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Covid-19: quando acabará a pandemia?

Essa é a pergunta que povoa a mente de dez entre dez brasileiros. Após dois anos de pandemia de Covid-19 e muito sofrimento, mortes e perdas econômicas, todos parecemos estar no limite do nosso estado emocional enquanto tentamos continuar nossa vida como se a pandemia não nos afetasse mais.

Se há dois anos ficávamos assustados e consternados quando o número de mortes diárias por Covid-19 na Itália alcançava as duas centenas, hoje em dia quando ainda registramos várias centenas de mortes diárias por Covid-19 no Brasil (média móvel de mortes diárias é de 817), olhamos esses números mais com indiferença que com aflição.

Quando falamos em fim da pandemia devemos ter presente que a forma em que gestionamos a mesma, principalmente em nível de políticas públicas, é o que vai determinar seu controle.
O fim da pandemia é, na verdade, apenas uma transformação. Os especialistas em epidemiologia, infectologia e virologia são unânimes em afirmar que passaremos de uma situação de pandemia para outra chamada de endemia.

O que significa a palavra endemia? Significa que teremos um número de casos e de mortes estáveis ao longo do tempo. Devemos lembrar que não são os cientistas que determinam esta transição e sim os políticos e, por que não, a própria população. Qual é o número de casos e de mortes por Covid-19 que consideramos aceitáveis?

Vários trabalhos publicados relatam que a Covid-19 se transformará numa doença semelhante à gripe e que terá um aumento de casos nos meses frios do ano, quando as pessoas passam mais tempo juntas em ambientes pouco ventilados.

A despeito de que para muitos cidadãos a pandemia já acabou e portanto não usam máscaras e participam de aglomerações sem nenhum tipo de cuidado, a verdade é que a pandemia continua provocando um alto número de casos e de mortes no mundo e no Brasil, número que atualmente olhamos com total indiferença quando os atingidos são pessoas alheias ao nosso convívio. E, quando atinge alguém do nosso círculo de amizades ou familiares, assumimos simplesmente como fatalidade.

Alguns epidemiologistas, como o Dr. Pedro Hallal, acreditam que o ano de 2022 a pandemia poderá passar pra endemia desde que todos os países consigam vacinar suas populações, algo muito difícil de ser atingido no contexto atual, onde existem países que vacinaram apenas 1 % da sua população.

É urgente que esses países pobres recebam ajuda da comunidade internacional para que consigam imunizar seus cidadãos.

Um dos principais obstáculos para determinar uma data aproximada do momento em que entraremos para um estado de endemia é o fato que há muitos países onde o vírus SarsCov2 continua com alta taxa de transmissão, justamente isso facilita o aparecimento de novas variantes, a proliferação de novas variantes como já sabemos pode iniciar novas recidivas ou surtos de Covid-19.

A imunóloga Adelaida Sarukhan, do Instituto de Saúde Global de Barcelona, acredita que cada país determinará sua entrada na fase endêmica estabelecendo seus próprios critérios, qual é o número de casos e mortes diárias aceitáveis, quais as medidas que vamos tomar pra manter baixa a taxa de transmissão do vírus, os protocolos para testes diagnósticos, o uso dos recentes medicamentos antivirais contra Sars-Cov2 (atualmente com preços proibitivos mesmo para países do primeiro mundo).
O grupo da Dra. Adelaida acredita que o estado de endemia não será estabelecido até que todos os países não adquiram esta condição.

Dependendo das condições locais cada país tem a obrigação de gerir o controle da pandemia, mesmo países com níveis altos de vacinação como Estados Unidos reconhecem que não vão conseguir imunidade coletiva através da vacinação. Infelizmente, há uma parcela significativa da população que se recusa a tomar a vacina, evidentemente vão ter que manter a testagem em grande escala, uso de máscaras e medidas de distanciamento.

Em Europa há países com altas taxas de vacinados (mais de 70% com duas doses e mais de 50% com três doses) que já tem adotado o fim de uso de máscaras e de medidas de distanciamento social. Mesmo nestes casos a vigilância epidemiológica é necessária para reagir prontamente ao aumento significativo do número de casos.
O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz, acredita que o Brasil passará a situação de endemia de Covid-19 ainda este ano e que isto acontecerá em diversos momentos nas várias regiões do país.

Uma situação de endemia é também uma situação preocupante. Nos anos 80 trabalhei numa pequena comunidade do Pacífico onde a malária era endêmica, isso significava que todo dia atendia novos casos de malária e todo mês atendia mais de um caso de malária grave com evolução para malária cerebral e óbito. Passadas quatro décadas essas regiões continuam sendo endêmicas para malária, mesmo sendo a malária uma doença potencialmente erradicável.

O virologista de Oxford, Aris Katzourakis, publicou recentemente na revista Nature que uma situação de endemia também exige cuidados, que não é verdade que toda nova mutação viral será mais benigna, lembrando que a segunda onda da pandemia de gripe de 2018 causou mortandade muito maior que o surto inicial.

É altamente provável que a Covid-19 veio pra ficar como mais uma doença endêmica para as próximas décadas.

Será que após o grande público ter aprendido sobre como acontece a transmissão de doenças infecciosas respiratórias, continuará a comer aquela fatia de bolo contaminada com milhões de microrganismos do aniversariante? Responda aí querido leitor.