Dificuldade para receber materiais expõe problemas no programa Arthurzinho

Das 100 crianças que iniciaram no Guarani pelo Programa Arthurzinho ano passado, restam apenas 40 devido à exclusão de um período de atividades

Dificuldade para receber materiais expõe problemas no programa Arthurzinho

Das 100 crianças que iniciaram no Guarani pelo Programa Arthurzinho ano passado, restam apenas 40 devido à exclusão de um período de atividades

A descrição do objetivo geral do Programa Arthurzinho, criado pela prefeitura de Brusque, diz que ele existe para “permitir a prática de atividades esportivas a crianças de 9 a 15 anos, por meio de polos desportivos, no contraturno escolar”. Mas, após pouco mais de dois anos da iniciativa na cidade, alguns destes polos vem enfrentando problemas com a administração municipal para dar continuidade ao projeto e, consequentemente, atendar as crianças no esporte de base.

A principal reclamação ocorre no Clube Esportivo Guarani, local em que divergências políticas podem estar prejudicando a relação entre prefeitura e clube, respingando nas crianças, segundo a secretária da educação, Gleusa Fischer. [O presidente do Guarani, Osmar Boos, foi secretário de Turismo na gestão de Ciro Roza]. “Os interesses políticos são levados em consideração nestes momentos. Não deveria ser assim, já que estamos tratando de crianças, mas algumas lideranças tomam decisões baseadas nisso”, diz, sem fazer nenhuma referência.

Como o Programa Arthurzinho prevê a participação de alunos da rede pública de ensino em atividades no contraturno, o envolvimento da Secretaria de Educação diz respeito à inserção destes estudantes nos polos esportivos. Para obter o fim proposto no objetivo geral do projeto, a prefeitura, por meio da Secretaria da Educação e Fundação Municipal de Esportes (FME), entra em parceria com escolas ou clubes cedendo materiais e pagando instrutores. As agremiações se responsabilizam por disponibilizar a estrutura necessária.

A reclamação da diretoria do Guarani, contudo, é de que a prefeitura não vem cumprindo com sua parte no que tange a distribuição dos materiais para o funcionamento do projeto. De acordo com o instrutor de futebol da escolinha, José Carlos Torresani, o Zé Carlos, os pedidos de materiais não estão sendo atendidos. “Em julho, perguntaram o que faltava para o projeto. Entreguei um pedido para aquisição de 12 bolas e 12 cones. Até hoje, nada veio”, afirma.

O clube reclama de possivelmente estar sendo boicotado pela prefeitura. Segundo o diretor Alessandro Souza, as atividades devem ser canceladas caso não aja um acordo. “O clube não tem interesse se for dessa maneira”, diz, lamentando o fato de deixar as crianças sem atividades.

Atualmente, cerca de 40 jovens participam das ações no clube por meio do projeto. O número já chegou a 100, mas acabou reduzido em razão da perda de um período.

Segundo Souza, para suprir as necessidades da escolinha, o Guarani contribui com recursos do clube, o que gera desconforto entre os associados e mensalistas. Ele ressalta que o Guarani não recebe valor em dinheiro para ser um dos polos esportivos do projeto. A contrapartida é em forma de alguns benefícios, como mando de quadra na Arena Brusque, quando o clube precisa para suas competições, e transporte para eventos fora do município. Este ano, segundo Sousa, a FME cedeu um carro para que membros da diretoria acompanhassem um torneio de futsal fora de Brusque no qual o clube participou.

Opiniões distintas

 

O Programa Arthurzinho tem como objetivo fomentar o esporte de base nos bairros da cidade. O objetivo é atender todas as comunidades brusquenses por meio do incentivo à prática esportiva em modalidades variadas como futebol, futsal, tênis de mesa, atletismo, natação, entre outras.

Assim como no Guarani, um representante de um segundo polo também comentou sobre dificuldades, mas não quis gravar entrevista. Ele afirmou que recebeu apenas uma bola durante todo o funcionamento do projeto. De acordo com este, outros responsáveis de polos também estariam insatisfeitos, mas preferem não abordar a questão para não prejudicar o relacionamento com a Fundação Municipal de Esportes (FME).

