Editorial: As dores do crescimento
Em muitas fases da nossa vida ouvimos falar nas tais “dores do crescimento”. E quando acompanhamos o desenvolvimento dos filhos (e dos netos), vemos que, com o passar do tempo, crescem as responsabilidades, as dificuldades e, dependendo de como isso é enfrentado e resolvido, as recompensas. As cidades, como os seres humanos e os animais […]
Em muitas fases da nossa vida ouvimos falar nas tais “dores do crescimento”. E quando acompanhamos o desenvolvimento dos filhos (e dos netos), vemos que, com o passar do tempo, crescem as responsabilidades, as dificuldades e, dependendo de como isso é enfrentado e resolvido, as recompensas.
As cidades, como os seres humanos e os animais nascem, vivem, crescem e morrem, conforme seus organismos funcionam
Não é diferente com as cidades, organismos vivos compostos de milhares de habitantes das mais diferentes naturezas e funções. As cidades, como os seres humanos e os animais nascem, vivem, crescem e morrem, conforme seus organismos funcionam. Se estão saúdáveis, terão vida longa, cheia de bons momentos; se adoecem, aumenta o sofrimento e pode surgir um clima de melancolia e desânimo; e se não se nutrem adequadamente, se seu organismo começa a desfalecer e a perder funções, podem morrer mais cedo ou vegetar num coma triste e sem muitas esperanças.
As cidades, como os seres humanos e os animais nascem, vivem, crescem e morrem, conforme seus organismos funcionam
Pode parecer estranho comparar um aglomerado urbano a um organismo vivo. Mas não há exagero nessa analogia. E quem acompanha este nosso O Município irá lembrar-se de reportagens recentes que ajudam a entender melhor por que é importante ver as cidades como o resultado da ação de múltiplos componentes dinâmicos, que assim como podem ajudar a crescer, também podem causar enfermidades que acabam dificultando a vida de todos.
Na semana passada, vimos que está em elaboração o Plano de Mobilidade Urbana de Brusque. Coisa tão importante quanto os exames prescritos pelo cardiologista. Que vias estão entupidas, onde há acúmulo de gordura? Que providências serão necessárias? Talvez um “stent”, ou uma ponte de safena? Mudar o regime alimentar? Tomar algum remédio que ajude o sangue a fluir sem coágulos?
As pessoas precisam ir da casa para o trabalho e para o lazer, os serviços de saúde e os comércios precisam ser acessados sem estresse, as mercadorias precisam circular, os habitantes precisam poder se comunicar com facilidade. Obstáculos, barreiras, gargalos, são muito perigosos e podem levar ao infarto. E não tem como crescer saudável sem prever adequadamente como e onde os novos habitantes e as novas atividades estarão, nessa rede complexa que nos interliga a todos.
Na mesma linha, um ranking da Celesc informa como anda a situação de consumo de energia elétrica no município. Um corpo em crescimento consome muita energia. Quem tem ou teve adolescentes em casa sabe do que estamos falando. As bananas não são mais consumidas em dúzias, mas em cachos, só pra ficar num exemplo. A falta de previsão sobre a demanda futura de energia pode complicar seriamente a vida da cidade: investimentos em ampliação ou crescimento de empresas podem deixar de ocorrer por falta de energia fácil e a preço justo.
E, interligado a tudo isso, lemos que o Sinduscon identificou a construção de 12 novos prédios na cidade, indício de uma verticalização (com o consequente adensamento populacional) que traz benefícios e, também, preocupação. Faz parte, como estávamos falando, das dores do crescimento. Lidar com isso de forma inteligente e previdente, resulta numa vida longa e saudável. Que é o que desejamos para todos nós e, claro, para a nossa cidade.