Movida pelo entusiasmo
Sem perder o foco no relacionamento com os clientes, Lemus Calçados se moderniza e estuda expansão para outras cidades
Inquieta, de gestos expressivos e com gosto por uma boa conversa, Eni Teresinha Barni Beuting, 61 anos, imprimiu na Lemus Calçados a sua personalidade. A empresária criou a rede de lojas a partir dos conhecimentos que recebeu do pai, também do setor calçadista.
Há quase 40 anos, a rede nasceu em uma pequena sala de 50 metros quadrados, na travessa Guilherme Krieger, no Centro de Brusque, e desde então não para de crescer.
Hoje, são seis lojas, todas no município. A rápida expansão dos últimos dois anos, com a abertura de duas unidades no Centro e no Santa Terezinha, é o reflexo da empresária – sempre em busca de crescimento.
A última loja foi aberta em abril deste ano, em frente ao centro comercial FIP, na rodovia Antônio Heil. A inauguração pegou muitos de surpresa. Perguntavam-se se haveria mercado para tantas lojas. Cinco meses depois da inauguração, Eni garante que valeu a pena e o resultado está a caminho.
A abertura da loja não foi um tiro no escuro. Muito pelo contrário. Com a experiência de mais de 40 anos no mercado brusquense, Eni identificou uma necessidade na região conhecida pelo turismo de compras. “Percebi que muita gente que vem para Brusque fica por lá. O que eu pensei? Vou pôr uma loja no entorno, e estou muito feliz, porque loja tem que estar onde têm pessoas”.
As pessoas mudaram, mas os valores do ser humano continuam os mesmos. Sempre valorizei os meus clientes
A inauguração da sexta loja, no modelo de autoatendimento, marca também a virada de uma página para a Lemus. Consolidada no mercado local, com mais de 70 mil clientes cadastrados no crediário próprio – fora aqueles que compram à vista ou no cartão de crédito -, a empreendedora não quer parar e pretende expandir para outras cidades.
“Abri duas lojas nos últimos dois anos. Para Brusque, já é o suficiente, mas quero crescer em vendas porque a cidade tem cada vez mais gente. Vou melhorar as lojas e estou renovando meu administrativo, e assim que terminar, vou projetar a entrada em outras cidades”.
A presença maciça da Lemus em Brusque é o retrato da personalidade de Eni. Desde que começou a trabalhar no varejo, na década de 1970, em Joinville, no Norte do estado, ela não sabe o que é ficar parada. Adotou essa característica como lema para a rede, por isso, apenas na avenida Cônsul Carlos Renaux, são quatro unidades.
Com quase quatro décadas, a empresa não foi engolida pela tecnologia porque se atualizou. Hoje, a rede conta três lojas de autoatendimento. A escolha pelo sistema é simples: boa parte das pessoas prefere fazer tudo sozinha.
“A Lemus acompanha o mercado”, justifica Eni. Com o mundo digital, o imediatismo tem ganhado força. Não há como lutar contra, por isso a empresária optou por utilizar os dois modelos.
Estímulo aos funcionários com concorrência interna
Eni tem jeito de vendedora. Adora conversar, trata as pessoas pelo nome e não tem vergonha, tampouco medo, de abraçar. Assumidamente, é empreendedora e não consegue se contentar com o status quo por muito tempo. Na administração da rede calçadista, ela imprime essa mesma personalidade.
A gestão de pessoas é feita de tal forma que estimule a concorrência interna e a motivação dos cerca de 110 funcionários. Todos recebem metas mensais, semanais e diárias para bater. “O varejo é maratona diária”, resume a empresária.
A aposta nas metas e campanhas motivacionais internas é um dos pilares para o crescimento sustentável e substancial da empresa. Ano passado, os gerentes concorreram entre si a uma moto, numa maratona de 90 dias de vendas. “É uma concorrência saudável entre eles”, diz.
