X
X

Buscar

Editorial: A psicologia da enchente

Aqui em Brusque, conhecemos detalhadamente a enchente do ponto de vista técnico: sabemos e somos bem informados sobre o quanto choveu, o quanto o rio Itajaí-Mirim subiu, qual o perigo que cada nível do rio representa para cada rua. Sabemos essas informações sempre com uma preocupação com as questões materiais, que são mensuráveis, do que […]

Aqui em Brusque, conhecemos detalhadamente a enchente do ponto de vista técnico: sabemos e somos bem informados sobre o quanto choveu, o quanto o rio Itajaí-Mirim subiu, qual o perigo que cada nível do rio representa para cada rua. Sabemos essas informações sempre com uma preocupação com as questões materiais, que são mensuráveis, do que pode ser atingido. 

Mas um fenômeno climático deste tipo traz consequências para além das questões materiais, e afeta psicologicamente a população, conforme matéria que publicamos na edição desta sexta-feira.

Nesta reportagem, na qual conversamos com psicólogos atuantes na cidade, é trazido um outro ângulo sobre a enchente, que não costuma ser muito abordado quando se fala do tema: a influência do fenômeno climático na saúde mental da população. 

A enchente costuma despertar comportamentos típicos quando ocorre em Brusque. Quando as águas começam a subir, por exemplo, nota-se o aumento das aglomerações de pessoas em volta do rio, reunindo-se para observar o crescimento do nível da água. 

Nessas reuniões há, por exemplo, vizinhos que se conhecem nesta situação, outros que se reveem depois de longo tempo, conversam e trocam experiências durante o evento climático. Trata-se de um fator de aproximação de pessoas que, em condições normais, mal trocariam duas palavras. 

A enchente traz consequências para além das questões materiais, e afeta psicologicamente a população

Um segundo ponto que se nota é a questão da solidariedade. Quando a enchente começa a atingir as casas e os comércios, não faltam braços para ajudar a salvar ou recuperar o patrimônio. E mesmo quando não há o que fazer, a solidariedade se faz presente, como no caso do empresário que teve a loja inundada, e que decidiu doar milhares de pares de calçados para ONGs.

Além disso, familiares, amigos e conhecidos se reúnem para limpeza de casas, espaços públicos e comércios atingidos pela cheia do rio. Há uma união das pessoas e isso é um valor inestimável da população de Brusque. 

Mas, sobretudo, a enchente, como evidenciado na reportagem, afeta o comportamento das pessoas. Assustadas com o nível das águas muitas pessoas pensam até em mudar de vida, saindo da cidade, com sua residência ou até mesmo com seu comércio.

Dessa forma, a questão principal que afeta a população psicologicamente é o medo e a ansiedade causados pela proximidade da água em relação às suas casas. Nosso cérebro ativa os instintos mais primitivos de sobrevivência e entramos em um estado de tensão permanente por causa do risco de que aconteça algo mais grave conosco, com familiares ou amigos. 

A enchente traz, portanto, um dano para a cidade não apenas material, mas principalmente na questão psicológica, pouco retratada, mas com uma grande influência em nosso dia a dia.