Editorial: Ar insalubre
Nesta quinta-feira, o jornal O Município publicou reportagem na qual informa que a qualidade do ar de Brusque foi classificada como insalubre, em um dos primeiros registros que se tem notícia deste tipo de ocorrência na cidade. Isso ocorreu devido às queimadas no centro do país, cuja fumaça se espalhou por milhares de quilômetros, e […]
Nesta quinta-feira, o jornal O Município publicou reportagem na qual informa que a qualidade do ar de Brusque foi classificada como insalubre, em um dos primeiros registros que se tem notícia deste tipo de ocorrência na cidade. Isso ocorreu devido às queimadas no centro do país, cuja fumaça se espalhou por milhares de quilômetros, e desta vez chegou a Santa Catarina.
Acompanhamos, pela imprensa nacional, a situação das queimadas pelo Brasil, e até então havia um sentimento de que isso era um problema para a região amazônica, para quem mora no Cerrado ou no Pantanal, ou seja, regiões onde as queimadas estão de fato localizadas.
Agora, temos pela primeira vez o problema caindo no nosso colo. Geograficamente, Santa Catarina está localizada em um corredor por onde a fumaça das queimadas passa até se dissipar. Um mapa meteorológico divulgado pela Defesa Civil mostra o estado inteiro coberto pelo nevoeiro.
Essa situação atesta que, na natureza, tudo está integrado. Nenhum local é uma ilha, que não seja afetada pelo que aconteceu ao seu redor, mesmo que seja milhares de quilômetros distante.
Os números são devastadores. O Brasil está prestes a ultrapassar a marca de 160 mil focos de incêndio em 2024. O número é 104% maior em comparação ao mesmo período de 2023, com quase 78 mil focos. Nos sete primeiros meses deste ano, mais de 5 milhões e 700 mil hectares foram queimados, um crescimento de 92%, em relação a 2023. Mato Grosso, Pará, Amazonas e Tocantins lideram os focos de queimadas. Em Mato Grosso, por exemplo, o aumento chega a 646%, passando de 1400, no ano passado, para quase 10 mil e 700, neste ano.
Com isso, os catarinenses estão se acostumando com paisagens diferentes, com presença da fumaça constante no céu e o sol avermelhado no fim da tarde. Visualmente, a paisagem é até bonita, mas essa beleza superficial esconde um pedido de socorro da natureza, pelas agressões que vem sofrendo na Amazônia e no Cerrado.
Mas para além dos efeitos visuais, a poluição atmosférica traz efeitos à saúde das pessoas. As possíveis consequências são desidratação, agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares, especialmente entre crianças, idosos e pessoas com doenças preexistentes. E por se tratar de um fato novo, não existe um protocolo que alerte as pessoas sobre os cuidados que devem ser tomados, o que amplifica os riscos.
Apesar desse pedido de socorro da natureza, o que se vê até agora é a impotência da sociedade em resolver, ou mesmo atenuar o problema. O governo não consegue dar conta de combater os focos de incêndio e, em boa parte das vezes, sequer identificar os responsáveis.
Estamos totalmente despreparados, simplesmente vendo as áreas verdes queimando e sem fazer nada para evitar. É uma situação dramática, e que exigiria uma resposta mais rápida e contundente não só do governo, mas de toda a sociedade, para que o ar de nossa região, assim como de todo o país, volte a ser puro, sem oferecer risco à saúde da população.