “cheio de si” e “cheio de coisas”, vazio, porém, de valores humanos e espirituais. Torna-se um ser humano habitado pela sede de ter sempre mais, que pode se transformar em algo insaciável, gerando uma insatisfação de vida.
Insatisfação que exige sempre mais dinheiro que, por sua vez, pede mais dedicação e esforço. De maneira que não há mais espaço para outras ocupações do que aquela de satisfazer a necessidade de somar sempre mais e de acrescer mais e mais o número da conta bancária.
Para quem já está nessa via ou para quem sente essa tendência é bom parar um pouco na vida e refletir antes que seja tarde. (Quem sabe, esse tempo da Quaresma pode ser um tempo propício para isso.) Os bens materiais não são maus em si mesmos. São uma riqueza e uma necessidade. Quando, porém, são tratados como tais. São libertantes. Mas, quando assumidos, com ganância e com desejo do acúmulo desmedido tornam-se escravizantes. Por isso, é bom ter presente o que disse e continua dizendo o Cristo que não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo: Deus e a Riqueza (Mt 6,24). Por isso, quem quer crescer e ser grande tem que escolher Deus. Só Deus lhe promete e lhe oferece o infinito… Só Ele sacia todas as sedes e fomes do ser humano.