Editorial: Brusque e os 200 anos da imigração alemã
Nesta semana é celebrado o bicentenário da imigração alemã no Brasil, marcado pela chegada dos primeiros imigrantes a São Leopoldo (RS). O jornal O Município publicou reportagem especial no qual relata a saga desses pioneiros, que mais tarde viriam a se estabelecer na região de Brusque e Guabiruba, onde fixaram raízes e mantém descendentes até […]
Nesta semana é celebrado o bicentenário da imigração alemã no Brasil, marcado pela chegada dos primeiros imigrantes a São Leopoldo (RS). O jornal O Município publicou reportagem especial no qual relata a saga desses pioneiros, que mais tarde viriam a se estabelecer na região de Brusque e Guabiruba, onde fixaram raízes e mantém descendentes até hoje.
Também em alusão ao bicentenário, o Clube Filatélico Brusquense lançou nesta quinta-feira dois selos postais personalizados, impressos pelos Correios, para registrar o aniversário do momento histórico. O lançamento oficial ocorreu no museu Casa de Brusque. Os selos retratam a chegada dos primeiros imigrantes em Brusque, e também o veleiro Argus, responsável por trazer a primeira leva de alemães para o Brasil.
É salutar e importante relembrar e manter essa tradição, porque quando se vive o dia a dia, pode se ter a impressão de que tudo que vemos na cidade surgiu como em um passe de mágica. Mas, na verdade, tudo foi conquistado e realizado aos poucos, por muitas pessoas, com muitas influências, sobretudo a da colonização alemã.
Naturalmente, ainda há muitas pessoas que cultivam essa cultura e essa tradição. Algumas marcas da colonização alemã se mantém, apesar do tempo: o apreço pelo trabalho, a culinária, as festas e costumes.
Mas é perceptível que muitas destas tradições vão paulatinamente se perdendo. Hoje, quem for aos supermercados procurar produtos tradicionais da culinária alemã, por exemplo, como o repolho roxo em conserva, o chucrute, o Spätzle e até o salsichão (Bockwurst), não vai encontrar tão facilmente. Teoricamente, são comidas tradicionais, que deveriam ser acessíveis em nossa região.
Outro exemplo é a língua alemã, que é pouco falada no município. Durante um longo tempo, era praticamente o idioma oficial no dia a dia, até que o nacionalismo defendido pelo ex-presidente Getúlio Vargas estipulou proibição ao uso do idioma, em meados de 1939, desestimulando seu aprendizado. Como resultado, hoje há dezenas de escolas que ensinam o inglês, e poucas dedicadas ao alemão.
Há, no entanto, iniciativas louváveis, como a do colégio Cônsul, que mantém o ensino do idioma em seu conteúdo, e também da Prefeitura de Guabiruba, que promove eventualmente cursos gratuitos da língua. São iniciativas interessantes para tentar retomar essa cultura que foi se perdendo durante o processo histórico.
A vestimenta típica, da mesma forma, é vista com muito mais intensidade em outras festas alemãs do que em Brusque. Ela é utilizada somente uma vez por ano, na Fenarreco, e ainda sim quando é estimulada. Não se vê o uso em qualquer outro momento. Além disso, o uso da roupa ainda é tabu para muitas pessoas, que não se sentem à vontade de serem vistas em público com o traje típico.
Esses exemplos servem para ilustrar o fato de que, se não houver um esforço constante de resgate das tradições, com o tempo elas se perderão.
Nesse contexto, é preciso parabenizar pessoas como Rosemari Glatz, reitora da Unifebe, que ajudou o Jornal na publicação do especial de ontem sobre a imigração e Jorge Paulo Krieger Filho, do Clube Filatélico Brusquense, que fez um belíssimo e prestigiado evento no lançamento do selo. Eles, assim como tantos outros, são entusiastas da história de Brusque e se dedicam a manter viva essas memórias, primordiais para estabelecer a identidade cultural do município.