De netos a filhos: conheça histórias de brusquenses que foram criados pelos avós
Por diversos motivos, eles tiveram que assumir a responsabilidade da criação dos netos
Nos lares ao redor do mundo, avós desempenham um papel fundamental na criação e educação de seus netos. Em algumas circunstâncias da vida, eles assumem responsabilidades que vão além do esperado. Alguns deles, além de criarem os filhos, precisaram assumir também a educação dos netos.
Amor de uma vida
Lucas de Jesus Rodrigues, de 24 anos, é morador do Santa Terezinha mas nasceu em Joaçaba. Quando veio para Brusque, em 2001, morou com a avó Dalva Terezinha de Jesus até o seu falecimento. Dalva, que era natural de Rondinha (RS), partiu em maio deste ano nos braços do neto.
“Viemos em 2001 e desde que eu nasci eu morei com ela. Moramos em vários bairros aqui na cidade. Minha mãe, que ainda mora em Joaçaba, também sempre morou com ela. Foi minha avó que me criou e me alfabetizou. Ela foi o amor da minha vida. A doçura com que ela olhava a vida mesmo tendo passado por muitos momentos difíceis é algo que sempre levarei comigo”.
Melhor lembrança
Entre as melhores lembranças que possui com a avó, Lucas destaca dois momentos. Um aconteceu no ano passado quando ela viajou de avião pela primeira vez e ficou emocionada.
“Mesmo durante uma turbulência, ela ficou super tranquila, e foi assim que ela levou a vida. Quando ela vacinou contra a Covid-19 eu chorei muito. Sabia que naquele momento ela estaria mais segura vacinada, foi muito emocionante. Ela sempre foi forte, criou cinco filhos e nunca desanimou. Para ela tudo se ajeitava para todo momento de dor havia uma palavra de conforto. Viver com ela me deu senso de justiça e empatia”.
Telha por telha
A brusquense Anelize Dada, de 21 anos, é moradora do bairro Azambuja e desde criança morou com os avós. Como os pais eram proprietários de uma confecção, boa parte da criação ficou nas mãos cuidadosas dos avós.
“Eles sempre cuidaram de mim como filha, me davam o melhor que podiam e faziam tudo para me agradar. Após terminar o ensino fundamental saí da casa deles. A parte da despedida é sempre a mais difícil. Estávamos um pouquinho longe, mas o coração sempre esteve perto, estávamos sempre conectados”, conta a jovem.
Sobre a neta, Otilia Dada, 77, diz que nunca teve problemas no processo de criação, já que Anelize ‘nunca deu trabalho’: “É bom ter ela como neta, uma menina sempre educada e que nunca me deu trabalho com nada. Sempre quis estudar, ajudar nas coisas da casa. Tudo que ela pôde fazer por mim ela fez”.
Melhor lembrança
Para Anelize, uma lembrança que nunca esquecerá era de quando seus avós estavam construindo uma casa. Na ocasião, a jovem costumava ajudar o avô, Jorge Domingo Dada.
“Eu ficava ajudando ele levando telha para cima da casa para diminuir o esforço que ele fazia, enquanto isso a vó fazia questão de deixar a comidinha pronta. Ele faleceu este ano, mas nunca partiu de verdade. Sempre fará parte de mim. Construímos juntos mais que uma casa”.
Única em tudo
Patrine dos Santos, de 19 anos, é moradora do Limoeiro e mora com os avós desde os 9 anos. Após perder a mãe em um acidente de carro, o pai (que era separado da mãe) lhe deu a opção de morar com ele ou com os avós Margit Laura Merlo, de 68 anos e Eunildo Merlo, 78. Com apenas 9 anos, a escolha tinha que ser feita.
“Minha mãe era filha única deles e eu também sou a única neta. A criação foi diferente por eles serem mais velhos. Eles são fontes de sabedoria, amor. É reconfortante ter alguém tão próximo que se preocupa com o seu bem-estar e está sempre disponível para ajudar. A convivência diária traz consigo histórias incríveis, tradições familiares e momentos de pura alegria”.
Melhor lembrança
Questionada sobre qual a melhor lembrança que tem com os avós, Patrine conta que o avô faz excursão de viagens, e que as melhores lembranças são os passeios com eles.
“A ansiedade de viajar, todos os passeios que fizemos juntos se tornaram uma memória inesquecível. A personalidade deles que herdei por partes, é minha melhor lembrança e meu maior ensinamento, que vou levar para a vida e provavelmente passar para os meus filhos”.
Almoços que não voltam
Atualmente moradora do bairro Santa Rita, Ana Júlia Rossi, de 21 anos, morou e foi criada pelos avós, Marli de Oliveira Zen (já falecida) e José Paulo Zen, 75, dos 2 aos 11 anos. Segundo a jovem, foram eles os responsáveis pela maioria dos ensinamentos que teve na vida.
“Eles me ensinaram tudo, desde cozinhar com minha avó a estudar com meu avô. Minha mãe é deficiente auditiva, então ela ia trabalhar e eu ficava com eles. Meu avô me levava pra escola todo dia e me buscava”.
Melhor lembrança
Questionada sobre a melhor lembrança que possui da época em que morava com eles, a jovem relata que os almoços só com os três nunca irão sair da sua memória.
“Me lembro também do ‘soninho da tarde’ que minha avó fazia comigo. Coisas como essas não voltam mais. Os anos que passei ao lado deles foram um dos mais importantes da minha formação. Eu agradeço por todos os momentos que passei ao lado deles”.
Gratidão
Bruno Arnon Bittencourt possui 33 anos e mora com os avós desde os 17, ano em que sua mãe faleceu. Para ele, viver com Mario Pedro Bittencourt, de 87 anos e Helena Vanda Galitzky Bittencourt, 93, não se trata de um desafio, mas sim de um curso natural da vida.
“Quando eu nasci minha mãe já foi morar com eles, sempre estive ao lado dos meus avós. Depois que minha mãe morreu essa transição se tornou natural. Nunca foi uma missão, foi um processo de gratidão. Eu cresci ao lado deles e aprendo muito até hoje”, conta o estudante de medicina que ainda mora com os avós.
Melhor lembrança
Questionado, Bruno diz que uma memória legal que possui com os avós foi durante a pandemia da Covid -19. Na ocasião, os três tiveram que passar o natal juntos dentro de casa.
“Não deixamos desanimar nem se abater. Fizemos a ceia juntos. Cozinhamos e cantamos o dia todo. Foi algo muito bonito. É uma noite tão marcada pela presença da família e nós ficamos sozinhos. Fizemos do nosso jeito e com todo o amor do mundo. Ali a gente viu que até em momentos tristes, um estava ali pra animar o outro“.
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