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Editorial: Afinal, estamos seguros?

A extraordinária sequência de eventos iniciada na manhã de quarta-feira, 4, na pacata cidade de Vidal Ramos (cerca de 6 mil habitantes, a 70 km de Brusque), leva-nos a pensar sobre a sensação de segurança dos moradores de cidades pequenas, onde os índices de crimes são baixos. Teoricamente, um morador do Rio de Janeiro deve […]

A extraordinária sequência de eventos iniciada na manhã de quarta-feira, 4, na pacata cidade de Vidal Ramos (cerca de 6 mil habitantes, a 70 km de Brusque), leva-nos a pensar sobre a sensação de segurança dos moradores de cidades pequenas, onde os índices de crimes são baixos.

Teoricamente, um morador do Rio de Janeiro deve sentir-se mais inseguro que um morador de Vidal Ramos. Todos os indicadores estatísticos dão suporte a essa ideia. 

Mas os pequenos municípios catarinenses, contudo, têm um problema sério: são habitados por gente que trabalha, que empreende e gera recursos. Há dinheiro circulando na maioria das regiões catarinenses.

Esse fator atrai o interesse de bandidos de todos os tipos e de todas as regiões. E desperta a cobiça de gente sem caráter, que acha que o crime compensa. 

Os cérebros de operações criminosas, como a que foi desencadeada em Vidal Ramos, aproveitam-se ainda de outra característica importante: municípios pacatos, com bons índices de segurança, recebem menos atenção das autoridades estaduais e mesmo federais.

Pensando friamente, apenas olhando para as planilhas, até faz algum sentido: por que manter batalhões numerosos e investir em pessoal e equipamento em regiões pouco povoadas e com registros tão escassos de crimes violentos ou contra o patrimônio?

Bandidos que atacam e aterrorizam cidades pequenas não ameaçam apenas os moradores daquela região: desafiam toda a estrutura de governo

Mas, se pensarmos em como o mundo está interligado e em como é fácil, para alguém mal intencionado, em uma pequena cidade, informar sobre alvos e ajudar a viabilizar uma quadrilha com “profissionais” de vários estados, veremos que é preciso reavaliar os critérios para a cobertura da segurança pública no estado.

Nem é preciso fazer pesquisa muito extensa, para ver que tem ocorrido, nos últimos anos, um significativo número de ações criminosas justamente em locais tranquilos e pouco povoados. O objetivo, em geral, são os bancos e caixas eletrônicos. 

Numa cidade pequena é fácil saber quando haverá pagamento, quando o caixa está cheio, quando devem receber alguma remessa, quando foi programado algum saque. E qual é a dificuldade? A guarnição policial local? Pouca gente, poucas armas, pouco treinamento. Dificuldade nenhuma.

Mas então, o que fazer? Ora, é preciso levar a sério o problema e examinar soluções. Dar mais agilidade às respostas, criar mais centros de intervenção rápida, treinar melhor os profissionais da segurança e desconfiar das soluções fáceis. 

A milenar luta entre o bem e o mal, entre os cérebros da criminalidade e as forças da ordem não se resolve em tiroteios a esmo, que não raro produzem mais balas perdidas do que resultados. 

Mas é urgente e útil profissionalizar e equipar as equipes para a prevenção, para a apuração, para as ações de inteligência. Que gerem processos consistentes, resultado de inquéritos sólidos e bem conduzidos, cuja conclusão sejam condenações irrefutáveis. Para reduzir a sensação de impunidade.

Os bandidos que atacam e aterrorizam cidades pequenas não ameaçam apenas os moradores daquela região: desafiam toda a estrutura de governo. Federal, estadual e municipal. Porque, passado o tiroteio, o que interessa mesmo é saber se, afinal, estamos seguros?