João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Dois Papas

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Dois Papas

João José Leal

Quando renunciou, em fevereiro de 2013, Bento 16 alegou doença, velhice e que estava sem forças para continuar no comando de uma instituição com problemas chegando ao Vaticano dos quatro cantos do mundo. Parece que sua doença não era tão grave. Lá se vão seis anos de renúncia e o ex-papa continua vivendo em seu retiro voluntário.

Penso, ser mais razoável crer que Bento 16 renunciou por estar profundamente contrariado com as denúncias de corrupção, de pedofilia contra a Igreja e desencantado com as tramas presenciadas nos corredores do Vaticano. Sem forças para promover as mudanças necessárias, preferiu sair de cena.

Agora, depois de seis anos de seu retiro, Bento 16 volta a ser lembrado. O filme Dois Papas, coloca na tela da arte cinematográfica conversas ocorridas entre os dois pontífices, antes da renúncia de Bento 16 e da eleição do Papa Francisco. Embora algumas cenas possam desagradar a Igreja, o filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles merece ser visto. Afinal, Dois Papas não é um filme documentário. É cinema, arte e ficção sobre dois personagens da vida real. Está baseado num fato histórico, a renúncia de Bento 16 e a eleição do seu sucessor, Francisco.

Gostei do filme pelo excelente desempenho dos dois conhecidos atores ingleses, que não saem da cena. Todo o foco da narrativa se concentra nos encontros e conversas dos dois personagens. Mas o filme passa rápido e a monotonia corre longe do expectador. Como escreveu um crítico, os veteranos atores “são a joia lapidada desta obra dirigida por Meirelles”. O filme também é bom pela beleza da fotografia e das imagens, não só as tomadas no Vaticano e Capela Sistina, mas também aquelas cenas filmadas na Argentina.

Mas gostei, principalmente, dos diálogos que revelam sentimentos sinceros de humildade, de sofrimento, de remorso e de angústia que habitam a alma humana, inclusive a de personagens profundamente religiosos, um então Papa e o outro no caminho de tomar assento na cadeira de São Pedro. Ambos com uma mesma formação religiosa, mas cada um com sua diferente visão de mundo, os dois papas confessam que, em certos momentos cruciais de suas vidas, sentem-se atormentados porque precisam tomar difíceis decisões e parece faltar da voz divina lhes confortando.

Das sinceras discussões travadas no interior sombrio dos muros do Vaticano entre os dois personagens, emergem belas e emocionantes declarações de amor, de compaixão e de perdão em relação aos que carregam o fardo de culpas antigas nos ombros, sejam eles fiéis, leigos ou aqueles investidos da mais elevada missão pastoral da igreja.

Durante todo o transcorrer do filme, o espectador parece estar sentado numa cadeira assistindo a uma conversa entre os dois religiosos. Bento, parecendo velho e cansado, ainda papa, com o pesado fardo temporal da sua igreja nas costas. O outro, Francisco, querendo se aposentar como cardeal, nem imaginando que um dia também sentaria no trono episcopal para assumir essa elevada e sacrificante responsabilidade episcopal.

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