É possivel pegar Covid-19 mais de uma vez? Infectologista explica situação
Relatos de reinfecção têm sido feitos por moradores de Brusque; entenda as possibilidades
Nas últimas semanas, têm chegado à Secretaria de Saúde de Brusque informações de pacientes que testaram positivo para a Covid-19 duas vezes, em um intervalo de tempo considerável. Essas pessoas temem a possibilidade de que tenham sido contaminadas duas vezes, ou seja, que não tenham desenvolvido imunidade após a primeira infecção.
De acordo com o secretário Humberto Fornari, nenhum dos pacientes está sendo acompanhado pela pasta, que somente tem conhecimento de alguns casos, e não os considera, contudo, como sendo reinfecção.
“Sabemos que tem várias pessoas comentando a respeito desses eventos, mas nada claro e objetivo. A gente não está colocando dentro de uma relevância até porque hoje, tem apenas uns cinco casos em estudo no mundo todo sobre reinfecção”, diz.
O secretário avalia que os casos em questão estão mais para falsos positivos do que reinfecção. “Hoje, nossos testes são falhos, tanto para o falso positivo quanto para o falso negativo. Ter uma reinfecção é admitir que o paciente pegou a mesma doença mais de uma vez. Isso é muito raro”.
Dois positivos em quatro meses
Uma moradora de Brusque, que prefere não se identificar, recebeu dois diagnósticos positivos da Covid-19 com quatro meses de diferença. O primeiro teste positivo foi em julho. Ela estava assintomática e fez o teste a pedido da empresa onde trabalha. “Foi uma surpresa quando veio positivo, porque eu não tinha sintoma. Eles começaram no terceiro dia depois do teste e evoluíram para uma pneumonia”, relata.
Ela ficou de cama por dois dias, mas se recuperou bem. Na segunda quinzena de novembro, entretanto, ela começou a sentir alguns sintomas. Precisou ir até a emergência, já que está grávida, e lá fez um teste Covid-19, que deu negativo. O namorado, entretanto, testou positivo. “Como ele testou positivo, não descartaram a possibilidade. Me disseram para esperar mais alguns dias e então fiz mais um teste que deu positivo. Foi um desespero”, conta.
De acordo com ela, desta vez os sintomas são diferentes do que sentiu em julho. “Estão piores do que da primeira vez. Eu não me sentia dessa maneira”.
Apesar dos dois diagnósticos positivos, ela destaca que os médicos não podem afirmar que se trata de uma reinfecção. Para isso, é preciso fazer um rastreio do vírus, já que ele pode ter se modificado, e não ser exatamente o mesmo que ela contraiu em julho.
“Reinfecção não é tão fácil quanto se imagina”
O médico infectologista Ricardo Freitas afirma que a reinfecção existe, mas “não é tão fácil quanto se imagina”. De acordo com ele, houve muito erro de diagnóstico no começo da pandemia, principalmente pelos testes rápidos. “Os exames que temos não são bons. Ainda está se estudando maneiras de se ter um diagnóstico melhor e mais preciso. Se o primeiro diagnóstico foi com teste rápido, então a chance de ser reinfecção é muito baixa”.
O médico também destaca que o teste PCR demora a negativar. “Isso não quer dizer que a pessoa ainda está com a doença. E aí algumas pessoas interpretam como uma segunda infecção”.
Freitas explica que para se confirmar uma reinfecção, é necessário testes específicos que atestem que a doença foi causada pelo mesmo vírus.
“Precisa ser enviada uma amostra para o Lacen ou para São Paulo onde será analisado se é o mesmo tipo de vírus. O que pode acontecer é um vírus diferente circulando, então não seria uma reinfecção, seria uma infecção nova. Para ser uma reinfecção, teria que ser exatamente pelo mesmo vírus. Eu posso ter o Sars-Cov-2 com variâncias”, afirma o infectologista.