João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Dia das Crianças e telefone celular

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Dia das Crianças e telefone celular

João José Leal

Amanhã, em homenagem à santa padroeira do Brasil, é feriado nacional. Comemora-se, também, o Dia da Criança. Não sei porque criaram um dia especial para a criançada. Quem tem filhos pequenos, sabe muito bem que eles precisam de carinho, atenção e cuidados especiais todos os dias. No meu tempo de guri, ninguém falava do Dia da Criança. Mas, a data é oficial, tem até decreto presidencial, de 1924. Como se vê, temos leis para tudo.

A verdade é que, até os anos de 1960, não se comemorava a data. Foram os donos das fábricas e lojas de brinquedo, com a força da propaganda comercial, que criaram esse costume de se presentear os filhos amados. Há mais de um mês, os meios de comunicação estão a fazer propaganda dos mais incríveis objetos de desejo dos caras de anjo e muitos pais são colocados em saia justa, diante da extravagância dos regalos pedidos.

Neste tempo de ludismo eletrônico, sem livro de cinderela, sem brinquedo de pau ou de lata, imagino o bilhete de um garoto de sete anos: “Kerido Pae, amanhan é dia da criansa. Axo que sou um bom garoto. Pesso de prezente um telefone celular, como aquele dos meus amigos”. É possível que grande parte da garotada preferiu verbalizar o pedido. É mais fácil, direto, rápido e criança sempre quer a coisa resolvida na hora. Além disso, a linguagem escrita está cada vez mais difícil, abandonada e maltratada.

Na forma oral ou escrita, pedidos mil devem ter sido feitos a pais corujas e os lojistas mais que satisfeitos com as vendas para atender aos caprichos dos pequenos anjos. Amanhã, estarão a desempacotar suas encomendas. Quantos brinquedos eletrônicos estarão fazendo a alegria, mesmo que efêmera, da criançada? Não se sabe. Para os pais, a alegria e felicidade dos filhos não tem preço.
Tudo muda. Afinal, o processo histórico não pode parar. Mas, nunca pensei ver criança de sete anos, esquecer da boneca ou da bola para desejar um telefone celular, esse aparelho esperto que vive colado à palma da mão dos adolescentes, dos adultos e do pessoal da terceira idade, porque a velhice também merece viver conectada.

O time estará completo. Agora, nossas crianças passarão o tempo de suas tenras existências de celular na mão. Não usarão o aparelho para falar com seus pais ou amiguinhos, mas o olhar estará vidrado na telinha mágica. Seus pequenos e ágeis polegares estarão a comandar foguetes, espaçonaves e as armas mais destruidoras de uma guerra virtual, no campo dos jogos cibernéticos. Não sei como acabará essa guerra do futuro.

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