Edino
por Dinorah Krieger Gonçalves Para a maioria das pessoas, ele era o Maestro Edino Krieger, merecedor de admiração e reverência por tantas qualificações e competências. Para mim, era simplesmente Nino, meu irmão muito amado. Quando eu nasci, ele foi para o Rio de Janeiro continuar seus estudos de violino. Como devem ter sido difíceis seus […]
por Dinorah Krieger Gonçalves
Para a maioria das pessoas, ele era o Maestro Edino Krieger, merecedor de admiração e reverência por tantas qualificações e competências. Para mim, era simplesmente Nino, meu irmão muito amado.
Quando eu nasci, ele foi para o Rio de Janeiro continuar seus estudos de violino. Como devem ter sido difíceis seus primeiros tempos longe da família! Como deve ter sido difícil para Dona Gertrudes deixar seu menino, de apenas quinze anos, ir para uma cidade tão distante, em plena Segunda Guerra Mundial. À minha mãe Gertrudes todo o mérito pelo desprendimento e pela antevisão do futuro promissor de seu filho amado.
Quando vinha passar o Natal conosco, no início era um estranho para mim. Eu mal o reconhecia (um ano é muito tempo para uma criança). Ele era como meu segundo pai, e me inspirava uma enorme admiração, temor e até curiosidade.
Com sua chegada, a casa se enchia de alegria renovada. Mamãe preparando o peru e as cucas para o Natal. E Papai ansioso para saber do seu progresso e das novidades do Rio de Janeiro. E os irmãos ouvindo atentos. Tios, primos, toda a família, enfim, comentava que o Edino ia chegar. E todos vinham vê-lo.
Quando ele viajava para o exterior, Mamãe acompanhava pelo Atlas todo o seu trajeto. E nos mostrava as cidades: “O Nino está aqui, em Moscou!” Ou Londres, Paris, Nova Iorque…
Papai não perdia seus programas na Rádio MEC, na Roquete Pinto e até na BBC de Londres, quando lá estudou. E quando Edino, muito ocupado, não respondia com a esperada presteza às cartas de Papai, ele resmungava: “Gertrudes! Esse rapaz não me responde! Que terá acontecido?” E enviava outras cartas (único meio de comunicação da época), questionando as anteriores.
Edino sempre me trazia bonecas de diversos países, com tranças louras, como as minhas. Algumas vestidas de holandesa, com tamanquinhos e chapéu de pontas. Lindas!
Depois de uma viagem ao exterior, Edino passou em casa uma temporada maior. Ele me ajudou com as lições de inglês e de francês do Ginásio. E me ensinou a tocar flauta doce, transcrevendo para mim canções folclóricas russas, francesas, inglesas, alemãs… Foi nessa ocasião que, vendo meu choro desconsolado, por alguma brincadeira de meu irmão Mozart, aproximou-se com uma partitura: “Toma, chorona! É para ti. Para de chorar e vai tocar.” Era o Choro Manhoso, que ele acabara de compor.
Anos mais tarde, nós dois, com as respectivas famílias já constituídas, veraneávamos juntos em Meia Praia, Perequê ou Zimbros. Dali, visitávamos as praias de Florianópolis e os parentes em Brusque. Edino sempre parava, na estrada ou beira de praia, em quiosques que vendessem caldo de cana, que ele adorava. Gostava também de almoçar peixe e camarão na Lagoa da Conceição. E dos churrascos que meu marido fazia especialmente para ele.
Por tudo isso, e por muitas outras situações em que pude conviver com Edino, Neném e seus filhos, meu irmão querido ficará para sempre em minhas memórias e em meu coração, onde a saudade será sempre uma constante.