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Cultura da violência

Vivemos em uma Sociedade e Cultura que se habituaram a conviver com a violência. Não só convivem, mas inclusive, cultivam atitudes e comportamentos que favorecem a violência. De fato, na expressão “Cultura da violência” ou “violência cultural”, neste contexto da CF2018, remete à ideia de “cultivo”. Cultivo que pode ser observado, sem muito esforço, na […]

Vivemos em uma Sociedade e Cultura que se habituaram a conviver com a violência. Não só convivem, mas inclusive, cultivam atitudes e comportamentos que favorecem a violência. De fato, na expressão “Cultura da violência” ou “violência cultural”, neste contexto da CF2018, remete à ideia de “cultivo”. Cultivo que pode ser observado, sem muito esforço, na família, na escola, na TV, nas ruas, no trânsito…

O Texto-Base da CF2018 descreve essa realidade, dessa forma: “Por ‘violência cultural’ entendem-se as condições em razão das quais uma determinada sociedade não reconhece como violência atos ou situações em que determinadas pessoas são agredidas. Criam-se processos que fazem aparecer como legítimas certas ações violentas.

Elaboram-se discursos para apresentar razões e justificativas como se uma ação violenta fosse devida, uma consequência de determinadas condutas da própria pessoa que sofreu a violência. Portanto, a violência cultural não é, necessariamente, uma causa da violência direta, mas cria as condições em meio às quais chega a tornar-se difícil, para a sociedade, reconhecer um ato ou sistema como violento” (nº 46).

Em nossa cultura, a violência, principalmente na mídia, é associada quase exclusivamente à atividade criminosa e, em particular, ao tráfico de drogas e à corrupção. Sabemos, no entanto, que não é bem assim. Os próprios inquéritos policiais indicam um grande número de “assassinatos cometidos por impulso ou por motivações fúteis: ciúmes, desavenças entre vizinhos, desentendimentos no trânsito e outras formas de conflito, nesse contexto, a reação violenta torna-se naturalizada, como se a forma passional fosse a maneira única e ‘normal’ de reagir a uma situação conflitiva. Essa naturalização se converte em indiferença” (Cfr. Nº 47).

Outra constatação que a CF2018 chama a atenção é que algumas categorias de pessoas (negros, mulheres, jovens) “sofrem violência quando e porque fazem algo indevido. A estuprada, por vestir-se de forma ‘imoral’ ou por não se dar o respeito. O adolescente, por ser drogado, delinquente ou marginal. Dessa forma, entende-se que uma certa dose de violência seria, inclusive, benéfica para manter as ‘pessoas de bem’ longe do crime e dar o ‘devido castigo’ a quem deixou de fazer ‘aquilo que é certo’” (Cfr. Nº 48).

A violência direta é facilmente identificada. Também, a violência estrutural é possível, por meio dos traços mais ou menos definidos de percebê-la. Já a violência cultural é mais sutil. Por isso, não é fácil de identificá-la. Com efeito, na maioria das vezes “esconde-se em meio a crenças legítimas, a formas de pensamento e de linguagem. Por exemplo, na forma como se constroem as relações sociais no Brasil, entende-se comumente que a desigualdade é algo natural. Sob esse ponto de vista, tende-se a tratar, sob argumentos diversos, alguns sujeitos sociais como se fossem naturalmente inferiores: mulheres, jovens, idosos, trabalhadores, negros, índios, pessoas com diferentes orientações sexuais, imigrantes, migrantes. Não parece casual que essas identidades sejam alvos frequentes de atos violentos” (Cfr. Nº51).

Como se nota no dia a dia, a violência no Brasil, não importa de que naipe seja, não é pontual. Ela aparece, abertamente em certos momentos, mas, com frequência, vem revestida de disfarces e de “naturalizações” que, aparentemente, a justificam. Por isso, como cristãos (ãs) somos chamados a refletir sobre essa trágica realidade social e, com sabedoria e criatividade, buscar possíveis saídas, à luz dos valores do Reino de Deus.