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Desigualdade e liberdade

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  • 26/07/2016
  • 16:30

 Um assunto muito controverso é a desigualdade brasileira. Bem, que somos um dos países com maior desigualdade social todo mundo já sabe, passamos parte dos nossos anos escolares ouvindo isso dos professores ou até mesmo em propagandas eleitorais na TV. Mas o que parece ser pouco discutido é o porquê de o nosso país ser assim. Qual seria a origem de tanta concentração de renda? Uma pergunta certamente muito abrangente e as respostas que estamos acostumados a ouvir giram em torno de uma moralidade de admissão da culpa – a nossa história, a nossa sociedade – por irmos tão mal no ranking de igualdade. Questões como “A opressão das elites patriarcais”, “os baixos salários pagos pelas grandes empresas” são explicações que fazem a atribuição do problema a algum inimigo “imaginário’’– geralmente os ricos – a culpa pela situação dos pobres.

 

Se você questionar algum professor ou acadêmico de sociologia ou economia sobre as causas da desigualdade no Brasil, ouvimos frases sobre a “a ação do livre mercado” e “a exclusão causada pelo capital”. Bem, essa visão, na verdade, está correta. É claro que o capitalismo e o mercado causam desigualdade. O que os economistas chamam de mercado é nada mais que a reunião de pessoas que desejam fazer trocas de forma voluntária de bens entre si. E as pessoas têm interesses, preferências e necessidades diferentes, principalmente num país com uma pluralidade cultural tão grande quanto o Brasil. Essa diversidade de preferências faz a renda se concentrar.

 

 

Isso fica claro num exercício de imaginação simples de compreender. Suponha que, de repente, todo o dinheiro do Brasil é dividido igualmente entre todos os cidadãos. De um dia para o outro, nos tornamos um país mais igualitário que a Noruega. Grandes homens, como Silvio Santos, e o cobrador de ônibus acordam com o mesmo patrimônio. Agora imagine que, no dia seguinte a essa revolução igualitária, surge na internet um canal de humor. Os humoristas desse canal escrevem roteiros geniais, que seus vídeos logo geram comentários e milhões de visualizações. Ao clicar tantas vezes nos links dos seus vídeos, os brasileiros dão mais dinheiro a esse grupo de humoristas que a outros, criando a desigualdade no mercado de humor pela internet. Tal canal ficaria com a maior parte da verba destinada a canais de comédia do YouTube, sem falar nos anunciantes que, de livre e espontânea vontade, decidirão usar sua parte da renda dividida igualmente entre os brasileiros para contratá-los como garotos-propaganda. A situação inicial, em que todos os brasileiros tinham a mesma renda, terá desaparecido. Os humoristas não agridem nem oprimem ninguém ao aumentar a desigualdade no Brasil. Muito pelo contrário, eles divertem milhões de pessoas e foram remunerados justamente pelo seu talento. Então os brasileiros, para preservar a igualdade nacional, deveriam ser proibidos de assistir tantos vídeos desse canal e obrigados a assistir a outros? Não, os brasileiros são livres para assistir ao que quiserem, e essa liberdade concentra a renda.

 

Da mesma forma, que os fãs de Heavy Metal estão dispostos a pagar um valor bem elevado em um ingresso do show do Metallica, mas de forma alguma iriam ao show do Amado Batista mesmo se o ingresso custasse 10 reais. Ao escolher pagar a uns artistas mais que a outros, o fã de Heavy Metal está aumentando a desigualdade no mercado da música. Deveríamos proibi-lo de tomar essa decisão? Deveria o governo obrigar o rapaz a pagar por um show do Metallica o mesmo que ele paga em um show do Amado Batista? Apesar de interessante, isso seria injusto. As pessoas são livres para tomar decisões que aumentam a desigualdade – mesmo as decisões mais absurdas e disparatadas.

 

O mesmo acontece no mundo dos esportes. Imagine que o jogador de futebol Lionel Messi assinasse um contrato para jogar numa partida cobrando mais que os outros jogadores. Como Messi é um craque do Futebol, muitas pessoas exerceriam seu livre direito de escolha e aceitariam pagar mais para assisti-lo ao vivo. A situação inicial, de igualdade total entre os cidadãos, não seria estável numa sociedade livre, pois, como o economista ganhador do prêmio Nobel Milton Friedman concluiu, “A sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade irá terminar sem igualdade e liberdade”.

 

A livre-iniciativa torna o Brasil e todos os países do mundo desiguais, mas ela não é suficiente para explicar porque somos campeões mundiais nessa modalidade. É apenas um dos diversos aspectos. A concentração de renda tem causas além das forças do mercado. Liberdade e igualdade não podem caminhar de mãos dadas.

 

 

Daniel Amaral dos Santos – 17 anos – terceiro ano