Estudos mostram que ao redor de 25% da população brasileira sofre de dor lombar crônica, a famosa “dor nas costas”, quando a dor lombar permanece por um período superior a três meses passa a ser considerada “crônica”.
O desenvolvimento de dor lombar crônica assim como a maioria de doenças crônicas vai depender da presença de fatores de risco, entre eles podemos citar o sobrepeso e obesidade, trabalhar diariamente na posição sentada (motoristas, costureiras, trabalho em escritórios), tabagismo, idade avançada, depressão, trabalhar levantando cargas pesadas, trabalho doméstico e o sedentarismo.
Na America Latina a incidência de dor lombar crônica é ao redor de 16% nas populações com poucos fatores de risco para dor lombar e de 65% para os grupos que tem muitos dos fatores de risco antes citados.
Considera-se que ao longo da vida mais de 80% da população adulta pode vir a apresentar dor lombar em algum momento. Ao redor de 40% destes irão se transformar em casos de dor lombar crônica.
Além do sofrimento que provoca em milhões de pessoas ao redor do mundo, as dores lombares são a maior causa de falta ao trabalho (absenteísmo) tanto no Brasil quanto no resto do mundo.
No Brasil, 270 trabalhadores se acolhem ao auxilio-doença diariamente por causa de dores lombares, isso significa um afastamento a cada 5 minutos.
Evidentemente além da situação médica individual de cada portador de dor nas costas, existe um problema para o sistema de saúde como um todo, um problema para a previdência social e um alto custo financeiro para as empresas.
Embora a dor lombar crônica possa ter muitas causas, a causa mais frequente está relacionada com processos degenerativos e de desgaste da coluna vertebral como um todo e em particular da coluna lombo-sacra. Desgaste ósseo de corpos vertebrais, de articulações vertebrais, degeneração e ruptura de discos intervertebrais, sobrecarga de ligamentos e sobrecarga de musculatura paravertebral estão relacionadas com a presença de dor nas costas.
Não há dúvidas que é a coluna vertebral o “calcanhar de Aquiles” da espécie humana.
Nas últimas décadas surgiu a hipótese antropológica para explicar essa fragilidade dos humanos.
A postura bípede e ereta dos humanos é uma adaptação que surge a partir da separação da linhagem dos hominídeos da linhagem dos chimpanzés há aproximadamente 6 milhoes de anos.
Transcorre cerca de 4 milhoes de anos para que aconteça a disseminação de humanos da África para a Eurásia e a posterior evolução das distintas espécies humanas. Cabe aqui lembrar que resulta difícil para nós humanos, que geralmente vivemos menos de um século, imaginar o que pode acontecer com uma determinada espécie depois de um milhão de anos ou de vários milhões de anos.
Todas as mudanças anatômicas (ósseas, musculares, neurológicas) que foram acontecendo nos homens primitivos e que o levaram ao andar ereto, à marcha e à corrida aconteceram num ambiente de savanas e bosques que não existe mais. Isso significa que nosso corpo foi modelado pela seleção natural para um ambiente diferente ao que habitamos.
Em termos gerais podemos dizer que os humanos adaptaram um sistema osteomuscular de um quadrúpede para a postura bípede, sendo que o principal problema derivado disto foi justamente a mudança de centro de gravidade justamente para a região da coluna lombosacra.
Devido a isto, a coluna lombar foi submetida a um regime de maior carga, estresse e desgaste. As hérnias de disco são causadas justamente por uma série de compressões e desgastes das vértebras e dos discos intervertebrais.
O estudo das doenças de nossos ancestrais e as mudanças adaptativas ao longo de milhões de anos tem dado origem a uma nova especialidade da medicina chamada de Medicina Evolutiva.
Graças a isso hoje podemos entender por exemplo que há variações genéticas em grupos humanos menos adaptados à postura bípede que tem uma maior facilidade para desenvolver hérnias de disco vertebral.
Embora cada caso tenha suas particularidades, a melhor forma de diminuir os sintomas da sua dor lombar crônica é combater os fatores de risco, diminuir o sobrepeso, iniciar atividades físicas sob orientação profissional, parar de fumar, adotar mudanças de postura o que exige muitas vezes uma ergonomia adequada de cadeiras e mesas, evitar carregar pesos, postura correta ao dormir com colchão adequado e deixar o uso de analgésicos e antinflamatórios apenas para as crises agudas.