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Na última terça-feira, acabei por me render ao impensável: fui obrigada a assistir à final da sexta temporada do reality raivoso Hell’s Kitchen… dublado. Toda a irritação e a chuva de impropérios despejada por Gordon Ramsay, agora na voz de um dublador. Os participantes aterrorizados berram um triste SIM, CHEFE! no lugar do YES, CHEF! que todos os fãs adoram imitar.

Muito, muito triste.

As ameaças estão sendo concretizadas muito rápido. A TV por assinatura resolveu que nivelar por baixo – e essa decisão envolve uma imensa dose de preguiça – é a melhor estratégia para acomodar sua nova base de consumidores, generalizados sob o nome de nova classe média. A premissa é que os novos assinantes, acostumados a toda uma vida de TV aberta e, preconceito ou realidade, menos acostumados à leitura, preferem a programação dublada.

E nós que pensávamos que a TV por assinatura era uma alternativa para a programação cada vez mais rasa dos canais abertos. Pensando bem, coisa vem de muito mais longe. Primeiro, era a promessa de poucos intervalos comerciais. O argumento: na TV convencional, os anúncios “pagam” a programação. Na TV fechada, é você quem paga. Linda teoria, devidamente esquecida ao longo dos anos. 
Agora, até os créditos finais de um filme também podem ser cortados, como na Globo, ou acelerados na velocidade da luz. Ok, isso deixou de ser um pecado muito sério, porque ninguém mais precisa garimpar informações nos créditos – a internet está aí para isso e o tradicional e primordial site Internet Movie Database, mais conhecido por IMDb, costuma acabar com todas as nossas dúvidas relacionadas a cinema e séries de TV. 
Conforme vamos nos acostumando a cada vez menos “privilégios” (a palavra respeito caberia perfeitamente aqui, sem as aspas da ironia), as más notícias são constantes. Pode ficar pior? Sempre pode. Mas começar a ver, na prática, programa a programa, as versões dubladas tomando conta da programação… é uma imensurável falta de sacanagem. 
Já falei sobre isso, eu sei… Mas sou obrigada a dizer mais uma vez: se existe a possibilidade de deixar todo mundo feliz, usando as ferramentas que já existem e dando a opção de áudio original legendado ou a versão dublada, qual a lógica de afastar parte do público consumidor, justamente uma boa parcela de quem formou a base de pagantes das operadoras de TV por mais de uma década?  
Vamos ver como serão os próximos anos e para onde vai migrar o consumidor que está sendo desconsiderado agora. Por enquanto, resta a tristeza de não ouvir mais os berros do chef Ramsay em inglês – e de nem poder conhecer o sotaque australiano dos jurados do Master Chef, só para ficar no universo das competições culinárias.