Duas gerações do Tiro de Guerra de Brusque se encontram na Semana da Pátria
Entre nostalgia e patriotismo, atiradores da turma de 1984 contam experiência aos integrantes de 2019
Entre nostalgia e patriotismo, atiradores da turma de 1984 contam experiência aos integrantes de 2019
Durante a Semana da Pátria, quatro atiradores da turma de 1984 do Tiro de Guerra de Brusque, visitaram a turma de 2019. O encontro entre as duas gerações, promovido pelo jornal O Município, reviveu as lembranças e aqueceu ainda mais o sentimento de patriotismo entre os jovens.
Da geração de 1984 estavam presentes o empresário e soldado Atemir José Vanelli, de 55 anos; o empresário e cabo Luciano de Limas, 53; o empresário e soldado Marcio Clovis Servi, 54; e o aposentado e soldado Miro Fischer, 53.
De acordo com Limas, nessas ocasiões são recordados momentos bons e ruins da caminhada, o que traz muitas emoções ao grupo.
“Passa um filme na mente. Os momentos ruins fortaleceram o que foi aprendido na sala de instrução, pois a partir da teoria colocamos em prática. Retornar ao Tiro de Guerra é retornar à casa de 1984”, conta.
Ao conversar com os atuais atiradores, o quarteto evidencia que a memória mais marcante foi a inundação que atingiu Brusque, em 6 de agosto daquele ano.
Segundo Limas, que era comandante do Corpo da Guarda no fim de semana que antecedeu a tragédia, o chamado foi às 5 horas da manhã de segunda-feira.
Ele relembra que, como não existia celular, foi feito um Plano de Chamada. A estratégia consiste em ligar para um soldado, que fica responsável em avisar mais três. Assim segue, até que todos são chamados.
Com a água batendo dois metros em algumas residências, Fischer recorda que a primeira ação foi ajudar os idosos, que estavam vulneráveis nas casas. Também foi feita a distribuição de alimentos e medicamento.
Após a tragédia, foi feita a limpeza de casas, ruas e caixas d’água, para evitar problema com água contaminada, além de ajudar as pessoas na reconstrução.
Na avaliação do grupo, os soldados tiveram participação essencial naquele momento, pois na época não havia o suporte que existe hoje, como por exemplo, a Defesa Civil.
“Pudemos colocar o conhecimento aprendido na sala de instrução em pática, para auxiliar a sociedade em um momento tão dramático. Ficamos uns dez dias trabalhando”, diz Limas.
Segundo ele, além da enchente, 1984 foi um ano difícil, com a perda do soldado Ademir Mistura, em um acidente trágico. Por outro lado, vê que a união do grupo engrandeceu os atiradores.
Fischer acredita que a ação dos soldados durante a inundação moldou as regras atuais de prevenção de enchente. “Estar aqui, depois de 35 anos, e poder passar um pouco da experiência na enchente de 1984 foi uma grande emoção. É um aprendizado que a gente leva até hoje na vida. Se pudéssemos, estaríamos de volta”, completa.
Atualmente, 80 soldados estão alistados no Tiro de Guerra. Um deles, é o estudante Ruan Vinicius Monteiro, 18, que foi o primeiro da família a se voluntariar no Tiro de Guerra. Ele conta que sempre foi atraído pela carreira militar, principalmente pelos valores e respeito pregados.
“É algo que levamos para a vida. Felizmente não precisamos ser acionados para uma causa como a enchente de 1984, mas conseguimos transferir nossos ensinamentos lá fora de outras maneiras, com respeito e cidadania, sempre ajudando o próximo quando possível”, diz.
Para ele, o momento importante para os soldados é a conquista da boina. Um símbolo de respeito. Monteiro faz estágio profissional na parte da tarde e cursa a faculdade durante à noite. Segundo o jovem, alistar-se mudou a rotina dele.
“Ter feito a instrução na parte da manhã me deixa até mais disposto durante o dia, acordo mais cedo e tenho disposição. Também, me ajudou no foco nas aulas e no respeito aos professores”, avalia.
Hoje, o chefe de instrução é o subtenente Rubens Justiniano Evangelista, 47, e o instrutor é o subtenente Julio André Rech, 45.
Com o passar do ano, é perceptível o impacto do Tiro de Guerra nas vidas dos soldados. Para Limas, a experiência contribuiu para formação de caráter.
“Quando a gente é jovem somos um pouco perdidos na vida. Atualmente, muitos viraram grandes homens, pessoas do bem, formaram família, são empresários e comerciantes, tiveram um rumo”, destaca.
Segundo Fischer, o Tiro de Guerra foi uma grande escola de civismo e de cidadania. “Espero que os jovens deem valor e não deixem de servir, porque vale a pena. É uma escola que forma o homem e suas ideias, e leva ele pra frente no caminho de defender o nosso país, a soberania”, completa.
Porém, Vanelli avalia que é baixo o número de soldados por ano. De acordo com a memória da antiga geração, até 1982, o número era de 150 por turma e, em 1984, eram 100.
“Eu acho que tem que existir e ter mais. Temos que manter no mínimo 100, pois a cidade cresceu”, comenta.
Na turma de 2019, está o soldado Gustavo Servi, 18. Ele é a quarta geração da família a servir. Antes dele, o bisavô Luiz José Servi serviu em 1933, o avô Humberto Servi em 1957 e o pai em 1984.
Segundo o pai, Marcio, o Tiro de Guerra foi muito importante para a vida dele. Durante todo o ano aprendeu sobre união, a ter força e a somar valores.
“Sobre amar e respeitar a pátria, que hoje em dia falta muito dos nosso políticos, respeitar a nossa bandeira. Valorizar a família e o que é certo. Sempre falei disso para ele, que sempre teve vontade de servir”, diz.
No entanto, segundo o jovem, ele não serviu por pressão familiar, mas sim por interesse próprio. “É como o esperado, eu fiz muitos amigos. Vi valores como amar a pátria e respeitar a família”, diz.
Para Fischer, Servi, Limas e Vanelli, o ano no Tiro de Guerra é inesquecível. Segundo Servi, enquanto passam pelo momento de servir, é possível que os soldados não se deem conta do momento, mas quando acaba, a experiência fica marcada para o resto da vida.
De acordo com Limas, muitas amizades criadas naquele ano de 1984 continuam até hoje. Vanelli complementa dizendo que muitos viraram compadres.
Em 31 de agosto, o grupo se reuniu em um encontro de 35 anos. Estavam presentes 55 atiradores. “Tinha gente que eu não via há 15 e 20 anos. Na festa, parecia que eu tinha encontrado eles esses dias. Afinidade sempre vai existir”, conta Vanelli.
Fischer ressalta que atualmente é mais fácil realizar encontros por causa das mídias digitais. Para ele, sempre são momentos de muita emoção, com lembranças das histórias.
“A enchente de 1984 sempre é o foco, mas toda vez descobrimos outras coisas que na época não sabíamos. É muita risada, e espero que essa turma aqui também possa se unir e ter muita história para contar”, finaliza.