Um dos mantras do modo de administração de Eni é sempre ter um objetivo à vista. Foi assim que ela fez com a abertura da sexta loja. Antes de tudo, calculou qual é o resultado que pretende atingir.
A empresa é a expressão da herança do pai de Eni, Guilherme Barni. Seu Lemus, como era conhecido, tinha uma fabriqueta de calçados sob medida em Vidal Ramos – cidade a 80 quilômetros de Brusque -, além de trabalhar na lavoura.
Abri duas lojas nos últimos dois anos. Para Brusque, já é o suficiente, mas quero crescer em vendas porque a cidade tem cada vez mais gente. Em breve, vou projetar a entrada em outras cidades
Quem quisesse era só procurar a Indústria e Comércio de Calçados Lemus. O pai de Eni fazia o desenho ao redor do pé do cliente e criava o calçado. À época, Eni era criança. Quando entrou na adolescência, foi estudar numa escola pública de Joinville, para cursar o segundo grau.
Na maior cidade catarinense, Eni estudava e trabalhava em um magazine. “Lá, eu ganhei um curso de vendas. Eu vendia de tudo, do sapato ao terno. Na época, os homens não iam à festa sem cabelo, por isso eu vendia até perucas. Aprendi muito”, lembra.
Já em 1973, Eni veio morar em Brusque. Seu pai havia se mudado para a cidade, visto que o negócio da Indústria Lemus crescera. Junto com os irmãos, a jovem trabalhou na empresa. Mas, em 1975, Seu Lemus faleceu em acidente.
A década de 1970 foi um período difícil. As vendas iam de mal a pior, e os herdeiros resolveram apostar na exportação. Não deu certo. A fábrica foi fechada e os irmãos se separaram.
Lemus nasce com homenagem ao patriarca
Em 1978, nasceu a loja Lemus Calçados, desta vez gerida apenas por Eni. O nome foi uma forma de homenagear o pai. Funcionou, no início, em uma pequena sala na travessa Guilherme Krieger. Ficava aos fundos de onde hoje há uma das filiais, a loja 1.
Os primeiros anos foram difíceis. Eni fazia de tudo, embora fosse a proprietária. Mas o tratamento ao cliente sempre foi a prioridade, e isso deu sustentação para superar todos os momentos ruins.
Em 1984, a enchente que atingiu Brusque devastou a loja. Sobraram apenas três prateleiras de calçados. Mas a Lemus voltou a funcionar, logo se mudou para a frente e foram abertas novas.
Naquele tempo, Brusque tinha poucos habitantes. Sabia-se quem era quem, de quem era filho e onde trabalhava. Por isso, na hora de dar crédito, Eni analisava cada caso. “Quando ia vender no crediário, eu olhava a pessoa, se ela parecia que ia pagar. Via onde ela trabalhava. ‘Acho que ela vai pagar, sim’, pensava”. Quando havia inadimplência, a cobrança era feita à noite, quando fechava a loja, pela própria Eni.
Os tempos mudaram, assim como a forma de concessão de crédito. Os cartões ganharam espaço, mas a Lemus até hoje mantém o crediário próprio. Eni diz que abandoná-lo seria inimaginável. Alguns clientes que compram na loja desde a década de 1970 ainda usam o crediário. Para ela, a manutenção do sistema é uma questão de respeito com eles.
Hoje, as filhas de Eni, Andressa Cristina Beuting Orduz e Fernanda Beuting Flores, seguem no ramo, aprendendo diariamente com a mãe. Andressa atua no setor de Marketing, enquanto Fernanda trabalha no Compras.
Entre os ensinamentos de Eni às filhas, está o segredo para ter prosperado por tantas décadas, ultrapassando período críticos da economia nacional: os valores da empresa. Passar confiança e credibilidade é primordial para o relacionamento com o cliente, avalia Eni.
Essa espécie de diretriz guia a Lemus desde a sua fundação. E não deve mudar. “As pessoas mudaram, mas os valores do ser humano continuam os mesmos. Sempre valorizei os meus clientes”, afirma a empresária.