X
X

Buscar

Editorial: À margem da sociedade

Nesta semana o jornal O município publicou reportagem sobre a aglomeração de pessoas em volta do albergue municipal, na qual foram ouvidos moradores e a Polícia Militar sobre as denúncias feitas em relação ao caso. Esse assunto tem sido recorrente em nosso município e, como sempre, não há uma solução simples. O poder público fornece […]

Nesta semana o jornal O município publicou reportagem sobre a aglomeração de pessoas em volta do albergue municipal, na qual foram ouvidos moradores e a Polícia Militar sobre as denúncias feitas em relação ao caso.

Esse assunto tem sido recorrente em nosso município e, como sempre, não há uma solução simples. O poder público fornece o albergue, com alimentação e um local seguro para dormir, o amparo necessário às pessoas, mas tem como regra que o cidadão não pode estar alcoolizado ou consumindo drogas, ou seja, precisa estar em condições plenas de sobriedade para acessar os serviços.

Então, o governo tem saídas e oferece ajuda, como o albergue e o Centro POP, mas isso na prática não atinge a maioria das pessoas em situação de rua. Parte delas permanece nas ruas e na mendicância por opção, por não querer se submeter às regras estabelecidas para poder ter o amparo social devido.

Neste impasse, se multiplicam as queixas da sociedade. Não somente os moradores dos arredores do albergue, que reclamaram da situação nesta semana, mas já de outras épocas há manifestações em sentido semelhante. Entidades de Brusque já propuseram, inclusive, debate sobre o assunto, cobrando uma posição das autoridades.

Mas de quem é essa responsabilidade? O cidadão tem o seu direito de ir e vir, e utiliza esse direito para continuar vivendo nas ruas. Dependendo do lado e do conceito que se aplica, o caminho aponta para uma direção diversa.

Há quem atue no sentido de dar assistência básica às pessoas em situação de rua, com a doação de alimentos, roupas e outros itens. Por outro lado, há uma corrente que defende que essa atitude ajuda a mantê-los dormindo nas calçadas, e desestimula a busca por mudança.

O governo tem saídas e oferece ajuda, como o albergue e o Centro POP, mas isso na prática não atinge a maioria das pessoas em situação de rua

Há quem defenda a internação compulsória para que seja feita uma desintoxicação. Outros vão por um caminho mais religioso, com a recuperação atrelada à fé, como é o caso do trabalho desenvolvido na Comunidade Bethânia, em São João Batista.

Especialistas também argumentam que, às vezes, o problema maior não é recuperar a pessoa, e sim fazer com que, após a recuperação, ela tenha um futuro pela frente, pois muitas vezes já estão afastados e com relações cortadas com família e amigos há bastante tempo. Sem isso, falta a elas uma motivação para se recuperar e se engajar novamente na sociedade.

E agora vemos essa situação se avolumar, com mais gente vivendo nas ruas em Brusque. A quantidade é menor do que em grandes centros, como Florianópolis e Joinville, mas é uma preocupação constante e crescente em Brusque.

De qualquer maneira, não existe uma solução milagrosa. Chamar a polícia só resolve o problema pontualmente. Talvez, para encontrar a solução, necessitamos ainda mais da sociedade organizada, do poder Executivo, e também do Legislativo e Judiciário, para criar mecanismos e legislação sobre o tema.

Eventualmente, essa regulamentação pode causar desconforto e contrariedade às pessoas em situação de rua, mas não há mais como apenas fingir que o problema não existe. É necessário enfrentá-lo e encontrar um modelo que tenha efetividade para tirar essas pessoas da situação em que estão hoje.