Embora em alguns centros haja reclamação sobre a falta de condições para o trabalho, em outros, no entanto, a iniciativa tem sido eficiente. É o que afirma Almir Coutinho, que instrui futebol de campo nos bairros Santa Rita e Steffen. Diferente do que ocorre em alguns polos, ele diz que foi atendido pela prefeitura quando precisou, apesar de destacar a simplicidade do pedido. “Pedimos apenas algumas bolas, e recebemos”.

O mesmo acontece com José Evelásio Dietrich, o Zecão, que instrui futsal no ginásio do Colégio São Luiz para o Programa Arthurzinho. “Tudo que pedimos, vem. Continuamos trabalhando de manhã e à tarde, e começamos no mês de março a atender as crianças”, afirma Zecão.

“Não há pedido”
Edson Garcia, coordenador do Programa Arthurzinho, no entanto, contradiz os instrutores. Ele assume que existem problemas. Destaca, ainda, que o Guarani não é o único clube defasado em materiais esportivos. “Recolhemos as listas com os pedidos, mas ninguém recebeu o que foi requisitado”. Garcia comenta que a responsabilidade é da FME em atender as necessidades dos clubes e escolas integrantes do projeto.

O superintendente da fundação, Deivis Silva, afirma que não há registro de pedidos de materiais do Guarani este ano. No entanto, reitera o que Garcia falou sobre as requisições. “Nós não conseguimos suprir as necessidades de materiais dos clubes porque quando as listas chegaram para a gente, já havia passado o período de licitações”, explica.

Em meio às divergências, Gleusa Fischer observa que é necessário um entendimento com o clube. Segundo ela, não é de interesse da administração perder o parceiro. “O clube tem boa estrutura. Existe a vontade de continuar com eles no projeto. Não queremos que estas crianças fiquem sem rumo”.

Expectativa frustrada
O ano de 2013 acabou bem para o Guarani no que se refere ao Programa Arthurzinho. Foram 100 crianças participando ativamente da escolinha, divididas em dois períodos, matutino e vespertino. Por esse motivo, Zé Carlos criou uma boa expectativa para 2014, acreditando que a prefeitura reconheceria o trabalho feito no clube. “Não imaginávamos um número tão grande de crianças. Cheguei a ouvir de pessoas relacionadas ao projeto que o Guarani foi a melhor surpresa entre os polos esportivos”.

As frustrações vieram logo no início deste ano. Previsto para retornar do recesso em janeiro ou fevereiro, a Prefeitura de Brusque autorizou a volta das atividades do Arthurzinho no Guarani somente em maio. “Isso é ruim para nós porque algumas crianças foram procurar outras escolinhas, algumas desistiram de participar. Recebíamos muitas ligações para saber o que aconteceu, e porque não voltamos”, afirma Zé Carlos.

Além disso, outro problema surgiu neste ano. A prefeitura decidiu que o Guarani só poderia aplicar aulas de futsal no período vespertino. Com as desistências e o cancelamento de um turno da escolinha, restaram apenas cerca de 40 crianças participando do projeto.

Outra reclamação do instrutor neste ano é a falta de acompanhamento dos responsáveis do Arthurzinho. Segundo ele, o Guarani recebeu apenas uma visita de um coordenador do projeto, quando foram requisitados materiais para o clube que até hoje não vieram.

‘Isso não procede’

Deivis Silva defende que Edson Garcia faz visitas regulares nos polos esportivos. No entanto, o superintendente acrescenta que neste período de Jasc e Jogos Escolares o coordenador do Programa Arthurzinho não teve tempo para observar os polos. Sobre a perda de um período no Guarani, Silva afirma que se refere ao excesso de carga horária do professor Zé Carlos, que além das atividades na escolinha também é professor de educação física em escolas da rede pública.

 

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