A pressão alta deixa sequelas e mata
É comum que as pessoas comecem um novo ano se esforçando para tentar cumprir aquelas promessas em relação a melhorar seus hábitos diários relacionados à alimentação, atividade física, sono noturno, etc.
O objetivo final é otimizar sua saúde física e mental ao mesmo tempo que se usufrui de uma melhor qualidade de vida.
Os que conseguem ser persistentes, focados e disciplinados estão de parabéns, após poucos meses adotando hábitos mais saudáveis conseguem perceber os benefícios desses esforços.
Um dos parâmetros fisiológicos que costuma melhorar muito ao aderir a um estilo de vida saudável é a pressão arterial. A Hipertensão Arterial, popular “pressão alta”, é uma das principais causas de doença no Brasil e no mundo.
Estudo publicado no The Lancet em 2019 calcula que existam 1,28 bilhão de hipertensos no mundo. Ao redor de 30% dos brasileiros são hipertensos, mas o problema maior é que muitos deles desconhecem ser portadores dessa doença.
Acontece que com frequência a pressão alta não provoca sintomas ou ocasiona sintomas mínimos aos que as pessoas não dão a devida atenção.
Assusta que apenas dois em cada dez hipertensos conseguem controlar de forma adequada a doença, o restante controla apenas de forma parcial ou intermitente e muitos convivem com níveis elevados de pressão arterial diariamente.
A hipertensão arterial é o fator de risco mais importante para uma série de complicações cardiovasculares como são os acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e os infartos de miocárdio.
Além disso, também pode levar a problemas de rim (insuficiência renal), doença arterial periférica (má circulação nos membros inferiores e/ou superiores) e insuficiência cardíaca.
Não podemos esquecer que os hipertensos tem maior risco de sofrer quadros de demência, seja por causa de demência vascular e também por doença de Alzheimer, alguns estudos mostram que a hipertensão aumenta o risco deste mal.
Quando estas complicações não são fatais podem deixar sequelas severas que vão afetar significativamente a qualidade de vida e também a expectativa de vida do paciente.
Uma das grandes preocupações em matéria de saúde pública é o fato que a hipertensão está acometendo cada vez mais populações mais jovens.
Um estudo da UFRJ publicado em 2016 mostrava que a prevalência de hipertensão nos adolescentes chegava a 10%. Sedentarismo, má alimentação e estresse podem explicar o inicio de hipertensão em pessoas jovens.
Mais de 50% da população acima dos 60 anos é portadora de Hipertensão Arterial já que a doença tem relação com o envelhecimento dos vasos sanguíneos, sobrepeso, sedentarismo, consumo de álcool e estresse.
O fator genético não é desprezível e se considera que influencia ao redor de 30% dos casos. Atualmente existem varias categorias de anti-hipertensivos que usados isoladamente ou em combinações conseguem controlar a hipertensão na grande maioria dos casos.
A grande dificuldade para controlar a pressão arterial radica na falta da aderência ao tratamento da maioria dos pacientes. Se considera que apenas 20% dos hipertensos tomam a medicação e controlam seus níveis de pressão arterial de forma adequada.
Isto explica a alta frequência de complicações cardiovasculares nesta população, campanhas de conscientização a este respeito são necessárias.
Quando falamos em medicamentos anti-hipertensivos não podemos esquecer do professor Sérgio Henrique Ferreira, médico e pesquisador da USP-Campus de Ribeirão Preto, tive a sorte de ser seu aluno.
Ao estudar os efeitos do veneno da serpente Jararaca que frequentemente causa queda de pressão na vítima, o Dr. Ferreira descobriu o fator de potencialização da bradicinina (BPF) que seria o precursor do Captopril, medicamento muito utilizado tanto como tratamento de uso contínuo quanto para controlar as crises hipertensivas.
Com certeza o Dr. Sérgio Ferreira contribuiu muito para poupar vidas e evitar sequelas severas da hipertensão no Brasil e no mundo.
Embora saibamos que é necessário diminuir o consumo de sódio, a OMS recomenda uma ingestão máxima de 2 gramas por dia (o equivalente a 5 gramas de sal comum), é necessário ir além e manter um estilo de vida saudável principalmente em relação aos hábitos alimentares e a prática regular da atividade física.
Não pare de tomar seu medicamento anti-hipertensivo sem a ordem do seu médico, isto porque com frequência atendemos pacientes que deixam de tomar seu anti-hipertensivo porque “acham” que estão curados.
Na grande maioria dos casos a Hipertensão arterial é uma doença crônica, antes de abandonar seu tratamento consulte seu médico.
Em muitos casos a ingestão de um único comprimido por dia pode proteger de complicações severas na sua saúde e prolongar seus anos de vida.