Dia Nacional da Doação de Órgãos: moradores de Brusque falam sobre mudança de vida após transplante

Médica também explica importância do assunto ser debatido dentro de casa e da manifestação em vida

Dia Nacional da Doação de Órgãos: moradores de Brusque falam sobre mudança de vida após transplante

Médica também explica importância do assunto ser debatido dentro de casa e da manifestação em vida

O Setembro Verde é o mês de conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos. Ele surgiu em alusão ao Dia Nacional do Doador de Órgãos, comemorado nesta quarta-feira, 27. Por isso, a Associação Renal Vida está realizando mais uma de suas ações complementares alusivas à prevenção e conscientização. O tema da ação esse ano é: “orgulho em ajudar a salvar vidas!”.

A instituição aderiu a campanha que tem o intuito de unir todas as “peças” envolvidas com causa com o intuito de destacar que Santa Catarina é referência na doação de órgãos.

Nos últimos 17 anos de ranking, o estado foi destaque por 13 vezes com maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes.

Importância do tema

A médica nefrologista Ana Palazzo, que atua na Renal Vida, conversou com o jornal O Município e explicou pontos importantes sobre a doação de órgãos e os motivos pelos quais o tema deveria ser mais conversado entre as famílias.

“É importante que as pessoas manifestem para seus familiares o interesse de serem doadoras enquanto estão vivas. A decisão sempre será da família. Um ‘sim’ pode salvar muitas vidas. Há muitas pessoas esperando por uma doação, aguardando uma chance”, diz Ana.

Otávio Timm/O Município

A nefrologista explica que o assunto ainda é considerado um tabu dentro das famílias. Para ela, o que mais influencia a decisão das pessoas é a dor da perda, com isso, acabam esquecendo dos pontos positivos de uma decisão tão importante.

“É fundamental destacar que toda a equipe respeita rigorosamente cada etapa do processo. Há, por vezes, preocupações sobre a possibilidade de erro no diagnóstico, no entanto, é importante salientar que tais preocupações são infundadas. A determinação da morte encefálica segue as regulamentações do Conselho Federal de Medicina, sendo conduzida por dois médicos de diferentes especialidades, sempre respaldada por exames complementares. No que diz respeito à aparência do corpo após a doação, é importante esclarecer que não ocorrem deformações. O procedimento de retirada dos órgãos é conduzido como qualquer outra cirurgia, permitindo que o doador possa ser velado de maneira normal”, complementou.

Qualidade de vida

Gessica Sartoretto Baranowskide, de 29 anos, é natural de Machadinho D’Oeste
(RO) e foi transplantada no dia 11 de junho deste ano em Blumenau. Morando em Brusque desde a infância, Gessica conta que nasceu com duplicidade de órgãos, dentre eles os rins. Na infância, ela diz que realizou a retirada de três, ficando com apenas um. Ela é paciente da Renal Vida. 

“Em 2016, fazendo exames de rotina, soube que o rim perdeu grande parte de sua função, o que fez com que eu iniciasse o tratamento conservador. Em maio de 2021 iniciei o tratamento com a hemodiálise, o qual fiz por dois anos até sair o transplante”. 

Arquivo pessoal

Questionada sobre o que mudou na sua vida após o transplante, Gessica diz que a maior mudança é a ingestão de líquidos, ou seja, poder tomar água à vontade sem restrição.

“Outra mudança significativa é na alimentação, com a função renal normalizada, reflete-se em exames menos alterados, além é claro de não precisar mais fazer hemodiálise, e ter a chance de poder viver uma vida mais ‘normal’ possível. Como ainda é recente, há alguns cuidados que precisam ser tomados com a ingestão de alguns alimentos, isolamento nas primeiras semanas, entre outros. Apesar de ser recente, já sinto a melhora na qualidade de vida que o transplante me proporcionou”.

Gessica complementa dizendo que, para ela, a doação de órgãos é um ato nobre que beneficia várias pessoas. Graças a essa atitude, ela diz que voltou a ter uma vida melhor, além de poder fazer novos planos e valorizar cada momento da vida.

“A necessidade de um órgão pode acometer qualquer pessoa, e é sempre muito importante a conscientização das pessoas para a doação de órgãos. O ‘sim‘ de alguém pode, literalmente, ser a salvação de uma vida”, acrescentou.

“Posso ver minhas filhas crescerem”

Em maio deste ano, os rins de Ivan de Oliveira, 37, estavam completando três anos parados por conta de uma doença autoimune chamada Nefropatia por IGA. Ele realizava hemodiálise três vezes por semana em um período de três anos na Renal Vida. No ano passado disse ter tomado coragem para entrar na fila de transplante.

“Fui transplantado há quatro meses e estou muito feliz. Minha vida mudou. Hoje me sinto muito melhor, mais disposto e sem dores como era antes. Às vezes até esqueço que tenho a doença renal de tão bem e feliz que me sinto. É outra vida”, exclama.

Arquivo pessoal

O paranaense, natural de Clevelândia, se diz uma pessoa agradecida e prometeu que cuidará muito do rim que recebeu, honrando a família do doador. Ele mora em Brusque há cinco anos e também realizou o transplante em Blumenau.

“Sou grato a Deus pela família do doador que me permitiu ter uma nova chance de viver melhor e ver minhas filhas crescerem. Hoje penso em levar a vida mais saudável que posso para honrar a chance que recebi, eu vejo como um presente“.

“Sejam doadores e salvem vidas”

Albertina Angelina Hodecker, de 67 anos, foi transplantada dia 31 de outubro de 2022. Ela chegou a fazer diálise por um ano e nove meses. Albertina, que também é paciente da Renal Vida, tinha rim policístico, doença hereditária que sua mãe também tinha. 

“Tenho mais saúde e disposição. Só de não precisar fazer hemodiálise já me sinto mais independente. Não preciso mais de uma máquina para sobreviver. Agradeço a Deus por esse milagre. Fico triste pela pessoa (doadora) que perdeu a vida, mas ela salvou outras, inclusive a minha”. 

Arquivo pessoal

Natural de Botuverá, Albertina faz questão de agradecer pelo tratamento e atenção que recebeu dos profissionais que participaram dos seus procedimentos. 

“Ainda tenho consultas e exames de rotina, mas a atenção comigo continua a mesma. Agradeço muito aos médicos, enfermeiros, auxiliares do hospital e toda a equipe da Renal Vida. Sejam doadores e salvem vidas. Não tenham preconceito nem medo de receber um órgão. Não é tão assustador quanto parece. Tenha fé em Deus e na equipe que atenderá vocês. Sejam corajosos e lembrem que viver vale muito a pena“.

O processo

Hoje, no Brasil, para ser doador não é necessário deixar nada por escrito, em nenhum documento. Basta comunicar sua família do desejo da doação. A doação de órgãos só acontece após autorização familiar e existem dois tipos de doador: o vivo e o cadáver.

  • Doador vivo: qualquer pessoa saudável que concorde com a doação. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Pela lei, parentes até quarto grau e cônjuges podem ser doadores; não parentes, somente com autorização judicial;
  • Doador cadáver: são pacientes em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral). A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico como qualquer outra cirurgia. Desse tipo de doador podem ser retirados os seguintes órgãos: coração, pulmão, fígado, pâncreas, intestino, rim, córnea, veia, ossos e tendão.

Quando doados, os órgãos vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada Estado e controlada pelo Ministério Público.


Assista agora mesmo!

Décadas atrás, só o dialeto bergamasco era falado em Botuverá: “Nem sabíamos o que era o português”:


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