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Editorial: Atitude imprópria

Na última semana, foi noticiado que, a partir deste ano, as praias de Santa Catarina não contarão mais com as placas indicando se a água é própria ou imprópria para banho. A mudança foi anunciada pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), sob a alegação de “adaptar o sistema de comunicação de acordo […]

Na última semana, foi noticiado que, a partir deste ano, as praias de Santa Catarina não contarão mais com as placas indicando se a água é própria ou imprópria para banho. A mudança foi anunciada pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), sob a alegação de “adaptar o sistema de comunicação de acordo com as novas tecnologias”.

Com a retirada das placas, os banhistas precisarão acessar o portal do IMA para consultar a qualidade da água. O governo alegou ainda que a retirada das placas visa combater o vandalismo que comprometia a confiabilidade das informações, já que muitas placas eram alteradas. As placas agora terão um novo formato, menos indicativo e com a presença apenas de um QR Code, onde o visitante terá que acessar o relatório por meio do celular.

Muitos moradores de Brusque frequentam as praias, que tem um fluxo intenso de turistas nesta época do ano. Essas placas existem há décadas e são uma referência para os banhistas.

A proposta do governo em substituí-las por um QR Code é vendida como uma ação para melhorar a comunicação, mas na prática irá dificultar que a informação chegue ao banhista.

A placa exposta na praia é clara e objetiva, não necessita que a população faça nenhuma ação que não seja ler a informação. No novo modelo proposto pelo governo, será preciso levar o celular, ter o interesse de acessar, pode haver problema de sinal de internet ou mesmo no site onde as informações são armazenadas. Tudo isso será obstáculo ao acesso à informação.

Num primeiro momento, a medida aparenta ser um grande retrocesso. Não há problema em fortalecer a divulgação das informações por meio de novas tecnologias, como o QR Code. No entanto, não se pode simplesmente suprimir as informações mais acessíveis, que estavam nas placas à disposição de todos.

Em Santa Catarina, a questão da balneabilidade é objeto de discussão há muito tempo. A qualidade da água no litoral está piorando ao longo dos anos, e o estado, em que pese tenha grande desenvolvimento em diversas áreas, é carente no saneamento básico.

Todo ano há milhares de casos de viroses, famílias inteiras perdendo às vezes dias de diversão por problemas de saúde. Hospitais e emergências lotados, e turistas assustados com a situação. E isso se explica facilmente: conforme o último relatório, 36,5% dos pontos analisados estavam impróprios para banho.

E o governo não parece tão preocupado com isso. Em vez de atacar a raiz do problema, que é melhorar o saneamento e ter praias limpas, prefere maquiar as informações e escondê-las dos turistas, para que estes não saibam se o local que escolheu frequentar está próprio ou impróprio para banho.

As praias estão doentes, e o governo, em vez de atacar o problema com medicação, decidiu simplesmente esconder o termômetro, para que o diagnóstico não possa ser feito. Dessa forma, o problema central, que é a qualidade da água, deixa de ser discutido, e se cria uma cortina de fumaça com a retirada das placas.