Talvez você também tenha acompanhado as notícias das últimas semanas. Elas vieram quase como episódios de séries, em que vitórias, problemas, ganchos cheios de suspense e a torcida por um final feliz se atropelam e nos enchem de emoção – e, no caso, de indignação.

A primeira notícia foi daquele tipo “do bem”, que gostaríamos de ver com mais frequência: Lorrayne Isidoro Gonçalves, uma estudante de escola pública de 17 anos, moradora de uma favela no Rio de Janeiro, conquistou o direito de representar o Brasil na 2016 Brain Bee World Championship16ª Olimpíada Internacional de Neurociências, em Copenhague. Para isso, ela teve que vencer outros 13 concorrentes na etapa brasileira da competição, em uma prova de 100 questões sobre temas tão estranhos como neuroanatomia, neurohistologia, neurofisiologia e neurociências clínicas.  Orgulho nacional. Já dava para ouvir o Tema da Vitória.

Só que não. Logo em seguida, veio outra notícia: ela corria o risco de não conseguir participar da competição. O motivo? Não havia verba para custear a viagem à Dinamarca. Rapidinho, a equipe da Olimpíada Brasileira de Ciências usou um recurso atualíssimo e criou uma vaquinha online. Que precisava conseguir arrecadar R$ 15.000,00 para pagar as despesas. Mais rapidamente ainda a meta foi alcançada e superada: a vaquinha passou dos 25 mil reais arrecadados. Ao mesmo tempo, o reitor do Colégio D. Pedro II, instituição federal em que Lorrayne estuda, anunciou que a escola bancaria a viagem, já que tem orçamento para assistência estudantil. Alívio geral.

Mas os obstáculos ainda não tinham acabado. Verba garantida, agora o entrave viria da burocracia. Com a paralização na emissão de passaportes, por conta de quebra de equipamentos, ela poderia deixar de viajar por não ter o passaporte, embora tivesse encaminhado a documentação a tempo. Um pedido de emissão de passaporte de emergência chegou a ser negado, porque só estavam “sendo aceitos pedidos de passaporte dos que estão em pior situação”. Será que seria diferente se fosse um jogador de futebol? Fica a dúvida.

Mas alguém lá de dentro da máquina burocrática teve bom senso, ainda que tardio, depois que a mídia noticiou a falta de apoio oficial. Finalmente, saiu o tal passaporte e Lorrayne pode embarcar para a competição internacional.

No final, mesmo sem o ambiente ideal para se preparar para a competição, ela fez bonito: conseguiu o 18º lugar na classificação geral da Olimpíada Internacional de Neurociências e o 2º lugar em uma das provas, segundo sua orientadora. Imagine qual teria sido o resultado se ela tivesse tido todo o suporte e apoio de seu país? Imagina como seria se ela tivesse sido tratada como prioridade?

Pois é.

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Claudia Bia – editora do Like