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Os cuidados com a visão na era das telas

Na sua conhecida obra “Ensaio sobre a Cegueira” o escritor José Saramago descreve uma cidade que é atingida por uma epidemia de cegueira, em pouco tempo apenas uma pessoa em toda a população tem sua visão preservada enquanto a população cega entra em um estado de completo desespero sendo vítima de atrocidades e de seus próprios medos.

Somos tão dependentes da nossa visão que fica difícil imaginar nossa vida sem ela e pior ainda imaginar uma sociedade toda vítima da cegueira.

Somente um gênio como Saramago para conseguir prever o quão caótica seria uma sociedade em que todos fossem cegos.

O hábito de passar longas horas olhando fixamente telas de celulares, computadores e tablets tem provocado uma série de sintomas bem conhecidos pelos oftalmologistas.

Os pacientes se queixam de uma série de sintomas como cansaço visual, ressecamento, vermelhidão, dor, ardência, irritação e turvação visual.

A esta agrupação de sintomas tem se denominado Síndrome Visual Relacionada a Computadores (SVRC) e sua incidência foi acelerada com o aparecimento da recente pandemia.

O olho é uma estrutura bastante complexa, tão complexa que existem uma série de subespecialidades oftalmológicas que se dedicam a tratar os transtornos de cada parte dessa estrutura, diga-se córnea, cristalino, úvea, retina, músculos oculares, etc.

Esquecemos que nossos olhos e todo o mecanismo da visão como um todo, nervos ópticos, vias ópticas e córtex visual também sofrem as consequências do envelhecimento.

Assim por exemplo o cristalino, uma lente natural que se encontra entre a córnea e o humor vítreo e que é necessária para fazer o ajuste de imagem para a visão de perto, vai endurecendo e opacificando com o passar dos anos.

Isto faz com que após os 40 anos a maioria das pessoas comecem a ter dificuldades para enxergar de perto sem auxílio de óculos corretores e também que os indivíduos com mais de 60 anos enxerguem com uma luminosidade reduzida que pode chegar a 50%.

Como esta mudança acontece gradualmente ao longo de anos, quase nunca é percebida.

O envelhecimento do cristalino, cuja degeneração é chamada de “catarata”, é a principal causa para a necessidade de cirurgia com a colocação de uma lente artificial que devolve a visão a milhares de pacientes todo ano.

A exposição aos raios ultravioletas é um dos principais fatores que facilita a formação de cataratas, em países como o nosso de grande exposição diária de raios solares é necessário o uso de óculos de sol quando estamos expostos aos raios solares.

Na população acima dos 75 anos a prevalência de cataratas pode chegar a 50%.

Outro transtorno frequente na terceira idade é a degeneração macular. A mácula é uma pequena porção da retina que tem como característica de ser o lugar onde se concentra a mais alta resolução visual.

A degeneração senil da mácula pode chegar a acometer até 28% das pessoas com idades superiores a 75 anos, sendo mais frequente em mulheres que em homens.

Além da idade avançada, outros fatores de risco são o histórico familiar da doença e o tabagismo.

Os pacientes portadores de diabetes e de hipertensão arterial devem estar atentos e fazer avaliações oftalmológicas periódicas para descartar o comprometimento da retina. A prevenção é sempre a melhor forma de evitar esta complicação.

O glaucoma que consiste em um aumento da pressão intraocular é outro transtorno que acomete a mais de 7% das pessoas com idades superiores a 75 anos.

O aumento da pressão ocular pode danificar o nervo óptico e provocar perda irreversível da visão. Em alguns casos o glaucoma pode dar poucos ou nenhum sintoma e por este motivo a pressão ocular deve ser medida em cada avaliação oftalmológica.

Para quem passa longas horas na frente de telas digitais se recomenda que a cada uma ou duas horas façam um intervalo de poucos minutos sem olhar para o monitor e o uso de colírios hidratantes ou lubrificantes (sem corticoide).

Muitas vezes só damos valor àquilo que perdemos, sendo a visão uma função tão importante no nosso dia a dia que devemos estar sempre atentos a qualquer sintoma.

As avaliações periódicas com o médico oftalmologista são necessárias não somente para os portadores de miopia, hipermetropia e astigmatismo.