Estudos epidemiológicos estimam que entre 20% a 40% da população sofre de algum transtorno do sono em algum período ao longo da sua vida.
Estima-se que cerca de 10% da população sofre de algum transtorno do sono crônico e muitas vezes grave, porque além de afetar consideravelmente a qualidade de vida do afetado também pode facilitar e/ou agravar uma série de outras condições clínicas.
Assim, por exemplo, sabemos que grávidas com algum transtorno do sono têm maior risco de ter partos prematuros e que adultos com transtorno de sono têm maior incidência de obesidade, hipertensão arterial, ansiedade e depressão.
São bem conhecidos os efeitos de noites mal dormidas sobre as funções cognitivas: diminui a atenção e concentração, dificuldades com a memoria imediata, irritabilidade e mudanças bruscas do humor.
Existem centenas de transtornos do sono, entre os mais comuns temos a insônia, a apnéia do sono, o síndrome das pernas inquietas, a narcolepsia e o transtorno comportamental do sono REM.
Muito se desvendou sobre a fisiologia do sono nos últimos 50 anos. Sabemos que o sono consta de fases 1, 2, 3 e 4, além de uma quinta chamada de sono REM (Rapid Eye Movement). É na fase de sono REM que temos os sonhos mais vívidos e até alucinatórios.
No total, uma noite é sucedida de 4 a 6 ciclos de sono, cada ciclo tem uma duração de 90 a 110 minutos. Na sociedade ocidental, a quantidade necessária de sono para os adultos varia entre 7 a 8 horas. Porém há pessoas que precisam de apenas cinco horas e outras de até doze horas para se sentirem descansadas e recuperadas.
A pandemia de Covid-19 tem aumentado o número de afetados com transtornos do sono. A insônia é uma das manifestações da chamada Covid persistente. Além dela, é frequente que os pacientes relatem dificuldades de concentração e de memória.
A insônia pode ser para iniciar o sono, para manter o sono e, também, no despertar precoce (ou uma combinação das três). Trata-se do mais comum dos transtornos do sono.
Há evidências que indicam que a maioria de portadores de insônia optam pela automedicação com medicamentos ansiolíticos ou hipnóticos (populares faixa preta). Contudo, o adequado nestes casos é que o paciente relate seus problemas ao médico, que saberá recomendar as medidas pertinentes e, se for necessário, pode sugerir uma consulta com um especialista em medicina do sono.
Já a apnéia do sono se caracteriza por episódios recorrentes em que o paciente para de respirar por alguns segundos durante o sono, É mais frequente em homens acima dos 40 anos, com excesso de peso, e muitos deles são portadores de doença cardiovascular.
A síndrome das pernas inquietas é um transtorno neurológico que se caracteriza pela necessidade de mover as pernas. Essa necessidade é maior nos períodos de repouso ou de inatividade e ocorrem principalmente à noite, o que atrapalha o sono e a qualidade de vida. Há uma predisposição genética e o tratamento farmacológico costuma ser eficaz.
Para melhorar as noites de sono é bom manter uma boa higiene do sono, que são medidas comportamentais que facilitam o adormecer e melhorar sua qualidade de sono. Entre essas medidas podemos citar:
1) Tentar ter horário tanto para dormir quanto para acordar;
2) Ir para cama somente quando estiver com sono;
3) Não deite com fome ou sede;
4) Evite comer ou beber muito antes de se deitar;
5) Não fume e evite bebidas com cafeína antes de dormir;
6) A atividade física melhora o sono, mas não deve ser praticada antes de dormir;
7) Evite levar trabalhos ou problemas para resolver na cama;
8) Procure deixar seu quarto com temperatura agradável, escuro e silencioso.
Finalmente, lembrando que muitos transtornos do sistema nervoso são acompanhados de insônia, nestes casos é necessário o tratamento desta condição causante, já que a insônia é apenas mais um dos sintomas de transtornos como depressão, ansiedade, estresse, etc.
Muitas personalidades famosas que sofrem ou sofriam de insônia. É bem conhecida a luta contra a insônia do grande compositor Richard Wagner (1836-1904), que caiu um pouco no esquecimento após o Terceiro Reich hitleriano o adotar como músico icônico. Wagner conseguia ter apenas algumas horas de sono usando opio.
O célebre romancista Stefan Zweig (1881-1942) sofreu de insônia crônica logo após abandonar Viena, sua cidade natal, fugindo dos nazistas. Passou seus últimos anos em Petrópolis (RJ), lugar onde escreveu “Brasil, país do futuro”. A insônia fazia as noites serem intermináveis e os dias pouco produtivos.
Talvez o escritor, também um insone, que melhor descreveu poeticamente o ato de dormir foi o argentino Jorge Luis Borges: “dormir é distrair-se do mundo”. Uma distração absolutamente necessária.