Crescimento da intenção de voto branco e nulo preocupa candidatos de Brusque
Postulantes ao cargo de prefeito do município têm encontrado bastante resistência do eleitor durante a campanha
Os sucessivos acontecimentos políticos no país têm deixado os eleitores cada vez mais insatisfeitos e um reflexo de todo o desapontamento do brasileiro com a política poderá ser observado no mês de outubro, nas urnas.
Pesquisas de intenção de voto em todo o Brasil apontam um grande crescimento das opções branco e nulo em comparação com a eleição municipal de 2012. Por isso, além de precisarem se adaptar a uma campanha mais curta – 45 dias – os candidatos precisam correr contra o tempo para ganhar a confiança dos eleitores e tentar reverter esses índices.
O professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e mestre em sociologia política, Eduardo Guerini, afirma que essa é uma tendência, principalmente devido ao comportamento dos políticos nos últimos anos. “Seja como gestor, na Câmara de Vereadores ou na Assembleia Legislativa, o nível de confiança é decrescente, devido aos recentes escândalos envolvendo as agremiações partidárias”.
Ele ressalta ainda que esse comportamento do eleitor também é impactado pela obrigatoriedade do voto. “Acho que é chegado o momento de discutir a opção do voto facultativo para que o eleitor tenha liberdade de escolher se quer ou não participar do processo eleitoral, que está tão corrompido e viciado. Esse é um dos motivos também pela grande intenção de votos branco e nulo. As pessoas não querem votar, mas são obrigadas”.
Voto branco x voto nulo
De acordo com o Glossário Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o voto em branco é aquele em que o eleitor não manifesta preferência por nenhum dos candidatos. Antes do aparecimento da urna eletrônica, para votar em branco bastava não assinalar a cédula de votação, deixando-a em branco. Hoje, para votar em branco é necessário que o eleitor pressione a tecla “branco” na urna e, em seguida, a tecla “confirma”.
O TSE considera como voto nulo aquele em que o eleitor manifesta sua vontade de anular o voto. Para votar nulo, o eleitor precisa digitar um número de candidato inexistente, como por exemplo, “00”, e depois a tecla “confirma”.
Antigamente como o voto branco era considerado válido (isto é, era contabilizado e dado para o candidato vencedor), ele era tido como um voto de conformismo, na qual o eleitor se mostrava satisfeito com o candidato que vencesse as eleições, enquanto que o voto nulo (considerado inválido pela Justiça Eleitoral) era tido como um voto de protesto contra os candidatos ou contra a classe política em geral.
Atualmente, vigora no pleito eleitoral o princípio da maioria absoluta de votos válidos, conforme a Constituição Federal e a Lei das Eleições. Este princípio considera apenas os votos válidos, que são os votos nominais e os de legenda, para os cálculos eleitorais, desconsiderando os votos em branco e os nulos.
A opinião dos candidatos
Procurados, os sete candidatos a prefeito de Brusque afirmam que têm sentido essa insatisfação do eleitor durante a campanha. A maioria, inclusive, se diz preocupada com a possibilidade dos altos índices de voto branco/nulo nesta eleição.
O candidato do PT, Gustavo Halfpap, destaca que o partido tem feito uma campanha corpo a corpo no município e encontrado uma descrença generalizada do eleitor. “As pessoas estão frustradas por tudo que vem acontecendo, principalmente na nossa cidade. Nós tentamos fazer com que mudem de ideia sob o argumento de que a não participação favorece os maus governos, mas é um trabalho de formiguinha”, afirma.
O candidato do Solidariedade, Odirlei Dell’Agnolo, o Bah, afirma que “a sociedade está dura, abatida, dado a todos os problemas sociais que temos e óbvio que é culpa da classe política”. No entanto, ele ressalta que o eleitor está aberto a ouvir as propostas de campanha. “Estamos apresentando um projeto que visa libertar a sociedade da classe política e recuperar o espírito de comunidade, também estamos indignados e é por isso que estamos na campanha”.
Concorrendo à prefeitura pelo PSOL, Chico Cordeiro diz que o eleitor brusquense tem razão em demonstrar insatisfação. “Em nossa cidade temos um quadro político desanimador e constrangedor”.
Ele afirma que tem conversado com a população para tentar reverter a situação. “Explicamos que é importante participar desse processo eleitoral e que a decisão de anular ou votar em branco só favorece os candidatos corruptos e fichas sujas. Se a pessoa está indignada com essa situação é porque tem o mínimo de senso crítico e, portanto, deveria fazer um esforço a mais e dar uma resposta para as aves de rapina da política brusquense”.
O candidato do DEM, Jones Bosio, destaca que por meio da conversa com os eleitores, aos poucos, a situação começa a se reverter. “Na primeira conversa o eleitor não quer votar até pelo fato do que aconteceu em Brusque, mas quando sentamos, explicamos, isso ameniza. Acredito que a média de votos brancos e nulos vai ser menor do que a última eleição”.
O candidato do PP, Bóca Cunha, afirma que “toda a revolta da população com o atual sistema político é a nossa indignação”. Porém, ele destaca que essa situação não preocupa a sua campanha. “Existem alguns partidos que têm muito o que se preocupar, sem dúvida. Não é o caso da nossa coligação. Fizemos um belo trabalho para escrever nosso plano de governo. O melhor jeito de convencer o eleitor não é falar, é ouvir. As pessoas já nos conhecem, sabem da nossa história de sucesso, agora querem saber se nós conhecemos a realidade da cidade, saber se temos um projeto para uma Brusque diferente”.
O candidato do PROS, Jadir Pedrini, afirma que a insatisfação com a política é algo que vem sendo manifestado por muitas pessoas há algum tempo e que durante o período de campanha é comum que se torne mais evidente. “Por um lado, entendo que é preocupante, pois demonstra a falta de esperança das pessoas, mas por outro, chega a ser motivador, pois aceitei o desafio de me candidatar a prefeito, justamente para que os cidadãos brusquenses tenham uma nova opção”.
Em nota, a coligação PSB/PMDB do candidato Jonas Paegle diz que a população está desanimada com a política em função dos acontecimentos dos últimos anos. “Os partidos políticos terão que se reconectar com a sociedade, que foi abandonada há tempos. Estamos trazendo a população para dentro das decisões, fazendo com que a sociedade participe das propostas de governo. A comunidade quer ação, obras, ver a cidade crescendo. Com essas ações esperamos não ter muitos votos brancos/nulos nas urnas”.