Os efeitos da Covid-19 no cérebro
Foi publicada há poucos dias uma metanálise muito confiável sobre Covid-19 e sintomas pós-Covid do grupo da Dra. Sandra Lópes-Leon, o jornal é Scientific Reports, revista pertencente à Nature (uma das mais conceituadas do mundo).
Uma metanálise consiste em aplicar um método estatístico para analisar e integrar os resultados de dois ou mais estudos científicos. Para que os resultados de uma metanálise sejam confiáveis é necessário incluir no estudo apenas as publicações que seguem metodologia adequada e que cumpram com os parâmetros objeto da metanálise.
O grupo em questão analisou mais de 18 mil publicações e escolheu 15 que cumpriam os requisitos. Esses 15 estudos fizeram seguimento em 48 mil pacientes com Covid-19 (faixa etária de 17-87 anos) por um período de 14 a 110 dias.
Oitenta por cento dos pacientes relataram um ou mais sintomas pós-Covid, e houve relato de 55 sintomas diferentes.
Os sintomas mais frequentes foram fadiga (50%), cefaleias (44%), déficit de atenção (27%), perda de cabelo (25%), falta de ar (24%), perda de olfato (21%), tosse (19%), a lista é longa e inclui dor torácica, ansiedade, depressão, amnésia, dormências, sudorese noturna, dores articulares, confusão mental entre outros.
Chama muito a atenção a frequência com que ocorrem sintomas neurológicos associados ou não com fadiga, essa associação com a fadiga é muito semelhante ao quadro clínico conhecido como Síndrome da fadiga crônica, esta síndrome cuja causa não está bem estabelecida tem sido relacionada com infecções virais, disfunção imunológica, disfunção metabólica e fatores neuropsiquiátricos, evidentemente após Covid-19 mais de um fator destes pode estar involucrado.
Uma das queixas mais comuns após a Covid-19 é a dificuldade para lembrar fatos recentes (amnésia anterógrada), chama a atenção que pacientes que já eram portadores de Doença de Alzheimer podem ter uma deterioração significativa das funções cognitivas após a Covid-19. O pesquisador Brasileiro da Universidade da California, Alysson Muotri, demonstrou que o coronavírus pode afetar diretamente os neurônios além da já conhecida invasão que o Sars Cov 2 provoca nas células gliais (células de sustentação do cérebro).
Isto acontece seja entrando no cérebro pela via do nervo olfatório ou mesmo quebrando a chamada barreira hematoencefálica que protege o sistema nervoso central de microrganismos.
A bióloga Isabela Vargas, da UFRJ, acredita que o acometimento das células gliais, também responsáveis pelo processamento da proteína beta amiloide que se acumula nos cérebros dos pacientes com doença de Alzheimer, faz com que essa substância se acumule nos neurônios, provocando essa deterioração acentuada que observamos em muito pacientes com demência do tipo Alzheimer.
Já para explicar as alterações relacionadas ao Síndrome da Fadiga Crônica, as suspeitas caem sobre a resposta inflamatória que o Sars Cov 2 provoca no nosso organismo, é como se na Covid persistente vários órgãos e sistemas continuassem a ter certo grau de inflamação, provocando portanto uma série de sintomas clínicos.
A pesquisadora Lívia Stocco Valentim, da USP, relata que em uma amostra de 185 pacientes que tiveram Covid-19, quase 80% tinham algum grau de disfunção cognitiva, entre as mais frequentes estavam o déficit de atenção e a amnésia anterógrada.
É evidente que todo o sistema de saúde deve estar capacitado para atender esta demanda de pacientes afetados pela Covid-19. Muito ainda precisamos conhecer já que todas estas descobertas são recentes.
Em caso de estar sentindo algum sintoma após ter passado pela fase aguda da Covid-19 procure atenção médica e tente continuar mantendo hábitos de vida saudáveis como alimentação adequada, atividade física, leitura, dormir bem e evitar o acúmulo de estresse.