Desabastecimento de medicamentos afeta farmácias públicas de Brusque, Guabiruba e Botuverá
Equipes de saúde e Cisamvi atuam na negociação com empresas, que relatam falta de matéria-prima
Nos últimos meses, prefeituras e farmácias comerciais têm registrado a falta de medicamentos em Brusque, Guabiruba e Botuverá. A situação não é sentida somente na região, mas sim em todo o país.
O desabastecimento é de antibióticos e de outros remédios usados no tratamento de síndromes respiratórias, como xaropes e antigripais. Em Brusque, a prefeitura registra falta de medicamentos básicos, como amoxicilina, ibuprofeno e loratadina xarope, por exemplo.
De acordo com a diretora de Atenção Farmacêutica, Patrícia Bernardi Sassi, a equipe trabalha para reposição dos remédios o quanto antes. Porém, ressalta que o problema é atrelado à falta de insumos para produção que atinge o país. “Trabalhamos de forma intensa, fazendo contato com as empresas, mas infelizmente a situação é global”, aponta.
Parte dos medicamentos comprados pela prefeitura são frutos do convênio com o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Vale do Itajaí (Cisamvi). O consórcio faz a compra de remédios e outros insumos para todos os municípios da região, como Guabiruba e Botuverá, além de outras duas cidades da região da Foz do Itajaí.
A diretora executiva do Cisamvi, Vanessa Fernanda Schmitt, relata dificuldades e conta que todos os 14 consórcios do estado passam pela mesma situação.
“Não é de hoje, é uma situação do estado e do país. Temos reuniões mensais e esse tema entra em pauta. Estamos atuando perto dos fornecedores para entender o que se passa e pedindo esclarecimentos. Chegamos a abrir até processos administrativos contra a empresa quando não há a entrega e uma justificativa”, conta.
Vanessa detalha que, no total, são comprados 277 itens de medicamentos pelo consórcio e uma grande parte está em atraso. Outros medicamentos em falta são a azitromicina e a dipirona.
Confira medicamentos em falta em Brusque:
Abaixo, a lista mostra a falta de medicamentos na rede pública atualizada nesta segunda, 18.
Medicamentos básicos
– Amoxicilina 50mg/ml suspensão oral
– Amoxicilina + Clavulanato 50mg + 12,5mg/ml suspensão oral
– Amoxicilina + Clavulanato 500mg + 125mg comprimidos
– Sais de Reidratação Oral – 6000
– Ambroxol 6mg/ml adulto
– Paracetamol 200mg/ml gotas
– Ibuprofeno 600mg comprimidos
– Ipratrópio gotas 20ml
– Óleo mineral 100ml
– Cefalexina suspensão
– Loratadina xarope
– Sulfato Ferroso 125mg/ml gotas
Medicamentos controlados
– Tramadol 50mg
– Risperidona 1mg comprimido
Falta de matéria-prima
Levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) feito com 2.469 prefeituras mostra cenário do desabastecimento de medicamentos nas cidades brasileiras. A pesquisa constatou que mais de 80% dos gestores relataram sofrer com a falta de remédios para atender a população.
Vanessa ressalta que, ao Cisamvi, todos os fornecedores alegam a falta de insumos, principalmente pela importação da matéria-prima. No país, cerca de 95% dos medicamentos no país dependem de insumos importados, principalmente da Índia e da China.
Nos últimos dois anos, a pandemia da Covid-19, com o recente lockdown na China, e a Guerra na Ucrânia impactaram o setor, conforme a diretora. Somados aos surtos da gripe e dengue registrados neste ano, muitos remédios ficaram em falta.
“As indústrias estão passando pela falta desses ativos. Por mais que não tenhamos uma suspensão oficializada pela Anvisa, as empresas não querem descontinuar a produção dos medicamentos. Elas querem regularizar a produção para que, quando receberem a matéria-prima, possam entregar essa demanda. No caso, o Cisamvi precisa entregar o que está no contrato”, continua Vanessa.
Atualmente, as entregas estão sendo negociadas com as empresas. “Agora, o nosso trabalho é acompanhar esses fornecedores e colocar em prática o que traz o edital. Cada dia é um dia. Vamos acompanhando sempre. Todos os medicamentos estão sendo efetivamente negociados. Dos altos e baixos que passamos, não tenho dúvidas que vamos passar por esse desabastecimento”, completa.
De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), o desabastecimento de medicamentos essenciais também é causado pela descontinuidade da produção de alguns fármacos pela indústria para priorizar medicamentos com maior demanda gerada pela pandemia de Covid-19; disseminação de epidemias, notadamente de síndromes respiratórias e doenças virais; e a necessidade de substituir os medicamentos em falta, o que gera um efeito cascata, dificultando o acesso aos fármacos que substituem aqueles com o abastecimento mais crítico
Guabiruba
Em Guabiruba, a farmacêutica responsável técnica da Secretaria de Saúde, Heloá Klabunde Maestri, comenta que a falta de medicamentos afeta o atendimento na rede.
“É real, esse desabastecimento não é só na rede pública, na rede privada também. Os pacientes acabam tendo que retornar ao médico, pois não acham o remédio nem aqui na farmácia nem para comprar. Retornam para o médico dar outra opção”, relata.
Heloá salienta que, como o problema acontece há mais de um mês, os médicos já estão mais preparados na hora de prescrever um remédio. “É uma realidade nacional. Ou seja, os médicos acabam dando outras opções aos pacientes para que consigam comprar. Por enquanto estamos dando um jeito, mas não sei quanto tempo o sistema vai aguentar. As empresas não nos deram previsão”, comenta.
Botuverá
Já em Botuverá, a secretária de Saúde do município, Márcia Cansian, conta que o município também faz parte do consórcio Consórcio Interfederativo Santa Catarina (Cincatarina).
Entretanto, mesmo por ser uma cidade pequena, o que facilita a compra direta pela necessidade, a falta de matéria-prima afeta a aquisição. “Mesmo que umas regiões tenham medicamentos por um determinado período, depois não terão mais”, salienta.
Um destaque, citado pela secretária, é a dificuldade de comprar os antibióticos. Neste caso, para resolver, a rede acaba remanejando com outros medicamentos que façam o mesmo efeito.
“O que vai acabar acontecendo, se isso não se resolver também, é aumentar o número de internações por falta de um tratamento ambulatorial. Ou seja, a falta desses medicamentos causam a piora do quadro”, avalia.
Soro fisiológico
Além dos medicamentos, Márcia cita a falta de soro fisiológico, muito usado no tratamento de pacientes com dengue. “A gente se precaveu, fizemos uma compra importante. Estamos fazendo uma ata de registro de preços com o estado, que compra para todos os municípios”, diz.
Entretanto, a preocupação dos profissionais da saúde é com o fim do inverno, quando as estações mais quentes proporcionam a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
“Temos que fazer, também, o trabalho antecipado por estarmos no inverno e com a situação de dengue. Todo o trabalho de prevenção de orientação à população não diminuiu”, finaliza.