Decisão de Jasc e Parajasc no mesmo município divide opiniões
Estrutura melhor para os paratletas é comemorada, mas excesso de uso das escolas como alojamento preocupa
Foi definido por lei nas últimas semanas que o município que sediar os Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) deverá receber também os Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc).
A lei, de autoria do deputado Gelson Merisio (PSD) tramitou por dois anos na assembleia, foi primeiramente aprovada no plenário, vetada pelo governador Raimundo Colombo e recentemente teve seu veto derrubado.
A aprovação desta lei divide opiniões em Brusque. Por um lado, os recursos estaduais destinados para a realização das duas competições serão menores, uma vez que o município reaproveita as estruturas e reformas feitas para ambos os eventos.
Além disso, a competição voltada aos paratletas seria realizada sempre em cidades com melhores condições de alojamento e acessibilidade, uma vez que os Jasc são sediados apenas nos municípios com grande estrutura poliesportiva.
Por outro lado, o período em que as escolas terão de ficar sem aula por estarem servindo como alojamento aos atletas se estenderá. Se com os Jasc as unidades escolares das cidades-sede ficam 10 dias em função da competição, junto com os Parajasc serão 20 dias. Essas aulas terão de ser repostas ou durante as férias, ou antes do período letivo regular no ano seguinte.
A mesma lei também especifica que os Parajasc serão realizados 30 dias após o fim dos Jasc.
“Lamento a decisão”
Responsável pela delegação de Brusque nos Jasc desde 1993, Delmar Tondolo não acredita que manter os Parajasc na mesma cidade dos Jasc seja uma boa ideia. “O município fica 20 dias sem aula. Depois disso, precisa antecipar muito o ano letivo ou manter alunos na sala de aula no período que deveriam estar em férias. Ainda mais que a carga horária das escolas deve aumentar nos próximos anos. Lamento a decisão”, completa.
“O município fica 20 dias sem aula. Depois disso, precisa antecipar muito o ano letivo ou manter alunos na sala de aula no período que deveriam estar em férias. Lamento a decisão”, Delmar Tondolo, responsável pela delegação de Brusque nos Jasc
Outro problema apontado por Tondolo é a da restrição de municípios que poderão sediar os Parajasc. Diferente dos Jasc, antes a competição paradesportiva poderia ser realizada em cidades de pequeno porte, mas agora isso não será mais possível. “O governo do estado destinava recursos aos locais do Parajasc, melhorando a infraestrutura disponível, e desta maneira as cidades de menor porte serão deixadas de lado”.
Melhora de infraestrutura
Lidar com um grupo de paratletas requer cuidado redobrado. A acessibilidade ainda não é a ideal nos grandes municípios do estado, quem dirá em lugares ainda menos estruturados. Neste ponto, fazer os Parajasc em um ambiente menos dificultoso aos atletas é positivo.
“Já passei por muitas situações ruins com os atletas, ginásios sem rampa, em cima de morro. Teve uma situação em que simplesmente cimentaram uma escada para fazer uma rampa, sem reconstruir, o que ficou muito perigoso para os participantes”, Gustavo Josende Caetano, técnico da equipe de basquete em cadeira de rodas
Técnico da equipe de basquete em cadeira de rodas que representa Brusque nos Parajasc, Gustavo Josende Caetano acredita que a lei não fará muita diferença, porém na questão da acessibilidade será uma evolução. “Já passei por muitas situações ruins com os atletas, ginásios sem rampa, em cima de morro. Teve uma situação em que simplesmente cimentaram uma escada para fazer uma rampa, sem reconstruir, o que ficou muito perigoso para os participantes”, explicou.
Os alojamentos em que Caetano ficou com a equipe muitas vezes também apresentaram precariedades. “O amputado ainda consegue ter mais autonomia, mas para o paraplégico é difícil tomar banho em chuveiro frio, ficar em ambientes frios sem ar quente, essas coisas”, diz.
Bom e ruim
Presidente da Associação dos Pais e Voluntários dos Atletas Excepcionais de Brusque (Apvaeb), Marcos Maestri teve a opinião dividida. Ele também concorda com a melhoria estrutural, mas alerta para a importância da manutenção do ano letivo. “No aspecto de organização deve melhorar, mas qual é o município que vai aceitar tirar 20 dias escolares do calendário? A educação vai ficar em segundo plano? Isso vai acarretar em problemas”, afirma.
“No aspecto de organização deve melhorar, mas qual é o município que vai aceitar tirar 20 dias escolares do calendário? A educação vai ficar em segundo plano? Isso vai acarretar em problemas” Marcos Maestri, presidente da Associação dos Pais e Voluntários dos Atletas Excepcionais de Brusque (Apvaeb)
Uma sugestão que Maestri dá, especialmente pelos atletas da Apvaeb serem da categoria para deficientes intelectuais, é que a competição não seja realizada em municípios litorâneos durante o verão, tampouco em cidades da Serra ou do Oeste durante o inverno. “Os atletas especiais são mais suscetíveis às doenças de inverno, como gripes, até por causa da baixa imunidade”, explica.