Dia do Carteiro
Já não esperamos o carteiro como antigamente, quando o simpático e sempre bem-vindo funcionário do Correio chegava à nossa porta para nos entregar cartas de familiares, de amigos e, emoção maior da juventude, da amada que estava longe. Agora, quando ele chega, é para nos trazer faturas de contas a pagar, encomendas do Sedex ou […]
Já não esperamos o carteiro como antigamente, quando o simpático e sempre bem-vindo funcionário do Correio chegava à nossa porta para nos entregar cartas de familiares, de amigos e, emoção maior da juventude, da amada que estava longe. Agora, quando ele chega, é para nos trazer faturas de contas a pagar, encomendas do Sedex ou folhetos de propaganda de produtos que não queremos comprar.
Neste novo tempo de vida informatizada, comunicação se faz, direta e instantaneamente, pelas ondas invisíveis da internet, por meio desse esperto aparelho chamado celular, sempre na palma das nossas mãos. Agora, somos todos internautas, navegantes desse mar infinito, viajantes dessa estrada sem limites, desse caminho sem fim das redes de comunicação social. Vivemos recebendo e enviando fotos e mensagens mil, mas escrevendo pouco, porque a onda agora, qual tsunami a conduzir nossas ações é repassar, compartilhar, mandar para frente, numa corrente virtual sem fronteiras e sem fim.
E assim, já não lembramos mais da figura simpática e familiar do carteiro da nossa rua, trazendo aquela tão esperada carta. O convívio diário ou semanal fazia do carteiro uma pessoa amiga, de confiança, em muitos casos, uma pessoa da casa, que podia adentrar o lar dos destinatários a fim de uma conversa amiga ou para entregar em mãos a correspondência ansiosamente esperada.
Quem assistiu ao filme O Carteiro, sobre o exílio de Pablo Neruda, numa pequena cidade italiana, sabe bem do que estou falando. O poeta, então já conhecido mundialmente e mais tarde ganhador do Prêmio Nobel, se tornou um grande amigo do carteiro Mário, que quase todos os dias entregava a intensa correspondência destinada a Neruda.
Sei dos meus limites como cronista e não tenho qualquer pretensão ao Nobel da Literatura. Mas, também tenho minha história de carteiro. Quando estudei na França, minha hoje esposa de 50 anos de vida conjugal, Ana Maria, tinha ficado em Chapecó. Enamorados, mantivemos uma intensa correspondência enviada e recebida semanalmente. Apaixonado, esperava as cartas da minha amada com a maior ansiedade e com a imensa saudade de quem estava distante, tão longe que mais parecia um exílio.
Sem dúvida, o Correio dos meus tempos de juventude foi o grande mensageiro de palavras e promessas de amor eterno. É verdade que muitas cartas levaram mensagens não cumpridas. Afinal, a paixão é uma fogueira que incendeia rápido jovens corações e, muitas vezes, logo se apaga. Mas, nem todas as cartas foram mensageiras de palavras em vão e de promessas perdidas. Quantos amores prometidos e declarados não resultaram numa união conjugal duradoura até a morte?
Lembrei-me de escrever esta crônica para mandar o meu afetuoso abraço a esse funcionário que ainda nos traz correspondência. Afinal, ontem foi o Dia do Carteiro.