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E lá se foi a Luhli…

Ah, gente, essa história do ser humano ter que morrer, no fim da história, é muito ruim. Eu sei, não tem jeito, a morte é uma das certezas da vida, é o que dizem. Mas é uma pena. Especialmente em casos como o da Luhli.

Talvez você não tenha visto a notícia da morte dela, na última quarta-feira, dia 26 de setembro. Não sei se algum canal de TV falou nela. Mas devia. Devia muito. Porque devemos muito a ela, à sensibilidade dela como compositora, à mágica dela como intérprete.

Você acha que não conhece a Luhli? Desconfio que conheça, sim. Só não está ligando o nome à pessoa. Ou melhor, à autora. Luhli é parceira de João Ricardo em O Vira, o maior sucesso dos Secos & Molhados.

Bailam corujas e pirilampos
entre os sacis e as fadas.
E lá no fundo azul
na noite da floresta.
A lua iluminou
a dança, a roda, a festa.

Também é parceira dele em Fala, outra música linda do primeiro disco dos Secos & Molhados. Diz a História, aliás, que foi ela quem aproximou Ney Matogrosso de João Ricardo.

Ela e Lucina (as duas estão na foto aí acima… Luhli é a primeira) são as compositoras de outro sucesso de Ney Matogrosso, Bandoleiro.

Eu, bandoleiro,
no meu cavalo alado
Na mão direita o fado
Jogando sementes nos campos
da mente

Essas músicas são super relevantes para a nossa MPB? Sem dúvida. Mas o trabalho de Luhli, seja só ou acompanhada, vai muito além. Sempre mereceu e continua merecendo ser ouvido. Por todos os motivos: porque é delicado, porque remete à natureza mais verdadeira, porque tem uma força feminina maravilhosa. Eu diria que é uma música que cura, que fortalece, que nos faz lidar com energias melhores.

Por pura memória emocional, recomendo de todo coração o trabalho dela em dupla com Lucina, que foi cristalizado em vários álbuns. Você pode começar pelo disco lançado em 1979, Nós Lá em Casa. Foi por onde eu comecei. Ainda bem. Pode seguir por Amor de Mulher / Yorimatã e terminar de se apaixonar. Siga por outros trabalhos, veja vídeos no YouTube e arremate tudo assistindo ao maravilhoso documentário também batizado Yorimatã. Tem disponível para compra, no YouTube. Não existe melhor relação entre custo e benefício, pode acreditar.

Além disso tudo, Luhli recebeu muitas homenagens que reforçam uma característica muito especial dela: a generosidade. Ao dividir conhecimento, sabedoria e energia boa com outros artistas. Ao reunir pessoas em torno de projetos musicais ou poéticos lotados de amor. Amor é uma boa definição do que Luhli deixou como legado, em seus 73 anos de vida.

fotos: Luís

Não estranhe esta conversa, tão mais pessoal e emotiva do que as que aparecem nesta página, mesmo em caso de morte de artistas que fazem parte das minhas lembranças mais queridas. No caso de Luhli, existe um pequeno período, lá na primeira parte dos anos 80,em que tivemos um contato mais direto com elas, Luli e Lucinha, como assinavam seus nomes na época. Como sempre, naquela época, o ponto de partida foram os Correios e o responsável pela amizade que nasceu foi o Luís. Por uma sincronicidade boa, tanto elas quanto nós moramos em São Paulo, por uma época. O que rendeu alguns encontros e alguns shows muito bem saboreados. Um privilégio, sem dúvida. Que causa, agora, longe no tempo, a tristeza pelo fim de uma trajetória linda.