Divulgados nomes de vereadores de Brusque suspeitos de tentar corromper testemunha
Celio de Souza (PMDB), Marli Leandro (PT) e Felipe Belotto (PT) são citados em depoimento de Íria Boni de Mello em caso de desapropriação de terreno pelo Samae
O presidente da Câmara de Vereadores, Jean Pirola (PP), divulgou na tarde desta sexta-feira, 11, os nomes dos vereadores acusados de tentativa de corrupção à testemunha, em ação judicial julgada recentemente, que envolve desapropriação de terreno pelo Samae de Brusque.
Segundo consta na sentença proferida pelo juiz Edemar Leopoldo Schlösser, os vereadores Celio de Souza (PMDB) e Felipe Belotto (PT), suplentes que à época ocupavam o cargo; e Marli Leandro (PT) são suspeitos de tentar corromper uma das testemunhas, a senhora Íria Boni de Mello, em 2013.
Souza, inclusive, foi presidente da CPI que investigava o caso no Legislativo, no mesmo ano.
À Justiça, dona Íria informou que os três vereadores compareceram à sua casa “com a intenção de comprarem a si e a seu marido para que confirmassem ter vendido o terreno ao Samae por R$ 350 mil”.
À época, questionava-se a falsificação de assinaturas de dona Íria e seu Marido no termo de desapropriação do terreno, que pertencia a Denis Smaniotto e foi desapropriado pelo Samae.
O presidente da Câmara fez, na quinta-feira, 10, pedido de informação à Vara Criminal, solicitando acesso à sentença e ao conteúdo audiovisual dos trechos em que os vereadores são citados, o que foi acatado nesta sexta.
Corregedoria avaliará caso
Jean Pirola determinou ainda que o conteúdo da sentença e a gravação do depoimento de dona Íria seja encaminhado à Corregedoria da Câmara, para tomada de providências.
Recebendo o documento, a corregedoria deverá elaborar relatório sobre o caso, havendo duas opções. Se o corregedor considerar que não há indício de má conduta por parte dos vereadores, será arquivado.
Caso o corregedor considere que há indícios suficientes de má conduta, ele determinará a abertura de um processo administrativo disciplinar ou de uma comissão, formada por cinco vereadores, para avaliar o caso.
Essa comissão ouvirá testemunhas, ouvirá os envolvidos e produzirá novo parecer, cujas penalidades previstas vão desde a suspensão do vereador até a cassação do mandato. Há, nesse caso, também a possibilidade de arquivamento.
Moacir Giraldi (PTdoB), corregedor da Câmara, disse que ainda não teve acesso à integra do depoimento de dona Íria e, por isso, não comentará o mérito do caso.
Contudo, garantiu que os encaminhamentos de responsabilidade da Corregedoria serão feitos imediatamente.
O que dizem os vereadores?
O Município Dia a Dia entrou em contato com os vereadores citados. A vereadora Marli Leandro confirma que foi até a casa de dona Íria e seu Raul de Mello, acompanhada pelo então vereador Célio de Souza, logo que começaram a aparecer denúncias sobre o caso, antes de ser criada a CPI da Câmara para investigar o assunto.
“Fui a convite do Célio conversar com eles para se inteirar do assunto, ver se conseguíamos alguma informação da família diante das denúncias que foram aparecendo na Câmara. Chegamos lá, conversamos com a dona Íria fora da casa dela, não ficamos nem cinco minutos e ela nos disse que o seu Raul já estava adoentado por conta desta situação e ela já teria dito que o preço que eles receberam pelo terreno foi o que a família queria e que se outra pessoa vendeu por outro valor não é problema deles. Ela disse também que já havia ido até o juiz prestar depoimentos e nós fomos embora, nunca mais tive contato com eles”.
Marli afirma que não teria motivos para influenciar o depoimento da família.
“Não estava envolvida no caso, não tinha nenhum motivo para fazer isso, não tinha ninguém do meu partido envolvido. Essa denúncia não tem lógica nenhuma. Não tenho nada a esconder, estou tranquila e se houve alguma coisa diferente disso quero que me provem”.
Felipe Belotto, que era o relator da CPI do Samae, também confirma que conversou com dona Íria durante o andamento da investigação.
“Estive na casa da dona Íria e, inclusive, falei disso na CPI. Nosso servidor da Câmara tinha ido duas vezes na casa deles para tentar coletar assinatura do seu Raul para prestar depoimento na CPI. Isso foi lá em 2013, e como teve duas negativas, eu convidei o Célio que era morador do bairro e conhecia a família e fui lá, a dona Íria me atendeu na porta da casa, disse que não ia assinar porque o Ministério Público já tinha dito pra ele não falar com mais ninguém, que o seu Raul estava debilitado e que não iria até a CPI, na sessão seguinte que teve eu relatei essa questão, e nunca mais falei com ela”.
De acordo com ele, a situação é completamente inverossímil. “Não teria o menor interesse em alterar o depoimento deles, eu estava como relator e tentando cumprir o meu papel de convidar o seu Raul para participar da CPI”.
Célio de Souza, que era o presidente da CPI na época, preferiu não se manifestar sobre o assunto. “Ainda não recebi nada, vou aguardar os acontecimentos e ver a situação com o meu advogado. Prefiro não me manifestar por enquanto”.