Editorial: Banho com coliformes
Anualmente, muitos brusquenses se deslocam durante as férias ao Litoral catarinense, que atrai turistas do Brasil e do mundo devido às suas belezas naturais.
Esse intenso fluxo de pessoas fez com que o nosso Litoral se tornasse um case de sucesso quando o assunto é valorização imobiliária. Para se ter uma ideia, a cidade de Balneário Camboriú é a que tem o metro quadrado mais caro do Brasil (R$ 11,4 mil), e em terceiro lugar na lista está Itapema (R$ 10,3 mil), conforme os dados atualizados até dezembro de 2022.
Mas todo esse interesse pela natureza e pelo investimento no Litoral de Santa Catarina de nada vale, se não tivermos praias limpas para receber os visitantes.
E nesse quesito, a intervenção humana tem sido nefasta, pois permite sistematicamente a poluição das nossas águas, sem ter o menor cuidado com a preservação desse patrimônio imaterial.
Um dos problemas é que, por muito tempo, o assunto foi tratado como tabu. As informações sobre a balneabilidade das praias eram escondidas o máximo possível, para não denegrir a imagem do nosso Litoral e afastar os turistas.
Mas varrer a sujeira para debaixo do tapete não é a solução. Este ano a situação ficou incontrolável, com surtos de virose causadas por contaminação das águas do mar em diversas cidades catarinenses. Os veranistas deixaram de entrar no mar e o grande número de doentes entupiu o sistema de saúde, com recorde de internações, sobretudo em Florianópolis, capital e cartão postal do estado.
Não é possível admitir que as autoridades continuem a fazer vista grossa para esse tipo de crime ambiental, que ainda é cometido impunemente. Cabe aos órgãos responsáveis, aos prefeitos e ao governador tomarem uma atitude, em vez de continuarem a fazer o de sempre: empurrar o problema com a barriga.
Não é possível admitir que as autoridades continuem a fazer vista grossa para esse tipo de crime ambiental, que ainda é cometido impunemente
A situação é tão caótica que, em vez de anunciar medidas para mitigar a poluição do mar, ou seja, tratar a causa do problema, o governo estadual decidiu maquiar os efeitos, aumentando a frequência das coletas feitas nas águas.
Na teoria, a justificativa do Instituto do Meio Ambiente (IMA) é de que “o aumento de frequência traz uma resposta mais precisa e rápida das condições sanitárias da praia à população”. Na prática, sabemos que se trata de uma tentativa de diminuir a perda de credibilidade sanitária das praias do estado.
No mesmo sentido, outro engano é perpetuado pelas placas informativas, que apontam praias como “próprias” para banho, mas que na verdade estão sujas iguais às outras.
O fato de estar “dentro do limite” aceito pelos parâmetros do instituto nem de longe significa estar livre de dejetos. Cria-se uma falsa percepção de que está tudo em ordem, quando a realidade é o contrário.
Portanto, deveria haver muito mais rigor nessa fiscalização, principalmente das prefeituras do Litoral, que não olham o assunto com a devida seriedade e pró-atividade, pois têm atitudes tão turvas quanto as águas que eles permitem desembocar no mar.