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Editorial: A velha e a nova rachadinha

Nas últimas duas semanas, o principal assunto na política brusquense foi a prisão do vereador Jocimar dos Santos (DC), que foi detido em flagrante após receber dinheiro de seu suplente, Eder Leite, o qual o denunciou por cobrar metade do seu salário enquanto ocupasse o cargo. Jocimar foi solto mediante o pagamento de fiança de […]

Nas últimas duas semanas, o principal assunto na política brusquense foi a prisão do vereador Jocimar dos Santos (DC), que foi detido em flagrante após receber dinheiro de seu suplente, Eder Leite, o qual o denunciou por cobrar metade do seu salário enquanto ocupasse o cargo.

Jocimar foi solto mediante o pagamento de fiança de quase R$ 40 mil, mas está afastado das funções na Câmara e usando tornozeleira eletrônica. O Legislativo também instaurou um processo disciplinar que pode cassar o seu mandato.

Essa prática está longe de ser uma novidade. Outras denúncias, de outros personagens, e inclusive de personagens que continuam a participar da vida política de Brusque, já foram feitas. Há um político vociferando publicamente contra a prática que já fez denúncia semelhante contra um ex-deputado.

Há uma investigação em andamento sobre outro esquema em Brusque, que inclusive teve operação há duas semanas, em que um dos investigados era assessor de vereador no Legislativo e, neste exato momento, assumiu uma cadeira, com a licença do titular. 

Mas a maior parte dos casos não chega a se converter em prisão, como ocorreu com o vereador Jocimar, pois não há o interesse de denunciar por parte de quem se beneficia do crime.

Muitas vezes, os envolvidos são parentes, amigos e pessoas próximas do político detentor de cargo eletivo. Dessa forma, mesmo quando pensam em denunciar, acabam voltando atrás.

Há também, infelizmente, muitos casos de pessoas que não tem uma qualificação profissional, e que não teriam espaço no mercado de trabalho do setor privado. Por isso, agarram-se ao cargo público com unhas e dentes, aceitando qualquer malfeito que lhe seja dito ou solicitado. 

 

Quem é capaz de sustentar-se sem depender do setor público não se sujeita a dar percentual do salário a outra pessoa

Quem é capaz de sustentar-se sem depender do setor público não se sujeita a dar percentual do salário a outra pessoa, simplesmente pelo fato de ocupar o cargo. Isso está, inclusive, caracterizado no episódio recente, em que o suplente do vereador admitiu que aceitou, de início, dividir o salário, simplesmente pelo fato de estar sem dinheiro. 

A vereança, no entanto, não é, na sua concepção, uma atividade para ganhar dinheiro, para construir patrimônio pessoal, e tampouco a assessoria política. De quem está nesses cargos, se espera a prestação de um serviço público, que seja feita uma entrega à população. 

Essa pratica, porém, não é exclusividade de Brusque. Já foram denunciados casos no governo federal, em diversos estados, prefeituras e câmaras de vereadores Brasil afora. Deputados federais e senadores são investigados, volta e meia, por acusações de cobrarem parte do salário de assessores. Esses casos permeiam a raiz da política no Brasil, em todas as esferas. 

Dessa forma, a prisão do vereador Jocimar se trata de um caso emblemático, em que uma prática bastante comum no país finalmente foi parcialmente desnudada. É, ainda, um caso didático para que se reflita sobre a confusão que há no trato com a coisa pública no Brasil. 

Parece que o cidadão, quando ganha um cargo eletivo, é premiado na loteria, pode empregar a família, beneficiar os amigos  e usufruir dos recursos públicos da forma como bem entender.  Que essa caso sirva de lição para os atuais e futuros políticos, que devem estar em funções públicas pelo trabalho e pela recompensa do reconhecimento na sociedade, em vez de ganhos financeiros ilícitos.