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“É uma proposta vergonhosa”, diz secretário sobre Brusque receber apenas um leito de UTI

Humberto Fornari não concorda com decisão do governo estadual sobre a distribuição de leitos para combate ao coronavírus

Em entrevista realizada por videoconferência na tarde desta segunda-feira, 6, o secretário de Saúde de Brusque, Humberto Fornari, falou ao jornal O Município sobre o trabalho de prevenção e combate ao novo coronavírus na cidade.

Brusque iniciou a semana com nove casos positivos da doença e agora se enquadra em transmissão comunitária do vírus, já que não foi possível identificar onde um dos pacientes foi infectado, pois não há histórico de viagem recente e nem contato com casos confirmados ou suspeitos da doença.

Mesmo assim, Fornari considera a doença controlada no município. “Entendemos que o foco está controlado. Temos mais de 300 pessoas em isolamento em função das barreiras nas entradas da cidade. Esse número muda todos os dias, porque muita gente entra e sai da lista. É um número grande, mas também é grande o número de pessoas recebendo alta”, diz.

De acordo com ele, o pico da doença em Brusque deve ser em meados de maio.

Divergência com o governo estadual

Uma das principais preocupações do secretário é em relação ao número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade. O Hospital Azambuja conta com apenas dez leitos credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, de acordo com Fornari, o governo do estado propôs credenciar somente mais um, já que o hospital de referência da região para tratamento de casos graves de coronavírus é o Oase Hospital e Maternidade, de Timbó.

“Nos associamos à ideia do governo de um número maior de leitos de UTI, mas fiquei extremamente aborrecido e descontente com a situação de que só Timbó teria a graça de receber 45 leitos de UTI. Concordo que seja referendado como macrorregião, mas discordo quando credencia apenas um leito de UTI para nossa região”, diz.

O secretário afirma que o Hospital Azambuja tem capacidade para receber mais dez leitos de UTI. Além disso, na visão dele, o governo do estado poderia comprar leitos do Imigrantes Hospital e Maternidade. “Já entramos em contato com o governo para que compre os leitos do Imigrantes. Não consigo conceber a lógica de montar hospitais de campanha tendo leitos aqui que podem ser utilizados”.

Para Fornari, a população de Brusque e região não está sendo valorizada pelo governo estadual. “Nossa região abrange mais de 135 mil pessoas, não tenho como concordar com o governo de credenciar apenas um leito para a região, é uma proposta vergonhosa. Queremos que a nossa população seja vista pelo governador Moisés, Brusque foi a cidade que mais deu votos a ele e está ficando de lado”, diz.

“O ideal seria mais dez leitos para Brusque. Até o nosso paciente chegar em Timbó, infelizmente, já morreu. O hospital será referência para 15 municípios, então é uma situação muito complicada”, completa.

Distanciamento social

Na semana passada, o governo do estado começou a afrouxar as regras do isolamento social. Alguns setores foram autorizados a retornar às atividades e, com isso, o movimento nas ruas e estabelecimentos cresceu.

Fornari avalia que mesmo com a liberação de alguns setores, é preciso que a população mantenha o distanciamento social e também a higiene.

“Não só as pessoas acima de 60 anos e com comorbidades, mas é preciso que as outras se acomodem e respeitem o distanciamento, para que a contaminação direta não aconteça. É importante que se mantenha todo o processo de higienização, uso de máscara, de álcool gel, a lavagem constante das mãos, mas muita gente não está fazendo o mínimo”.

De acordo com ele, o ideal seria colocar as forças de segurança para orientar a população sobre a importância do isolamento. “Sabemos o efeito que o isolamento reflete no ponto de vista de pessoas contaminadas, achatamento da curva, mas também entendemos que a economia precisa andar, ser reativada, haja vista que temos uma população que antes da pandemia era financeiramente independente, que não estava cadastrada na Assistência Social, mas em função da paralisação não está conseguindo se sustentar com o seu labor”, diz.

“Se eu pudesse dar recado para o governo seria vamos colocar a segurança pública na rua e fazer com que a população, não só mantenha o isolamento para os grupos de risco, mas que as outras respeitem a distância mínima”, completa.

Subnotificação de casos

Em todo o país há um consenso de que existe uma subnotificação de casos de coronavírus, ou seja, o número de pacientes com a Covid-19 é muito maior do que os oficiais, já que há falta de testes. “Quando o governo federal jogou a toalha e decidiu que não precisava fazer exame, somente em pacientes internados, ali já decretou a subnotificação”, destaca.

Em Brusque, Fornari diz que não é possível afirmar que há casos que não foram notificados. “Nossos estudos epidemiológicos, com exceção desse paciente confirmado nesta segunda-feira, mostram que os demais pacientes tinham referência de onde foram contaminados. Não posso afirmar que temos casos subnotificados ou ser leviano e dizer que não temos casos não notificados. Ainda não tenho como responder isso”.

O secretário destaca que mais de 300 pacientes estão cumprindo isolamento e que a cada dois ou três dias se reportam à Vigilância Epidemiológica sobre sintomas, melhora ou piora.

Falta de EPIs

O mundo todo enfrenta uma batalha para conseguir os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários para os profissionais da saúde que atuam diretamente com os casos positivos de coronavírus e, assim, evitar a propagação do vírus.

Fornari diz que a Secretaria de Saúde de Brusque tem alguns equipamentos de uso pessoal, mas não todos, justamente por falta de fornecedores.

“Quando se fala em EPI pensamos logo na máscara N95 e N100, que são próprias para se proteger, as outras máscaras cirúrgicas protegem o outro. É importante utilizarmos a máscara cirúrgica porque teremos uma barreira de transmissão das sintomáticas e assintomáticas. Sabemos que têm assintomáticos fazendo transmissão e por isso é importante o uso da máscara”.

O secretário ressalta que os servidores que atuam nas barreiras têm os equipamentos mínimos, mas não são os ideais. “Os macacões, capacetes são instrumentos que estão sendo fabricados ainda, é difícil de conseguir. Felizmente, tivemos viseiras doadas pela Unifebe e pela ZM, que vão nos auxiliar muito. Mas precisamos ainda mais do que isso para estarmos à frente da doença”.

Gripe comum, coronavírus e H1N1

O país se prepara para entrar na estação mais fria do ano, em que as doenças respiratórias são bastante comuns e os hospitais ficam mais cheios. Neste ano, a proximidade do inverno traz uma preocupação ainda maior, devido ao coronavírus.

O secretário da Saúde diz que Brusque já está se preparando para enfrentar esse período, com o auxílio das barreiras nas entradas da cidade, com o Centro de Triagem e agora também com o Hospital Dom Joaquim atendendo todos os dias das 7h às 22h.

“Chegando os nossos exames de teste rápido, poderemos fazer a diferenciação do que é gripe normal, H1N1 e coronavírus. O nosso planejamento é que os 31 leitos do Dom Joaquim sejam referência para os pacientes não contaminados com coronavírus, para que o Azambuja se dedique em boa parte aos pacientes diagnosticados”.