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Bastidores da política e do Judiciário, opiniões sobre os acontecimentos da cidade e vigilância à aplicação do dinheiro público

Editorial: A água levou…

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Bastidores da política e do Judiciário, opiniões sobre os acontecimentos da cidade e vigilância à aplicação do dinheiro público

Editorial: A água levou…

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Desde que o homem passou a viver em aglomerados urbanos, um dos grandes desafios tem sido como descartar seus próprios dejetos orgânicos. É, portanto, problema antigo. Muito antigo. E desde muito cedo uma das soluções foi usar a água como forma de “livrar-se” daqueles rejeitos. 

No palácio de Knossos, na Grécia, no ano 1700 antes de Cristo, havia “toaletes” conectadas a uma corrente de água. Em 315 a.C. os romanos tinham cerca de 144 sanitários públicos, que eram lavados depois do uso. 

Em 1592, durante o reinado de Elizabeth I, Sir John Harrington criou uma patente que tinha um cano por onde descia água. E coube a outro inglês, Thomas Crapper, em 1860, o mérito de ser conhecido como o inventor do “flush toilet”, o sanitário com descarga.

Essa prática de usar a água como forma de levar embora aquele material resolve o problema imediato, tira-o de dentro de casa mas cria, na rua ou nos rios, dificuldades adicionais e mais graves.

Uma rede de coleta de esgotos não reelege, não fica bem no horário de propaganda gratuita, não mobiliza a sociedade

Londres teve grandes epidemias de cólera em 1830 e 1850 por causa da poluição das águas por fezes humanas, de animais e pelo lixo (animais mortos, por exemplo). Ao beber dessa água, a doença era inevitável. Em 1865, com a construção da primeira rede de coleta de esgotos na cidade, o número de casos da doença caiu dramaticamente.

Mesmo com todo esse tempo, com toda essa experiência, o homem ainda não aprendeu a lidar com isso sem transferir, para os rios, córregos e o mar, a poluição que não quer em sua própria casa. Os banheiros limpinhos e cheirosos que a maioria das residências têm, disfarçam o fato de que não estamos muito interessados com o que acontece depois de dada a descarga.

É uma situação semelhante à do lixo doméstico: desde que o caminhão da prefeitura leve embora os sacos do lixo que produzimos, está tudo certo. Não temos realmente muita preocupação com o que acontece depois disso.

Além do que, durante muitas décadas os políticos aprenderam (e ensinaram), que “obra enterrada não dá voto”. Uma rede de coleta de esgotos, por exemplo, não reelege, não fica bem no horário de propaganda gratuita, não mobiliza a sociedade. Assim, não é de espantar que tenha que existir uma ordem judicial para que os municípios se mexam e providenciem uma rede que recolha e estações que tratem os nossos rejeitos.

Neste nosso O Município do último dia 11 lemos que “o juiz da 2ª Vara Federal de Blumenau, Adamastor Nicolau Turnes, condenou 52 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açú  a implantar, em dez anos, sistema de esgoto sanitário no perímetro urbano”. 

Não há, nos municípios, muito entusiasmo com a sentença. E também não se nota muito empenho para dotar as cidades desse equipamento. Parece que milhares de anos não foram suficientes para conscientizar a população e os administradores públicos de que não tem como “jogar fora”: o planeta é um só e suas águas começam a ficar impróprias para o uso. Em boa parte por causa do desleixo na criação de sistemas de coleta e tratamento de esgoto.

No verão, quando estiverem à beira mar e próximos a alguma “língua” de água escura e fétida na foz de algum rio ou riacho, pensem um pouco nessa história toda.

 

 

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