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Editorial: As dez pragas

Nos últimos 65 anos de existência do jornal O Município, nunca se noticiou um conjunto de adversidades impostas a nossa população como agora. Podemos até pensar numa comparação com as dez pragas do Egito. Segundo a Bíblia, elas serviram para contrastar o poder do Deus de Israel com deuses egípcios e aconteciam diante das negativas […]

Nos últimos 65 anos de existência do jornal O Município, nunca se noticiou um conjunto de adversidades impostas a nossa população como agora. Podemos até pensar numa comparação com as dez pragas do Egito. Segundo a Bíblia, elas serviram para contrastar o poder do Deus de Israel com deuses egípcios e aconteciam diante das negativas do Faraó em libertar os hebreus de seu domínio.

Não sabemos, de fato, se as pragas ocorreram como está na Bíblia mas podemos garantir que as atuais são reais e estão nos castigando. Algumas podem ter até uma origem divina, outras da natureza e outras até da própria ação humana. Não são as mesmas daquela época, nem tem a mesma cronologia, vieram com um repertorio novo e simultâneo.

A décima praga do Egito foi a que matou todos os primogênitos de homens e animais. Para nós, a similaridade acontece com o aparecimento da Covid-19, que começou ceifando os mais velhos, mas que foi mudando a sua preferência e agora pode matar qualquer um, de qualquer idade, em qualquer lugar.

Tal qual a quarta praga, ela infestou o ar e ao contrário de vir em formato de moscas veio em um formato de vírus, invisível, mas muito mais letal e complexa.

A nona praga, da escuridão de três dias, se apresenta diferente hoje, com o sol brilhando e uma grande estiagem acontecendo. Ela não transformou a água do Itajaí em Sangue como aconteceu no rio Nilo na primeira praga, mas deixou suas águas rasas e ainda mais poluídas, levando os brusquenses ao racionamento.

E se naquela época as rãs invadiram a cidade na segunda praga, hoje a falta delas permite que o mosquito da Dengue cresça descontroladamente. Ainda não é o mesmo estágio de infestação que ocorreu no Egito na terceira praga, mas já está em quase todos os bairros de Brusque. A doença vem crescendo exponencialmente nos últimos três meses e já contabiliza 36 casos até o início desta semana.

Assim como os hebreus queriam a libertação, nós também estamos rezando para que tudo isso passe logo

A Bíblia descreve as pragas como um embate entre o Deus hebreu e os deuses egípcios. Hoje a briga não tem este ar divino, acontece mesmo entre nossos líderes, que na disputa pelo poder vão dividindo as opiniões. Cada um acha seu candidato o deus certo e do adversário, o errado, tal qual naqueles tempos, provocando um clima instável, capaz de encher de úlceras qualquer cidadão, como aconteceu na sexta praga.

A peste dos animais que ocorreu na quinta praga deixou os egípcios sem mantimentos e provavelmente deve ter influenciando muito o comércio da época. Hoje, por conta da pandemia, nossos empresários também estão vendo seus negócios minguando, com muitas portas já fechadas permanentemente.

Esta crise econômica tem também sua face dramática, levando mais de 860 mil pessoas a praga do desemprego só no mês de abril, conforme publicamos ontem aqui no jornal.

A oitava praga, da invasão de gafanhotos, teve uma variação para os dias atuais. Ela não é formada por insetos e sim por um tipo de pessoa que utiliza da corrupção para se locupletar, mesmo em tempos difíceis. Elas infestam todos os locais, todas as esferas de poder sempre ávidas por uma oportunidade de consumir os recursos alheios.

E para finalizar, não temos nem sinal de uma chuva de granizo como ocorreu na sétima praga. Aliás, não temos sinal de chuva nos últimos três meses. Este clima seco traz um novo fenômeno para Brusque: as queimadas. Só na terça-feira noticiamos a ocorrência de quatro focos simultâneos, que destruíram matas e lançaram fuligens na cidade.

Assim como os hebreus queriam a libertação, nós também estamos rezando para que tudo isso passe logo. Eles tiveram que atravessar o mar vermelho, com uma intervenção divina, para sair do domínio egípcio. Nós também buscamos um milagre de uma vacina ou remédio para atravessar esta quarentena e fugir da dominação da Covid-19. Não seria a solução de tudo, mas já nos daria liberdade e segurança para continuar a jornada.