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Denúncias de bullying pela internet crescem entre estudantes de Brusque, indica levantamento

Agressões físicas e verbais causam consequências psicológicas, alerta psicólogo

O Observatório Social de Brusque (OSBr) realizou levantamento sobre os atendimentos feitos pelo Conselho Tutelar do município desde 2013 até o primeiro semestre deste ano. A pesquisa mostra que foram 42 denúncias deste tipo, sendo que o cyberbullying tem crescido.

O número é pequeno em relação a outras ocorrências, porém, a realidade por trás das estatísticas é bem diferente. Foram 11 atendimentos de bullying no primeiro semestre deste ano.

Embora não seja grande, o volume quase iguala a todos os registros de 2015 – 13.

Muitos casos – a vasta maioria – não chega aos ouvidos dos conselheiros por falta de informação ou mesmo por preconceito dos adultos que ficam sabendo, mas não dão a devida importância.

Os conselheiros tutelares Nathan Krieger, Arilson Fagundes, Norberto Boos, Maria Zucco e Neide Dalmolin falaram sobre o seu trabalho em entrevista conjunta ao Município Dia a Dia. Segundo Boos, o cyberbullying – praticado nas redes sociais – tem crescido. “O cyberbullying já acontece bastante”, afirma. Fagundes diz que as “redes sociais são campeãs” nesse tipo de ofensa.

Parte dos casos que chegam ao Conselho Tutelar são de alunos que se sentiram ofendidos em grupos de WhatsApp ou nas redes sociais. Os xingamentos são pejorativos e abrangem, principalmente, características físicas das vítimas.

De acordo com os conselheiros tutelares, a maior parte das denúncias é feita por familiares das crianças vitimadas. A definição de bullying – que é considerado crime pela legislação penal brasileira – é bastante ampla.

“O bullying acontece a partir do momento que a pessoa se sente constrangida ou ofendida. Também entra a questão psicológica, talvez uma palavra dita para um não tenha tanto peso quanto para outro. Quando eu começo a me sentir mal ou ofendida, é um bullying para mim”, explica a conselheira Neide.

Papel da escola

O bullying é caracterizado por uma violência psicológica ou física contínua contra uma pessoa. No caso do Conselho Tutelar, esses casos acontecem na escola, por isso, é extremamente importante que os professores e coordenadores fiquem atentos ao comportamento dos alunos.

É por meio desses profissionais que parte das denúncias chega aos conselheiros. Boos diz que a própria escola pode tomar providências antes mesmo que o bullying transforme-se em algo mais grave.

Uma transferência de turno, de escola ou mesmo de turma, às vezes, acaba com maiores problemas, afirma o conselheiro. Também é importante que as escolas disponham de estrutura para ajudar os alunos.

Fagundes afirma que, apesar dos esforços, ainda faltam psicólogos nas escolas das prefeituras da região. Até mesmo pela rede municipal de saúde é difícil de conseguir atendimento, conforme o conselheiro.

Providências

O Conselho Tutelar é um órgão que protege crianças e adolescentes, ele não tem poder de polícia. Isso significa que o Conselho não é o local indicado se a pessoa pretende representar criminalmente contra o agressor.

“As pessoas querem providências, mas o Conselho não vai prender ninguém. Faça o boletim de ocorrência e vamos dar os encaminhamentos.

Vamos fazer o quê? Vamos ver como ajudar, se pode encaminhar ao acompanhamento, conversar com a escola”, afirma o conselheiro Krieger.

Apesar de pertencer mais à esfera policial, todos os casos são averiguados pelos conselheiros. Após contato da escola ou da vítima, eles fazem contato entre as partes e tentam buscar uma solução.

Em alguns casos, o Conselho Tutelar pode encaminhar as vítimas para serviços de atendimento psicológico ou médico – quando há violência física.


Consequências marcam a fase adulta

O psicólogo Antônio Lançoni diz que o bullying causa uma série de consequências na vida do adolescentes. Às vezes, elas só chegam na fase adulta na forma de uma depressão ou de outro transtorno.

“Muitos adultos têm transtornos”, afirma Lançoni. “Acontece com certa frequência de [o paciente] dizer que lembrou de um trauma na época de escola, lá no segundo ano”, completa o psicólogo.

Sem preconceito

Os conselheiros tutelares dizem que ainda é comum existir o preconceito com relação ao bullying. A conversa de muitos adultos é que antigamente não existia esse “tipo de coisa”, por isso seria “frescura”.

Lançoni também enxerga esse preconceito, entretanto, ele diz que é importante que a família leve a sério para garantir o desenvolvimento psicológico da criança de forma saudável. O psicólogo afirma que os pais devem observar o comportamento dos filhos e, caso percebam algo, procurem ajudar.

O tratamento pode ser psicológico, porém, o mais importante é o apoio familiar. “Os pais trazem para atendimento, mas nem sempre reconhecem o problema”, afirma Lançoni. Entender o bullying é primordial para ajudar da melhor forma as crianças e adolescentes.