Domingo na avenida Paulista
Quando vou a São Paulo para visitar minhas filhas e meus netos, aproveito para assistir a bons filmes, peças de teatro e concertos. A capital paulista, sem dúvida, é o centro cultural deste país sem público para sustentar uma intensa programação cinematográfica, teatral e musical de boa qualidade.
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Aos domingos, depois das 10 horas, vale uma caminhada pela avenida Paulista. Tráfego fechado para o senhor automóvel, a emblemática avenida paulistana se transforma numa vasta pista de biciclos conduzidos por gente de toda idade, crianças, adultos e velhos, envergando vistosos uniformes coloridos como se estivessem competindo no Tour de France. Todos pedalando sobre o tapete negro das duas largas pistas que, durante a semana, é só automóvel e ônibus, passando apressados, ronco ensurdecedor, poluindo o ar que todos precisam para respirar e viver.
Caminhar pela Paulista aos domingos é, também, se misturar à procissão de gente de todos os tipos e procedências, muitos vindos de longe, até de outros países. Para quem gosta e está a fim, é visitar o Masp e conhecer seu excelente acervo de pinturas de autores brasileiros e estrangeiros. Faz bem, para a cultura de cada um de nós, as belas obras impressionistas e clássicas da renascença italiana.
Embaixo da enorme laje de concreto armado, pilar de sustentação só nas duas laterais, o prédio do museu parecendo despencar sobre frágeis cabeças, muitos colecionadores e curiosos borboleteiam de barraca em barraca da tradicional feira de antiguidades. Uns passam rápido, apenas olhando a infinidade de peças de manufatura artística, para os jovens desta geração digital meras quinquilharias, coisas sem significado e sem qualquer valor. Outros conversam, discutem procedência e preço. Estão à procura de um relógio, um prato, uma escultura, uma bengala, um disco, uma moeda ou qualquer outra peça rotulada de antiga para saciar um capricho ou completar a coleção.
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Caminhar pela Paulista aos domingos, é ouvir música de todos os tipos e gostos. É samba, forró, jazz, rock pauleira, até música erudita. A cada 100 passos, um grupo de músicos das praças e calçadas transformadas em palcos desses orfeus do século 21. A música e o ritmo são diferentes, mas os artistas parecem de uma mesma tribo étnica, todos cabeludos, barbudos, tatuados, de calças jeans, camiseta, som alto, estridente. No chão, o estojo da guitarra aberto, espécie de caixa de esmola para recolher as moedas de gente disposta a meter a mão no bolso e prestigiar a arte musical.
Tocam em busca de uma simples parada, de um minuto da atenção de caminhantes sem rumo e sem tempo, num domingo de pura ociosidade.