Debaixo de sol, chuva, frio e calor: conheça o trabalho dos coletores de resíduos de Brusque

Na cidade, 70 profissionais são responsáveis por recolher uma média de 2,7 mil toneladas de lixo por mês

Debaixo de sol, chuva, frio e calor: conheça o trabalho dos coletores de resíduos de Brusque

Na cidade, 70 profissionais são responsáveis por recolher uma média de 2,7 mil toneladas de lixo por mês

Uma profissão praticamente invisível, poucas vezes reconhecida, mas fundamental para a limpeza, organização e saúde de uma cidade é a do coletor de resíduos. Afinal, você já imaginou viver em um local sem coleta de lixo?

Em Brusque, 70 coletores, divididos em 17 caminhões, são os responsáveis por, diariamente, recolher o lixo produzido nas casas e empresas da cidade, e dar a destinação correta aos resíduos, deixando limpas todas as regiões do município.

Assista o vídeo sobre a rotina de catadores de resíduos

Izael Rosa Souza, 26 anos, é um deles. Natural da cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, ele vive em Brusque há quatro anos e é coletor de resíduos da Recicle by Veolia há quase três anos.

De segunda a sábado, ele está nas ruas contribuindo para o bem-estar de todos os moradores da cidade. Izael inicia o trabalho todo dia às 5h da manhã. Junto com os colegas Alisson Faria da Silva, 20 anos, também coletor, e Sidnei Schroder, 40 anos, motorista, ele é responsável pela coleta dos resíduos nos bairros Santa Rita e Steffen.

Izael, Sidnei e Alisson atuam nos bairros Santa Rita e Steffen | Foto: Wendel Rudolfo/O Município

Por semana, cada caminhão da Recicle by Veolia recolhe, em média, oito toneladas de lixo em Brusque. Só em março, foram mais de 2,9 mil toneladas de resíduos recolhidos na cidade.

Izael começou na profissão seguindo os passos do irmão, que também atuava como coletor de resíduos. Desde a adolescência, sempre admirou a profissão e hoje sente orgulho de poder exercê-la. 

“Desde quando eu morava no Rio Grande do Sul, eu olhava e pensava: esse é um serviço para guerreiro. Pega sol, chuva, vento forte, mas tem que enfrentar. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar aqui eu fiquei feliz, porque já admirava os coletores e hoje sou um deles”, diz.

Olhando de fora, o trabalho até pode parecer fácil, mas exige muito do profissional. Precisa ter preparo físico para carregar todo o lixo, na maioria das vezes, bastante pesado, até o caminhão. Além de subir e descer da caçamba várias vezes e correr atrás do veículo. Tudo isso, debaixo de sol, chuva, frio e calor.

“É bastante cansativo. Tem que ter muito preparo físico, mas eu já me acostumei. A segunda-feira é o dia que é mais puxado. Tem muito mais lixo. Pessoal fica em casa fim de semana e gera mais lixo. Na segunda a gente precisa ter mais força”, destaca.

Os dois coletores precisam ter preparo físico para aguentar a rotina puxada | Foto: Bárbara Sales/O Município

Alisson, colega de rota de Izael, está na profissão há apenas um mês. Natural de São Miguel, em Alagoas, ele chegou em Brusque há dois meses, e agarrou a oportunidade de trabalho que surgiu. Como está no início do trabalho, ainda está se acostumando com a rotina e a profissão.

“Às vezes chego em casa meio moído, mas tomo um remedinho e no outro dia estou aqui pronto. Tem que estar preparado”, diz.

Izael e Alisson são guiados por Sidnei, motorista de um dos caminhões da Recicle by Veolia há quatro anos. O trabalho para ele também não é nada fácil. Não é apenas dirigir o caminhão. É preciso prestar a atenção a várias situações e ainda enfrentar motoristas sem paciência diariamente.

“Sou motorista há 20 anos. Antes de trabalhar aqui eu dirigia carreta. É muito diferente um trabalho do outro. Eu tenho que cuidar deles (Izael e Alisson) que estão ali atrás na caçamba, ficar de olho no trânsito, nos pedestres, os motoristas buzinam, xingam, não tem paciência, mas só estamos fazendo o nosso trabalho”, diz.

Trabalho de risco

Antes de iniciar na rua com a coleta, Alisson passou por um treinamento na empresa para aprender as técnicas e como desempenhar sua função de forma mais segura.

“No treinamento aprendemos tudo o que pode e o que não pode fazer. Como trabalhar com mais segurança. Não ficar atrás do caminhão na hora que vai prensar o lixo, porque pode voar vidro, o chorume pode espirrar na gente e infectar, tem todo um cuidado”, destaca Alisson.

O trabalho do coletor é de risco. Precisa ter cuidado na hora de subir e descer do caminhão e tem uma técnica na hora de pegar os resíduos para evitar, ao máximo, se machucar, principalmente quando há seringas, cacos de vidro, lâmpadas quebradas, palitos de churrasco e outros objetos cortantes descartados de forma incorreta em meio ao lixo comum.

Profissionais pedem ajuda da população para trabalhem com mais segurança, descartando o lixo corretamente | Foto: Bárbara Sales/O Município

“Esta semana eu peguei uma sacola com duas seringas descartadas de forma errada, quase que eu me furo. Consegui ver antes, e não aconteceu nada, mas às vezes a gente acaba se machucando”, diz Alisson.

As seringas devem ser descartadas diretamente nas unidades de saúde ou então em farmácias que contam com este serviço. Jogar este tipo de material de qualquer forma, no lixo comum, coloca em risco o coletor, que pode contrair alguma infecção. Quando acontece perfuração com seringa, os coletores precisam tomar um coquetel de medicamentos para evitar contaminação.

Outro problema diário que Izael e Alisson encontram são os cacos de vidro. A forma correta de descartar vidro é enrolando bem o material dentro de jornal, sinalizando de alguma maneira que ali tem caco de vidro. O morador também pode colocar os cacos dentro de uma caixinha de leite ou qualquer caixa de papelão, já espetinhos de churrasco podem ser descartados dentro de uma garrafa de refrigerante. Assim, o coletor realiza seu trabalho de forma mais segura.

Turno de Alisson e Izael inicia às 5h da manhã e vai até as 13h20 | Foto: Bárbara Sales/O Município

“Tem morador que já faz isso, mas muitos descartam de qualquer jeito. Já tive muitos colegas que se cortaram com caco de vidro, se furaram com seringas, essa é uma grande dificuldade do nosso trabalho”, ressalta Izael.

Outro obstáculo dos coletores são os cachorros. Muitas vezes, é preciso correr com o lixo e ainda fugir dos cachorros que avançam nos profissionais.

“Tem muito cachorro solto na rua. Às vezes não sabemos se vão morder ou ficar quieto. A maioria dos cachorros são bravos e quando pegamos o lixo podem morder, atacar. Por isso, é importante deixar o cachorro trancado, pelo menos nos horários da coleta. Eu nunca fui mordido, mas tive colegas que já. Tenho que correr todo dia, ter preparo para pegar o lixo e correr dos cachorros”, diz Izael.

Apesar dos desafios diários que enfrenta na rua, Izael gosta do que faz. “Eu gosto de trabalhar assim. A gente vai para a casa com as pernas, os braços doendo, mas faz parte. Sou feliz com a minha profissão”.

Mesmo há apenas um mês no trabalho, o sentimento de Alisson é o mesmo. “É muito bom ver como as ruas estavam antes da coleta e depois. Quando a gente está voltando e vê que está tudo limpo, bem diferente do que estava antes, é gratificante”.


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