Arquivo pessoal
Edgar Ricardo von Buettner: relembre a vida e carreira do pesquisador e escritor brusquense que morreu no último domingo
Ele era filho do fundador da Fábrica Buettner
Morreu no último domingo, 27, aos 81 anos, Edgar Ricardo von Buettner. O brusquense estava hospitalizado em um hospital de Belo Horizonte há mais de um mês, devido a problemas renais.
Edgar é um dos pesquisadores e autores brusquenses mais conhecidos. Era filho de Edgar von Buettner e sua segunda esposa, Elizabeth Binkele von Buettner. Edgar (pai) é reconhecido por ter sido o fundador da fábrica que levou o mesmo sobrenome da família.
Pesquisador ávido sobre a história de Brusque e da própria família, Edgar escreveu diversos artigos ao longo da vida. Além disso, era leitor frequente do jornal O Município, já que compartilhava regularmente nas redes sociais matérias e reportagens ligadas aos assuntos da família e da fábrica fundada pelo pai. Também era associado do Museu Casa de Brusque.
“Era uma pessoa de vasta cultura, com quem convivi virtualmente nos últimos oito anos. No final de 2022, cogitamos publicar algo juntos em um livro sobre Brusque e região, mas não tivemos tempo hábil para tal”, disse o pesquisador Saulo Adami ao jornal.
Família
Entre as áreas de conhecimento e estudo de Edgar estava a história da Villa Quisisana (local de arquitetura exótica, foi construído em 1934). A mansão fica ao lado da Escola de Educação Básica Feliciano Pires. Edgar morou lá por anos. Já pesquisa sobre o pai começou em 1997. Edgar (pai) faleceu em 1944.
A irmã e ex-sócia da Flying Carpet Turismo, Iris Renate Von Buettner Pastor, já havia falecido em 2017, aos 102 anos. Ela também viveu boa parte da vida na Villa Quisisana.
É primo de Helga Erbe Kamp. A escritora blumenauense é conhecida por ser considerada por muitos primeira professora de inglês da cidade, além de ter incentivado a instalação da primeira escola de inglês de Brusque. Edgar também era poliglota.
Minas Gerais
Edgar não apenas converteu pesquisas em Santa Catarina, mas também em Minas Gerais. Em 2003, ele chegou ao município de Barroso, onde foi contratado como consultor em uma fábrica de cimento e desempenhou um papel crucial na implementação do Projeto Ortópolis, atualmente conhecida como Associação Ortópolis Barroso. Devido às suas realizações, ele recebeu o título de Cidadão Honorário de Barroso.
“Ele era um intelectual da administração que sonhava com um futuro, planejava seu percurso e, acima de tudo, acreditava no futuro de Barroso. Sua crença era tão forte que ele fez de Barroso seu segundo lar. A necessidade de explorar o passado, de recuperar a memória de um povo, sua identidade coletiva perdida e, acima de tudo, o orgulho de ser barrosense”, disse um amigo nas redes sociais.
“Foi nesse processo que surgiu o projeto “Curto a Memória de Barroso”, dedicado a explorar o passado através do saudosismo, tornando a história de Barroso um tema de discussão, resgatando sua importância e dando voz às pessoas como protagonistas dessa história”, complementou o amigo.
O corpo de Edgar foi velado e sepultado em Barroso, o município que ele tanto amava e acolhia com grande carinho.
Carreira acadêmica
Edgar estudou economia e administração de empresas na Universidade de Sankt Gallen, na Suíça. Foi docente na Universidade de Zurique. No início da década de 1980, foi eleito presidente da Sociedade Suíça de Antropologia Cultural, instituição-membro da Academia Suíça de Ciências Humanas e Sociais.
Em 1986 recebeu o prêmio de reconhecimento cultural da cidade de Sankt Gallen, por seus trabalhos desenvolvidos no campo da fotografia, como meio de expressão cultural. De 1978 a 1986 publicou inúmeros trabalhos, tendo conquistado vários prêmios, entre eles, prêmios conferidos pela Feira Internacional do Livro de Frankfurt (duas vezes pelo seu calendário com fotos em preto e branco) e o Obelisco da Photokina de Colônia, Alemanha, pela foto intitulada “Madonna und meine Brüder”.
Entre os livros publicados sobre temas brasileiros, destaca-se “Baianas – Sacerdotisas de rua”. Em 1985 von Buettner chega ao Brasil, como consultor da GTZ – Sociedade Alemã de Cooperação Técnica, que a partir de janeiro de 2011 foi denominada de GIZ – Sociedade de Cooperação Internacional.
Durante cinco anos, de 1985 a 1990, passou a prestar consultoria para a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER). A empresa foi extinta pelo governo Collor anos depois. Lá atual no projeto de “Meios áudio visuais para a extensão rural”, ao mesmo tempo em que inicia um trabalho de implantação da metodologia de planejamento participativo, utilizada pela então GTZ na formatação dos projetos por ela apoiados, conhecido pela sigla ZOPP – Ziel-Orientierte Projekt-Planung (planejamento de projetos orientados para os objetivos).
De 1993 a 1996 coordenou os trabalhos de concepção, planejamento e implementação da primeira Instituição Comunitária de Crédito no Brasil, a PortoSol de Porto Alegre, que serviria de modelo para a criação do “Banco do Povo” no governo de Fernando Henrique Cardoso. Participou e organizou diversos projetos sociais ao longo da vida.
História da empresa do pai
Em 1898 iniciaram as atividades da empresa brusquense, Buettner S/A Indústria e Comércio. Seu fundador, Edgar von Buettner, herdou a indústria do pai. Ele especializou-se na fabricação de bordados finos e, posteriormente, em guarnições para cama, colchas, cortinados, sendo a primeira indústria a operar com bordados no Brasil.
Eduard von Buettner, pai do Edgar, incentivou ao lado esposa Albertine Burow, o jovem Edgar (filho), a cuidar da fábrica. Em 1930, a empresa passou a produzir toalhas de banho. Sua sede ficava na rua João Bauer, onde se encontra a atual Praça do Sesquicentenário, defronte à Prefeitura de Brusque.
Mais tarde, no decorrer da década de 1980, toda sua linha de produção passou de forma gradual para o bairro Bateas, onde caminhões carregados de algodão, paravam ao lado dos prédios de tijolinhos à vista para que a empresa desse conta da demanda.
O lucro da Buettner começou a cair sem parar desde o final dos anos 1990 até se converter em dívidas milionárias. Em abril de 2016 a companhia pediu falência, encerrando uma história com mais de 100 anos. A empresa foi, até o fim da vida do escritor, objetivo de pesquisa e estudos.
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