A depressão, embora tenha sua base biológica relacionada a alterações químicas e humorais no cérebro, é uma doença do corpo como um todo, ao considerar a amplitude dos seus sintomas.
Os principais sintomas são o desânimo na maior parte do dia, perda de interesse ou prazer em realizar qualquer atividade, perda ou ganho de peso, alterações do sono, agitação ou retardo psicomotor, fadiga, sensação de inutilidade e de culpa, dificuldades para se concentrar e pensamentos recorrentes de morte.
Se a maioria desses sintomas persistem por um período maior a duas semanas, está na hora de procurar ajuda do seu médico de confiança.
Algumas pessoas confundem depressão com tristeza. A tristeza é um sentimento passageiro que dura poucas horas ou dias, geralmente provocado por um motivo pontual, tipo a perda de um emprego ou o fim de um relacionamento. A tristeza não compromete o desempenho da pessoa e não tem o conjunto de sintomas corporais que a depressão provoca.
Se considera que ao redor de 20% das pessoas podem chegar a ter um episódio depressivo ao longo da vida, infelizmente a grande maioria não procura ou não consegue fazer um tratamento adequado para essa condição.
Acredita-se que o aparecimento de crises depressivas seja consequência de múltiplos fatores, um deles é o fator genético. Embora não tenha sido identificado um gene específico, tudo indica que a hereditariedade é de tipo poligênico (somatória de pequenas alterações em uma quantidade de genes). Se a herança poligênica é alta, o indivíduo teria maior propensão a sofrer de transtorno depressivo.
O outro fator bem conhecido é o estresse. Situações estressantes que se prolongam ao longo do tempo, ou a somatória das mesmas, podem facilitar o aparecimento de uma crise depressiva. Com o passar do tempo até mesmo situações pouco estressantes podem provocar uma recidiva dos sintomas depressivos.
É importante ressaltar que o estresse crônico tem um papel importante na ativação de respostas inflamatórias no cérebro. Esse é o argumento que sustenta a teoria das citocinas (substâncias que se liberam nos processos inflamatórios) como explicação para a base fisiopatológica da depressão e também da ansiedade.
Talvez seja um dos motivos para a alta incidência de depressão na Covid persistente. Reconhecidamente o Sars-Cov2 provoca alterações inflamatórias no nosso corpo.
Além disso, está confirmado que a depressão é também uma das sequelas mais frequentes da Covid-19, se considerar que atinge ao redor de 40 % dos afetados pela doença.
Provavelmente é mais frequente em aqueles que tiveram quadros clínicos mais severos, porém atinge pessoas que tiveram poucos ou nenhum sintoma.
Sabemos também que há uma série de doenças que têm uma alta incidência de depressão, as doenças cerebrovasculares, cardiovasculares, diabetes, doença de Parkinson, Doença de Alzheimer e Esclerose Múltipla são algumas delas.
Nas últimas décadas surgiram inúmeros fármacos antidepressivos muito úteis para aliviar os sintomas dos pacientes com depressão. Mesmo assim há uma porcentagem de pacientes que não reagem com terapia medicamentosa. A terapia cognitivo-comportamental tem sido de muita utilidade como tratamento principal ou coadjuvante em pacientes com depressão.
É necessário parar de estigmatizar as pessoas portadoras de depressão. O deprimido não é fraco, nem preguiçoso, nem incapaz ou fresco. A pessoa com depressão está doente e precisa de ajuda médica.
Todos podemos implementar medidas para diminuir o risco de sofrer transtornos depressivos . A mais difícil é diminuir os fatores estressantes, pois muitas vezes na correria do dia a dia sequer conseguimos identificar esses fatores porque muitas situações que causam estresse são consideradas “normais”.
A prática de atividade física regularmente é indispensável como medida preventiva de transtorno depressivo-ansioso.
Nos últimos anos tem aparecido evidências de que uma alimentação saudável também é necessária para manter uma boa saúde mental. A chamada dieta mediterrânea parece ser a melhor opção e com a vantagem de ser também eficaz para diminuir o risco de doenças cardiovasculares.
O genial Stephen Hawking nos deixou uma frase icônica sobre a depressão: “Buracos negros não são prisões eternas. Coisas podem escapar de lá por qualquer um dos lados. Assim é a depressão. Se você se sente dentro de um buraco negro, não desista. Sempre existe um jeito de sair”.