Vamos cuidar dos nossos rins
Recentemente um paciente que conheço há muitos anos teve que começar a fazer tratamento de hemodiálise. Seus rins não conseguiam mais manter o equilíbrio hidroeletrolítico e muitas toxinas começavam a se acumular pelo corpo.
Portador de hipertensão arterial e de diabetes, seus rins sucumbiram ante o avanço destas duas doenças crônicas.
Embora a hemodiálise consiga prolongar os anos de vida do portador de insuficiência renal crônica não devemos minimizar o fato que quem precisa deste tratamento terá sua qualidade de vida muito atingida. Em geral são três dias por semana dedicados para realizar as diálises e os dias restantes se recuperando dos efeitos da mesma.
Chama a atenção que 70% dos pacientes que ingressam no tratamento de hemodiálise descobrem que sua doença renal está avançada somente naquele momento. Isso significa que se tivessem identificado seus problemas renais antes poderiam ter tratado essa condição e, caso não conseguisse evitar o tratamento de diálise, pelo menos poderiam atrasar vários anos a sua necessidade.
Estima-se que no Brasil há cerca de 10 milhões de pessoas que sofram de alguma doença ou disfunção renal e ao redor de 100 mil pacientes precisam de hemodiálise devido a doença renal crônica em estágio avançado.
O paciente com doença renal crônica começa a ter sintomas quando já perdeu metade da capacidade funcional dos rins, muitas vezes os primeiros sintomas são a pressão alta, inchaço de membros inferiores e/ou rosto e anemia.
Os rins tem um funcionamento complexo e realizam inúmeras funções, não são apenas um filtro como consta no imaginário popular. Os rins estão compostos por mais de 30 tipos diferentes de células e tem como sua unidade básica os chamados “nefrons”. Nós nascemos com aproximadamente 900 mil deles.
Os rins eliminam os resíduos do metabolismo (catabolismo) das proteínas e ácidos nucléicos, por isso a urina é rica em ureia e ácido úrico.
Os resíduos do catabolismo de hidratos de carbono e gorduras são eliminados em forma de CO2 pela respiração e até o etanol é eliminado dessa forma, e não pelos rins como a maioria das pessoas pressupõe.
A ureia é abundante na urina, por causa disso os doentes renais que não conseguem excretá-la de forma eficiente e começam a acumular a mesma no sangue.
Já alguns tipos de ácidos nucleicos, como adenina e guanina, são eliminados pelos rins em forma de ácido úrico. A acumulação de ácido úrico por insuficiência renal também pode provocar gota (doença que provoca inflamação nas articulações).
Já a cor amarela característica da urina não tem relação nem com a ureia nem com o ácido úrico e sim com a presença de bilirrubina. A bilirrubina, que é um pigmento amarelado, é produto do metabolismo da hemoglobina. A hemoglobina, por sua vez, é produto da destruição dos glóbulos vermelhos mais velhos, que em número de milhões são destruídos a cada dia.
Todos vocês devem saber que seu médico se preocupa muito pelo resultado da creatinina na análise bioquímica do seu sangue. A creatinina vem da fosfocreatina, que é o resultado do metabolismo muscular, e os rins eliminam essa creatinina.
Pessoas com mais massa muscular eliminam mais creatinina. A quantidade dela eliminada na urina é um parâmetro muito importante para saber como está sua função renal. Já a quantidade de creatinina no sangue é um parâmetro indireto da função renal.
É verdade que os rins também eliminam certos fármacos que ingerimos. Muita vezes o fígado metaboliza esses fármacos e os transforma em hidrossolúveis para poderem ser eliminados pela urina. 90% da nicotina é eliminada dessa forma.
Evidentemente, a regulação do equilíbrio hídrico e dos minerais como o sódio, potássio, magnésio e cálcio estão entre as funções mais importantes e vitais dos rins. Estes órgãos realizam a função com perfeição.
Os rins também são importantes em manter o pH do nosso corpo estável e em limites fisiológicos. Para isso, elimina os prótons (H+) em excesso e conserva o bicarbonato. O outro sistema importante para manter esse equilíbrio é o aparelho respiratório.
Os rins também são os sensores fisiológicos do oxigênio. Se a pressão de oxigênio é baixa como acontece em altitudes superiores a 2 mil metros, os rins produzem o hormônio eritropoietina que vai estimular a medula óssea a produzir mais glóbulos vermelhos.
Finalmente, os rins são órgãos fundamentais para a regulação da pressão arterial. Eles fazem isso pela produção de uma enzima chamada de renina, que aumenta a pressão arterial.
Podem perceber que os rins são uma máquina fisiológica complexa e indispensável para a vida. Temos a obrigação de cuidar bem deles, evitar as sobrecargas de sal, manter nosso corpo bem hidratado, procurar atenção medica ante qualquer sintoma relacionado ao aparelho urinário ou ao aumento de pressão arterial e o controle rigoroso dos níveis de glicemia nos pacientes com diabetes.