Dedicação que resiste: Alfaiate guabirubense atende há seis décadas e tem prefeito como cliente
Valdemiro Kormann trabalhou por anos em duas das maiores confecções da história da região
Além da experiência, o alfaiate também é famoso por costurar para pessoas conhecidas. Entre elas estão o arcebispo Dom Murilo Krieger; Emil Assad Rached, falecido jogador de basquete que interpretava o “gigante” do grupo Os Trapalhões e o atual prefeito de Guabiruba, Valmir Zirke.
Talento de berço
Atuando na área desde os 12 anos, Valdemiro começou quando se interessou em aprender a costurar. Ao assistir a mãe na função, veio o desejo de descobrir se tinha talento. E foi na alfaiataria do Ivo Fischer, já falecido, em Guabiruba, que Valdemiro deu os primeiros passos. Na empresa de Ivo, o guabirubense trabalhou por 14 anos.
“A vontade partiu por interesse próprio. Meu pai era carpinteiro e minha mãe costurava, mas era pouco. Eu fiz o primário, saí da escola e precisava trabalhar. Me apaixonei pela área desde o início”, recorda.
Trabalho manual
Na época em que começou, o alfaiate explica que todo o trabalho era feito manualmente. Quando se fala de maquinário, por exemplo, só existia uma máquina de costura reta – uma das mais comuns.
“Tudo era feito de ponta em ponta pois não se encontrava moldes de camisa com facilidade. O que mais me deixava orgulhoso era fazer um smoking ou terno, com seda. Fazíamos tudo com agulhinha, com muito cuidado e perfeccionismo. Isso é motivo de orgulho”, afirma Kormann.
Após trabalhar com Ivo e ter aprendido muitas técnicas, o guabirubense começou uma nova jornada na alfaiataria Krieger, por onde trabalhou por 22 anos. Na época, a empresa era uma confecção de roupas sociais de prestígio, o que ajudou no crescimento profissional de Valdemiro.
“Fazíamos ternos e gravatas em série, grandes quantidades. Lá aprendi a trabalhar com maquinários e modelos mais industriais, era muito diferente”, relembra.
No término da sua jornada na fábrica, a empresa fechou e Valdemiro se viu mais uma vez de volta às origens, em casa. Trabalhou então por quatro anos na sua sala de costura até ser chamado para a Sly, empresa de confecção de Brusque onde o profissional presta consultoria.
“Nos anos 70 e 80 a alfaiataria viveu o seu auge, depois entrou a era do jeans, que tomou conta do espaço. Hoje em dia a roupa pronta é mais fácil e barata de conseguir”, revela.
Esperança e visão
Valdemiro discorda da possibilidade de extinção da profissão, mas admite que está cada vez mais difícil encontrar mão de obra qualificada. Ele diz que para exercer a profissão é preciso conhecimento, o que se mostra raro hoje em dia.
“Ser alfaiate é ter paciência. A roupa não está pronta em uma ou duas horas, é necessário, no mínimo, três dias para fazer um terno perfeito. A costura nunca desaparecerá, mas os alfaiates estão diminuindo. O que ainda restou no cenário são reparos e consertos”, lamenta.
Questionado sobre o futuro, o guabirubense diz estar feliz onde está e que a passagem de conhecimento será seu grande legado na história.
“Dar consultorias e passar meu conhecimento de décadas para alguém que está começando agora não tem preço. Cada peça que consertei, reparei ou costurei é uma história, um momento. Me sinto feliz por ter feito parte da vida de várias pessoas. Estou satisfeito com o meu trabalho pois coloquei meu coração em cada linha e agulha. É assim que quero ser lembrado”, conclui.
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